Entrevista

por André Ribeiro Ferreira

Que não nos percamos da essência da vida

A frase acima é de autoria de Carla Vieira Gonçalves Abreu (foto), nossa entrevistada de hoje. Natural de Brasília (DF), onde reside, ela participa desde os 13 anos de idade das atividades do Grêmio Espírita Atualpa Barbosa Lima, uma das mais antigas instituições espíritas da capital do Brasil. Espírita desde a infância, iniciou sua participação espírita na área de evangelização infantil e, em seguida, no Departamento de Infância e Juventude, que dirigiu por cerca de dez anos. Integrada depois em diferentes áreas de trabalho da citada Casa Espírita, é a atual dirigente do Departamento de Estudos Doutrinários, cuja história e atuação é um dos assuntos por ela tratados na entrevista seguinte.

Na sua percepção, qual a importância da arte para a Casa Espírita?

Conforme a minha experiência, posso dizer que a arte na Casa Espírita vai muito além de ser mais um meio de comunicação. Ela é agregadora, inclusiva e atrai muitos frequentadores, os quais, muitas vezes, começam suas atividades na doutrina espírita por meio dessa porta. Vejo a arte espírita como um caminho para aproximar principalmente os mais jovens. Foi assim na minha época de juventude, e até hoje não perdemos a oportunidade de uma boa cantoria, de um sarau, de poesias e da arte de encenar.

Conte-nos sobre a história do Departamento de Estudos Doutrinários do Grêmio Espírita Atualpa Barbosa Lima.

Em 1983, a Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita foi lançada em nível nacional pela Federação Espírita Brasileira. Em 1989, a implantação do ESDE aconteceu em nossa Casa sob a coordenação de Solange Vaz dos Santos, com duas turmas: Princípios Básicos da Doutrina Espírita e Programa I do ESDE, contando com a colaboração dos confrades Samuel Nunes Magalhães, André Ribeiro Ferreira, Wilson José Rodrigues Abreu e outros trabalhadores do Atualpa. Em 1992 o Estudo Sistematizado (ESDE) passou a ser coordenado por mim, posição que ocupo até o presente ano de 2020 com a permissão dos dirigentes encarnados e, sobretudo, com o aval da espiritualidade que nos dirige.

Ao longo dos anos, fomos criando novas possibilidades para estudar e atender, na medida do possível, às necessidades dos frequentadores e trabalhadores da Casa. Assim, em 1997 criamos um grupo de estudo das obras de André Luiz sob a responsabilidade de Flávio Bastos e Adolfo M. Cavalcante. Em 1999 houve a criação do ESME (Estudo e Educação da Mediunidade). Já sentíamos a necessidade de um estudo voltado para os frequentadores das reuniões mediúnicas. Assim, com a grande ajuda do confrade Luís Albano Freitas Alves, demos início ao trabalho que contava com duas turmas de estudos inicialmente.

No mesmo ano, sentimos a necessidade de implementar a Oficina de Artes, a qual acontecia no mesmo horário do ESME. A maioria dos frequentadores, assim como eu, precisava de alguma atividade para envolver nossos filhos, já que muitos de nós, participantes do estudo, não tínhamos com quem deixá-los. Então foi criada essa atividade, que ficou sob a responsabilidade de Maria Ângela Viotti Saul Alves e que, aos sábados, surgia com atividades artísticas diversas para envolver a garotada.

Como não poderia ser diferente, em 2001 foi criado o ESE (Estudo Sistematizado do Evangelho). A necessidade de estudar as lições consoladoras do Evangelho trouxe um modelo diferente dos outros grupos de estudo da Casa, pois nesse grupo as pessoas interessadas em participar podem iniciar a qualquer momento o seu ingresso, sem a necessidade de inscrição prévia, como é o caso do ESDE.

À medida que o DED (Departamento de Estudos Doutrinários) se consolidava em nossa Casa, o interesse e a necessidade de aprender também cresciam.

Que atividades complementares normalmente são desenvolvidas pelo Departamento de Estudos Doutrinários?

