O caso
Jair Presente: como surgiu o cronista do Além
|
No dia 3 de fevereiro de 1974 faleceu o jovem Jair
Presente, 24 anos na época, vítima de afogamento nas
águas de uma represa.
Filho de José Presente e Josefina
|
Basso e irmão de
Sueli, Jair nasceu no ano de 1949 em Campinas (SP) e
cursava o quarto ano da Faculdade de
Engenharia Mecânica na
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na época do
óbito. |
|
Apenas quarenta dias depois, em 15 de março, ele
escreveu pelas mãos de Chico Xavier a primeira de cinco
mensagens que compõem o livro Jovens no Além,
publicado pela editora da FEESP,
|
dando inícioassim a
uma série de livros de sua autoria psicografados pelo
saudoso médium. |
Na 1ª mensagem, Jair diz que tinha a mente nublada e que
sofria muito com a atitude de seus pais em face do seu
falecimento. “As lágrimas dos meus queridos me prendem”,
informou o jovem comunicante.
Eis na íntegra o que Jair Presente escreveu:
“Meu pai, minha mãe, minha querida Sueli, peço-lhes
calma, coragem.
Não estou em situação infeliz, mas sofro muito com a
atitude de casa. Auxiliem-me. É tudo, por agora, o que
lhes posso dizer. Tenho a mente nublada. Consigo
entender muito pouco aquilo que se passa em torno de
mim. As lágrimas dos meus queridos me prendem.
Que há, meu Deus?
Não pensem que desapareci para sempre. Estarei, porém,
com vocês na condição em que estiverem comigo. Fortes,
me fortalecerão. Desanimados, me farão esmorecer.
É muita coisa para observar, entretanto, não posso
ainda. Creio apenas que perder o corpo mais pesado não é
desvencilhar-se do peso de nossas emoções e pensamentos,
quando nossos pensamentos e emoções jazem nas sombras da
angústia.
Eu encontrei muito amparo, mas a não ser o meu avô Basso,
a quem me ligo pelo coração, não tenho ainda memória
para funcionar aqui; minha faculdade de lembrar está com
vocês, assim à maneira de um balão escravizado.
Ajudem-me. Preciso ver e ouvir aqui para retomar-me como
sou.
As vozes de casa chegam ao meu coração e, como se
continuássemos juntos, vejo-os no quarto, guardando-me
as lembranças como se devesse chegar a qualquer
instante. E o meu pensamento não sai de onde me prendem.
Agradeço, sim, o amor em suas lágrimas. Agradeço o
carinho em suas preces, mas venho pedir-lhes para
viverem. Viverem! E viverem felizes, porque assim também
serei feliz.
Esqueçam o que sucedeu, ninguém me prejudicou, ninguém
teve culpa. Mal sabia eu que um passeio domingueiro era
o fim da resistência física.
O coração parou, ao modo de um motor, de que não se
descobre imediatamente o defeito. Sou eu quem deu tanto
trabalho aos amigos. Notei quando me chamavam, quando me
abraçavam, massageavam e me faziam quase respirar sem
conseguir.
Agradeço por tudo. Depois foi o sono, um sono profundo,
do qual acordei para chorar com o pranto de meus pais e
de meus afetos mais queridos.
Sueli, acalme-se e auxilie os pais queridos. Nada de
lamentações e reclamações.
Deixei o corpo num domingo, sem extravagâncias
quaisquer. Há quem pense em drogas quando se deixa a
vida física assim qual me sucedeu. Mas não havia drogas,
nem abuso da véspera. Estávamos sóbrios e brincávamos à
maneira de pássaros descuidados. Em qualquer lugar que
me achasse, a queda de forças seria a mesma.
Estou saudoso de tudo, dos familiares queridos, dos
companheiros, dos estudos e das aulas; entretanto,
espero sarar e refazer-me. Para isso você, meu querido
pai, e você, querida mãezinha, são as alavancas de que
preciso para me levantar.
Aqui comigo estão o meu avô Basso e um coração de
benfeitora a quem chamo Irmã Elvira. Estou bem, mas é
preciso melhorar. Encaremos a vida como deve ser a vida
perante Deus e esperemos o futuro melhor. Creiam que
estou fazendo muita força para não me acovardar.
Não posso aumentar-lhes os sofrimentos.
Agora, é o momento de pensarmos na fé, na fé viva que
nos ergue o pensamento para a Vida Maior. Abençoem-me e
ajudem-me.
Lembrem-me estudando e não morto, porque a vida não
admite a morte. Por hoje nada mais consigo descrever.
A garganta, como se eu fosse falar, está constrangida, e
as lágrimas estão contidas, a ponto de rebentar. Quero
confiar em Deus e em vocês e por isso termino, com um
abraço, deixando aqui a vocês aquele beijo de todos os
dias, rogando a Deus para que nos fortaleça e nos
abençoe.
Jair Presente.”
Após a mensagem acima, Jair manifestou-se pelo saudoso
médium por mais quatro vezes no período de um ano. A 5ª
mensagem foi psicografada em 29 de março de 1975, como o
leitor pode conferir consultando o livro Jovens no
Além.
Pouco tempo depois – em 19 de julho de 1975 – Jair
Presente voltou a comunicar-se, fato que se repetiu em
novembro de 1975 e fevereiro de 1976.
|
As três mensagens
foram incluídas no livro Somos Seis, publicado
pela Editora GEEM.
Nota-se nas mensagens de Jair Presente, a partir de
1975, um estilo mais informal e recheado
|
de gírias.
Consultado a respeito disso, Chico Xavier explicou que,
segundo lhe disseram Jair Presente e Augusto
César Netto, um dos autores de ambos os livros, a forma
por eles adotada era o
melhor meio de comunicação nas faixas etárias a
que ainda se vinculavam. |
Os anos passaram, mas Jair Presente continuou sua tarefa
no intercâmbio entre mortos e vivos, do que resultaram,
de 1984 a 1993, sete livros por ele assinados, além de
mensagens esparsas publicadas em outras obras de Chico
Xavier.
Eis os livros a que nos referimos:
1. Loja
de Alegria
2. Bazar
da Vida
3. Agência
de Notícias
4. Ponto
de Encontro
5. Palco
Iluminado
6. Rapidinho
7. Revelação.
Quarenta anos depois da
publicação da 1ª mensagem de Jair Presente, um grupo de
pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora,
em parceria com a Universidade de São Paulo, divulgou um
estudo publicado na revista científica Explore,
cuja conclusão foi pela veracidade das mensagens, ou
seja, de 99 itens de informação – afirmações específicas
como nomes e fatos relatados – selecionados pelos
pesquisadores, 97 foram comprovados como verídicos. Do
grupo participou o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida,
bem como os pesquisadores Alexandre Caroli Rocha e
Denise Paraná. (1)
(1) Sobre
o assunto veja a reportagem “Veracidade em cartas
mediúnicas é comprovada”, publicada na Tribuna de
Minas. Para acessar, clique
aqui