Não à discriminação
Para se libertarem dos preconceitos, os homens precisam
antes de tudo viver numa sociedade livre.
N. Bobbio
Já presenciei preconceito infantil. Sim, crianças que
discriminam, principalmente quando estão diante de um
colega portador de deficiência, com óculos, aparelho nos
dentes etc. Mas qual é o papel do adulto na educação de
uma criança sem preconceito?
Casa e escola são ambientes que influenciam fortemente o
comportamento da criança. Considerando a realidade
brasileira, é um grande desafio orientar os filhos para
que não cresçam preconceituosos. O trabalho diário, sem
dúvida, exige conversas pontuais, esclarecimentos sobre
o que é discriminação, quando ela ocorre e por que ela é
cruel, desrespeitosa, criminosa, perante as pessoas.
Em casa, o que funciona sempre é o exemplo. É crucial
ter coerência entre o que falamos para as crianças e a
maneira como agimos, como nos comportamos em frente das
pessoas e das coisas. Se queremos crianças livres de
preconceitos, temos que vigiar com atenção a nossa
atitude em relação às diferenças, nossa compreensão
sobre gênero, religiões, etnias, profissões etc. E caso
nos deparemos com nossos próprios preconceitos, a
atitude inteligente supõe enfrentá-los a fim de nos
depurarmos dessas opiniões errôneas, desses estereótipos
irracionais, que só causam atraso e sofrimentos.
Diálogo é muito importante. Prestar atenção nos
comentários dos filhos. Às vezes, eles rotulam um colega
de “chato”, de “diferente”. Aproveitar essa oportunidade
para corrigir, esclarecer, frisar a importância de
mostrar respeito pelas pessoas. Reforçar, portanto, que
o respeito antecede as preferências.
Filhos muito protegidos tendem a crescer com visão
estreita. O ideal é permitir que a criança não estude em
uma única escola ou participe apenas do condomínio, da
casa dos primos. Conhecer lugares frequentados por
pessoas diferentes, ler livros sobre outras culturas,
países, idiomas, visitar exposições, parques, mostrar à
criança que o mundo é vasto e é a diversidade que o
torna rico e interessante.
Por fim, quanto maior a exposição ao mundo, com mais
naturalidade a criança vai encarar as diferenças e, com
isso, crescerá (mais) consciente e responsável acerca de
seus direitos e deveres na sociedade, ajudando o mundo a
ser um lugar melhor e de paz.
Notinha
De acordo com diversos estudos e pesquisas, o tipo de
preconceito mais frequente no Brasil é o racial. E o
problema do racismo brasileiro é antigo: tem início por
volta do final do primeiro século de colonização, quando
os portugueses notaram a impossibilidade de escravizar
os índios. O negro, então, foi trazido à força para o
país, para servir de escravo nas plantações de cana de
açúcar. Independentemente da miscigenação, o negro e os
mestiços sempre foram discriminados socialmente no
Brasil. A própria legislação brasileira, durante quase
500 anos, incentivou a discriminação e o preconceito.
Nem após a abolição da escravatura e a proclamação da
República, o negro deixou de ser discriminado. Só em
1988, com a promulgação da Constituição que está em
vigor (art. 5º - inciso XLII), a prática do racismo
passou a ser considerada um crime inafiançável e
imprescritível, felizmente.
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