Entrevista

por Orson Peter Carrara

A didática da contação de histórias

Artista formada pelo SENAC de Araraquara (SP) e vinculando-se à Casa de Fraternidade Chico Xavier, onde atua como coordenadora da Evangelização Infantil, Nerita Aparecida Vieira Pio (foto), nossa entrevistada, nasceu em Araraquara, no interior do estado. Nesta entrevista, ela traz aos leitores sua experiência com a contação de histórias, facilitando o entendimento dos ensinos trazidos pelo Evangelho e pelo Espiritismo, com vistas à construção de um mundo melhor.

Como surgiu seu interesse pela contação de histórias?  

Desde a infância o mundo da imaginação me fascina, gostava de ler, de ouvir histórias, de teatro, cinema e de tudo aquilo que me fizesse fugir da realidade em que vivia. Meus pais viviam brigando e lidávamos com muitas dificuldades financeiras e emocionais. Morava praticamente ao lado da Biblioteca Municipal de Araraquara e também da Instituição Senac Araraquara, então, nos momentos em que eu queria me desligar da realidade, era nos livros e no contato com outras pessoas que encontrava alegria e a certeza de onde queria estar. Gostava de ouvir as histórias dos alunos enquanto estavam no intervalo entre uma aula e outra, na cantina era onde mais gostava de estar, tornando-me uma criança presente naquele ambiente de ensino. Pensava que eu também pudesse, um dia, com a ajuda das histórias, aliviar outras pessoas que, assim como eu, queriam uma vida diferente.

Qual é, na atividade, a principal técnica? 

Entrar realmente no mundo da fantasia, estar no personagem, viver intensamente tudo aquilo que a história oferece, envolvendo-se com ela, não tendo medo de usar a criatividade e utilizando objetos, figurinos e cenários. Abusar da expressão corporal, da entonação e da voz, manter contato visual com os ouvintes, gostar de ler, de conversar e não ter vergonha de se expor, ter uma boa dicção, gostar de inovar, não ter medo de errar e ter sempre em mente que suas palavras terão uma importância enorme, pois darão vida aos pensamentos de um autor e, assim, motivar mudanças significativas tanto para as crianças quanto para os adultos.

E qual a principal dificuldade? 

A adultização das crianças. A criança com comportamento adulto acaba deixando de viver a infância, que é uma fase muito importante para sua vida. Ela deixa, então, de brincar e de participar de momentos como nas histórias por achar que está "pagando mico". 

É mais fácil, nessa atividade, lidar com crianças ou com adultos? Fale-nos sobre essa experiência.

Contar histórias é mágico e encantador! Gostoso ver os olhinhos brilhando e o sorriso estampado no rosto daqueles que gostam de sonhar e acreditam que tudo é possível. Como disse anteriormente, muitas crianças deixam de viver a infância pulando etapas importantes para o desenvolvimento emocional e intelectual que nos é necessário nesse período; ficam introspectivas, ligadas mais aos celulares e à internet. Mas ninguém escapa de uma história bem contada, e quando se faz com amor e verdade os adultos voltam a ser crianças e, por sua vez, a criança reconhece seu lugar no mundo. 

Normalmente se agregam à atividade vestimentas e outros utensílios. Ela pode ser equiparada de alguma forma com a arte teatral ou elas se completam?  

Elas se completam. É bom que o contar seja realizado de forma teatral, mas teatralidade não quer dizer teatro. A contação de histórias na linguagem teatral é um recurso indispensável. O uso de cenário, figurino, maquiagem e sonoplastia são de extrema importância. O que os torna distintos é a forma de interação com o público; no teatro, você não interage muito com ele e na contação o artista é mais intimista.

Você atua como voluntária nas atividades espíritas e também profissionalmente em eventos variados. Para os interessados, qual seu contato? 

Atuo profissionalmente em escolas, instituições, eventos corporativos, festas infantis, hospitais e clubes. Ministro oficinas de histórias e de teatro, aula-espetáculo e apresentações artísticas para públicos de diferentes faixas etárias e classes sociais, sempre com o objetivo de resgatar a criança esquecida dentro de nós, incentivar a leitura, estimular a interação, a socialização e a imaginação. Sempre que possível faço alguns trabalhos sociais religiosos ou não, conforme a agenda profissional. Para contatar-me, clique em https://bit.ly/2VrZo8X ou então me escreva: neritapio@gmail.com

De suas lembranças, o que mais lhe chama atenção? 

O olhar e o sorriso daqueles que me ouvem e, claro, o abraço caloroso que recebo após cada apresentação. 

Na atividade espírita ou na realizada profissionalmente, como é atuar na contação de histórias?

Trabalhar com a arte sendo com histórias ou teatro me traz serenidade, aconchego, plenitude e momentos de reflexão comigo e com tudo aquilo que me cerca. Com as histórias eu aprendi a confiar, a perdoar e a não desistir daquilo em que acredito. Desde 1997 atuo como trabalhadora na evangelização espírita infantil usando a expressão artística e o lúdico para falar de Jesus e de seus ensinamentos. Acredito pela experiência adquirida que o aprendizado tem sido positivo, além de prazeroso.

Suas palavras finais.

Existe um mundo colorido que precisa ser contado, e por trás desse mundo existe um trabalho minucioso que precisa ser conhecido e valorizado, e nós, enquanto educadores, devemos buscar e incentivar para que esta magia permaneça dentro das escolas e fora dela também.   

 

Nota da Redação:

Para os leitores não acostumados ao vocábulo contação, de uso bem recente nas lides espíritas, esclarecemos que contação designa o ato ou efeito de contar. Exemplo: contação de histórias.

 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita