Razão e consolação
Enaltecemos o Codificador, pela habilidade em
reunir as vozes espirituais dos Altiplanos
celestiais, que nos revelaram sobre os mistérios
da vida e do bem viver. Mas sem imergirmos com
profundidade no seu proceder, através do estudo
biográfico, não compreenderemos em completude, a
importância de seus feitos.
A fim de não se deixar contaminar pela
incompreensão de muitos, Kardec aceitou em sua
vida a prescrição de altas doses de disciplina.
Foi esse remédio amargo o responsável pela
acurácia na interpretação e seleção dos melhores
conteúdos, que compõem o códice da doutrina dos
Espíritos. Mas o seu maior mérito para evitar um
estoicismo de pensamento que pudesse advir da
disciplina, foi aplicar as lições evangélicas em
seu dia a dia, fazendo com que a sua alma
sorvesse os valores morais da doutrina,
testando, em si mesmo, a verdade do receituário
amoroso de Jesus.
Ele se tornou convicto de que aquelas
informações iriam consolar, pois foi o primeiro
a ser consolado, por cada uma delas...
Fizemos essa introdução, porque percebemos
corações repletos de boa intenção na tentativa
de consolar o semelhante, mas, muitas vezes, sem
sucesso. É verdade que, caso o próximo não
queira se tornar poroso às informações
recebidas, invariavelmente, elas não lhe serão
apreendidas; mas também é verdade que muitos
irmãos, conhecedores da doutrina, não conseguem
sair do racional, das lições e versículos
decorados, e atingir o coração dos seres. Irmãos
desencarnados que são trazidos pela
espiritualidade para se comunicarem em sessões
mediúnicas não conseguem ser consolados porque,
no diálogo fraterno, o encarnado que explana lhe
explica conhecimento, mas não lhe transmite
amor.
Palavras são ditas em palestras, e obtêm
aplausos emocionados ao final. Mas passado o
efeito que o encordoamento das palavras precisas
causa nas mentes, nada que acalente resta de
verdade no coração, como verdadeiro estímulo à
mudança.
Vamos invariavelmente às Casas de Oração para o
trabalho e a confraternização sadia. Mas ainda
acreditamos que o solo consagrado ao amor é
compartimentado. Ao sairmos de lá, nos abstemos
das boas condutas, acreditando que doar a um
estranho possa valer mais que doar a um
familiar, carente de paz e carinho.
A luz, portanto, fica retida, não por alguma
inverdade sendo dita, mas pelo monturo que o
saber sem obras deixa como impedimento no
coração de quem o transmite.
É preciso o testemunho e simplicidade na rotina
de nossas vidas, para que a verdade do evangelho
floresça com toda a pujança, às multidões. Os
tempos são chegados, e o brilho da candeia de
Jesus tem força para iluminar nossas casas, as
vizinhanças e o mundo inteiro. Mas Ele nos chama
ao testemunho dessa compreensão para,
eficazmente, confortar as pessoas.
Cientes de que não sabemos ainda agir com o
Mestre, nada nos impede, de ansiar tê-lo, como
exemplo de vida. Seu Espírito perfeito nos
mostrou, em inúmeras ocasiões, a potência
transformadora de um estado interior em
harmonia.
E se Jesus nos parecer muito distante, lembremos
de nosso codificador que, compreendendo
racionalmente a respeito das leis universais,
nunca se esquivou de amar sua esposa e amigos,
de escrever, sob o tremular da vela e da fiel
caneta tinteiro, longas cartas de consolo e
esclarecimento, de se dedicar a perdoar todos
aqueles que lhe teciam calúnias, e que muitas
vezes vieram a precisar de seu apoio consolador,
quando a pedagogia da vida lhes recaiu sob forma
de dor.
O meu ser dizendo ao outro que nossas dores são
parecidas, mas, principalmente, procurando pela
transformação íntima constante, é a postura de
um consolador. O evangelho, a vida do Mestre, a
vida de Kardec, de todas as pessoas que
confortam nossas almas, e que puderem ser
lembradas nesse instante, exalam o perfume dessa
radiante luz interior.
Que possamos com alegria nos empoderar em
espírito, da sofisticação contida na
simplicidade para assim, além de deixar uma boa
lembrança, consolidar princípios, confortar
corações e ajudar, realmente, a humanidade.