Desigualdade das riquezas: Kardec errou?
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo
XVI, Kardec apresenta belas ideias em torno das
desigualdades das riquezas, elencando três causas
fundamentais para esse fenômeno social tão lamentável.
A primeira delas encontra-se nas próprias diferenças
existentes entre os indivíduos: nem todos são igualmente
inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem
sóbrios e previdentes para conservar, afirma o
codificador. E acrescenta que se toda a riqueza da Terra
fosse dividida igualmente para todas as pessoas, feita
essa divisão, o equilíbrio estaria desfeito em pouco
tempo, pela diversidade dos caracteres e aptidões.
A necessidade de os Espíritos viverem experiências
corpóreas diferentes e conseguirem as coisas pelo
próprio esforço seria uma segunda causa. Lembra Kardec
que são necessárias as provas da pobreza e da riqueza
para que os seres espirituais desenvolvam habilidades
diferentes: resignação, perseverança, desprendimento,
compaixão etc. são virtudes que serão construídas
paulatinamente nas diferentes experiências, ora na
abundância, ora na escassez.
E, finalmente, a terceira causa das desigualdades: o
egoísmo e a ganância humana, levando os homens a
cometerem toda sorte de abusos, em detrimento daqueles
que, por limitações intelectuais, familiares e
culturais, não possuam os mesmos recursos para terem
acesso aos bens da Terra.
No entanto, no texto em exame, nos causa espécie a
seguinte afirmação de Kardec: é ponto matematicamente
demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade,
daria a cada um parcela mínima e insuficiente. O
sociólogo Domenico de Masi comenta em seu último livro
– O mundo ainda é jovem – que, segundo dados
financeiros confiáveis, se dividíssemos igualmente a
riqueza produzida, bastaria para assegurar o bem-estar
de todos. Organizações financeiras internacionais
validam uma medida-padrão de avaliação da riqueza: o
Produto Interno Bruto per capita, obtido dividindo-se a
riqueza de um país pelo número de habitantes. Pois bem,
se dividíssemos o PIB mundial, ou seja, toda a riqueza
do mundo (cerca de 80 trilhões), pelos 7,4 bilhões de
habitantes da Terra, daria para cada indivíduo cerca de
10 mil dólares por ano, ou seja, 45 mil reais, o que
daria para que todos vivessem dignamente.
No entanto, Kardec afirmou algo diferente, segundo
mostramos anteriormente. Será que ele se equivocou?
Acredito que não! Kardec faz essa afirmativa com base na
realidade de sua época, em meados do século XIX.
Informa-nos Steven Pinker, na obra O novo Iluminismo,
que, em virtude do notável desenvolvimento tecnológico,
ficamos muito mais ricos, pois o PIB mundial cresceu cem vezes
de meados do século XIX até nossos dias, enquanto a
população mundial aumentou apenas sete vezes.
Possivelmente, àquela época, tal afirmação de Kardec
fosse pertinente, não se mostrando mais em nossos dias.
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