Novos trabalhos ligados ao estudo foram tomando corpo: estudos sobre o passe, cuja primeira turma foi coordenada por Gilberto Augusto da Silva em 1990, e hoje acontece anualmente, no segundo semestre, como ferramenta de auxílio aos passistas. Hoje, coordenam o trabalho: Wilson J. R. Abreu, Ricardo Honório e João Henrique Ferreira. Seguindo as orientações da FEB, em 2006 implementamos o Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita (EADE) sob a coordenação de Paulo de Tarso Pereira Viana.

No ano seguinte, 2007, criação do Cine DFD, hoje Cine Atualpa, para juntarmos o útil ao agradável, sempre buscando o entendimento mostrado na arte pelas explicações doutrinárias. E, na caminhada rumo à nossa evolução e à evolução do planeta Terra, em 2011 foi criado no Atualpa um programa que batizamos de PEACE (Programa de Educação Ambiental na Casa Espírita), sob a responsabilidade de Carolina Gonçalves Abreu e Cláudia Saldanha de Oliveira Topan, ambas biólogas de formação.

Nesses 9 anos de programa tivemos a oportunidade de abordar temas como: Ecologia e Espiritismo (2011), Quem é meu próximo? (2012), Destinação de Resíduos Sólidos (2013), Lixo Extraordinário (2014), Necessário e Supérfluo (2015), Alimentação Saudável; Alimento do Corpo e do Espírito (2016), Crise Hídrica (2017), A Hora Onze: Última Chamada para a Mudança de Rumo (2018), Sustentabilidade e Justiça Social (2019). Todos esses temas foram desenvolvidos à luz da doutrina espírita, convidando a cada um de nós à reflexão e à mudança de conduta.

A quem gostaria de agradecer nesta sua trajetória?

Gostaria de falar um pouco da nossa história e assim, dentro desse contexto, agradecer. Falar de nossa trajetória é recordar, como faço agora, momentos incríveis nessa Casa abençoada. Católica inicialmente, vim para o Espiritismo aos 8 anos de idade por conta de abençoada mediunidade que, pela falta de esclarecimento do assunto, nos fez buscar, primeiramente, a ajuda dos médicos da Terra para só depois entendermos o que realmente se passava comigo. Fui trazida por minha mãe, Pureza Maria Vieira Gonçalves, ao GEABL e recebida pelo senhor Hilpert Doellinger Viana, fundador da Casa que se tornou, para mim, um espírito protetor, um anjo a me conduzir na seara espírita. Aqui cresci, me formei, casei, tive quatro filhas queridas e ganhei vários irmãos, tios, e sobrinhos do meu coração.

Os meus amigos de infância e adolescência ainda caminham comigo nessa trajetória, inclusive no Departamento de Estudos, e é à essa “gente querida” (como costumo chamá-los) que faço o meu agradecimento especial, aos amigos mais antigos e aos mais recentes, mas não menos importantes: Biana Vieira Gonçalves, também irmã consanguínea, Edivaldo Peçanha de Oliveira, Lucimar Vieira Gomes, Daisy Castellano, Sandra Maria Cortêz, Solange Vaz dos Santos, Alexandre Bittencourt, Catharino dos Anjos, Paulo de Tarso Pereira Viana, Fernando Viana, Luiz Afonso, Carolina Gonçalves Abreu, Cláudia S. O. Topan e todos os demais colaboradores que, com dedicação e alegria, somam para que o trabalho do estudo evangélico aconteça no Atualpa. Não podendo deixar de agradecer à presidente Lenira Pereira Viana e à diretoria do GEABL pela confiança e pela oportunidade do trabalho no bem na seara de Jesus.

Suas palavras finais para os nossos leitores...

Por fim, lembrando Joanna de Ângelis, “A proposta essencial da vida é a conquista do deus interno que jaz no íntimo, aguardando”. Que não nos percamos da essência da vida. Sem sombra de dúvida, o conhecimento que o estudo nos proporciona nos põe em contato com esse deus interno, fazendo valer cada segundo da oportunidade de estarmos vivos. “Vamos estudar!” –frase que sempre utilizo após a preparação do ambiente.

 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita