Num dia como hoje nascia Edgard Armond
O conhecido líder e estudioso do Espiritismo foi uma
presença marcante no movimento espírita brasileiro,
especialmente no estado de São Paulo, por suas obras e
pelo serviço prestado, de modo especial, à Federação
Espírita do Estado de São Paulo.
Edgard Pereira Armond nasceu em Guaratinguetá (SP) em 14
de junho de 1894 e desencarnou na capital paulista em 29
de novembro de 1982, aos 88 anos de idade. Militar,
maçom, professor, escritor e um dos grandes estudiosos
do Espiritismo, foi responsável pela implantação da
Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP), a que
serviu por mais de três décadas.
Na FEESP sistematizou o estudo da doutrina em termos
evangélicos e estabeleceu cursos para auxiliar o
desenvolvimento de médiuns. E foi, também, pioneiro do
movimento de unificação, tendo lançado a ideia de
criação da União das Sociedades Espíritas (USE).
Antecedentes familiares e juventude
Filho de Henrique Ferreira Armond e de Leonor Pereira de
Souza Armond, ambos de Minas Gerais, os antepassados da
família remontam a fidalgos franceses huguenotes,
expatriados durante as perseguições religiosas motivadas
por Catarina de Médicis a partir da Noite de São
Bartolomeu, de triste lembrança.
Nesse período, os Armonds refugiaram-se em Amsterdã,
Holanda, dedicando-se ao comércio e transferindo-se
depois para a ilha da Madeira, de onde emigraram para o
Brasil em meados do século XVIII, quando se fixaram em
uma sesmaria recebida da Coroa Portuguesa, entre Juiz de
Fora e Barbacena, onde estabeleceram a primitiva Fazenda
dos Moinhos.
Em Guaratinguetá (SP) fez os cursos primário e
secundário, transferindo-se para São Paulo em 1912, aos
18 anos de idade, e no mesmo ano para o Rio de Janeiro,
onde, além de ingressar no comércio, prosseguiu seus
estudos.
A carreira militar
Aos 20 anos, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial,
retornou para São Paulo, alistando-se em 10 de maio de
1915 na Força Pública do Estado de São Paulo, como praça
de Pré. Em 1916, ingressou na Escola de Oficiais, como
1° Sargento, saindo aspirante em 1918. No ano seguinte
casou-se com Nancy de Menezes, filha do Marechal de
Exército Manoel Félix de Menezes.
Armond comandou destacamentos em Santos, São João da Boa
Vista e Amparo, vindo depois a fixar-se na Capital
paulista. Como 2° Tenente, organizou e foi nomeado
diretor da Biblioteca da Força Pública, sendo no mesmo
período nomeado professor de História, Geografia e
Geometria na Escola de Oficiais da antiga Força Pública.
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Participou então de vários movimentos militares, atuando
nos movimentos tenentistas de 1922 e 1924, quando
integrou a tropa de ocupação nas fronteiras com a
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Argentina e o Paraguai até 1925. |
Na Revolução de 1930, como capitão, serviu no Estado
Maior, voltando a exercer o magistério militar na Escola
de Oficiais e no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais,
quando lecionou Administração e Legislação Militar.
Com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932,
Armond assumiu o comando da defesa do litoral entre a
divisa com o estado do Rio de Janeiro até Santos, com a
missão adicional de monitorar os movimentos da Armada,
que mantinha diversos navios de guerra nas águas da ilha
de São Sebastião.
Organizou e comandou tropas inicialmente em Paraibuna e
Caraguatatuba e, logo depois, no Sul do Estado, nas
cidades de Itaí, Taquari e Avaré. Com o fim do conflito,
foi nomeado Chefe de Polícia do Estado de São Paulo,
vindo a compor a Casa Militar do Governador Militar do
Estado, General Waldomiro Lima. Sessenta dias após sua
nomeação, pediu demissão dessa função e foi, então,
nomeado comandante de um Batalhão de Sapadores, em que
serviu até agosto de 1934.
De volta à cidade de São Paulo, assumiu o subcomando da
Escola de Oficiais em 1934. Organizou em seguida a
Inspetoria Administrativa da Força e, por conveniência
da organização, fez o concurso para o quadro de
Administração da Força Pública, vindo a ser classificado
como Tenente Coronel, na chefia do Serviço de
Intendência e Transporte, cargo que exerceu até 1938,
quando sofreu um acidente grave. Tendo solicitado sua
reforma, foi julgado inválido para o serviço militar,
dando baixa no início de 1940, época em que redigiu o
"Tratado de Topografia Ligeira” e "Guerra Cisplatina"
(Discursos).
Da vivência espiritualista à militância espírita
Edgard Armond conhecia bem o espiritualismo em geral.
Desde 1910, em sua cidade natal, iniciara estudos sobre
religiões e filosofias, demorando-se nos conhecimentos
orientais. Em 1921, enquanto comandante na cidade de
Amparo, aceitou um convite para ingressar na Maçonaria,
tendo deixando de frequentá-la alguns anos mais tarde,
no grau de Mestre.
De regresso à cidade de São Paulo, manteve contato com
líderes esoteristas, ocultistas e espiritualistas, entre
os quais Krishnamurti, Krum Heler, Jenerajadasa, Raul
Silva (sobrinho de Batuíra) e o famoso médium de efeitos
físicos Carmine Mirabelli. Em 1932, trabalhou ao lado do
famoso médium Dr. Luiz Parigot de Souza, do Paraná.
Em 1936, a convite de Silvino Canuto de Abreu, integrou
o grupo de estudos e práticas espiritistas que funcionou
na residência deste. Entre os seus participantes,
encontravam-se o Dr. Carlos Gomes de Souza Shalders e
Antônio Carlos Cardoso, ambos diretores da Escola
Politécnica, tendo o grupo trabalhado com o Sr. Ramalho,
médium de incorporação e uma única vez com Linda Gazear,
conhecida médium de efeitos físicos que atuara na Europa
com Charles Richet e outros investigadores. O grupo
também promovia visitas a outros grupos particulares que
se dedicavam à prática de trabalhos mediúnicos de
efeitos físicos, nos arredores da capital, todos
incentivados pelos resultados obtidos pela família Prado
em Belém do Pará.
Sua conversão ao Espiritismo deu-se após sofrer o
acidente automobilístico, acima mencionado, ocorrido em
28 de junho de 1938, quando quebrou ambos os joelhos.
Após diversas cirurgias, ficou quase sem poder andar
durante seis meses, passando, em seguida, a usar
muletas, com grande redução de movimentos.
Nessa fase de convalescença, já estava desenvolvendo
trabalhos de cooperação espírita, auxiliando amigos a
preparar palestras e conferências. Já lera, a essa
altura, grande parte da literatura espírita então
disponível e, num domingo à tarde, em 1939, passando
pela rua do Carmo, notou uma aglomeração à porta da
Associação das Classes Laboriosas. Curioso, foi
informado de que ali estava sendo realizada uma
comemoração de Allan Kardec. Entrou e presenciou parte
do evento, reconhecendo então, dentre os presentes,
alguns líderes espíritas amigos, como, por exemplo, João
Batista Pereira, Lameira de Andrade, Américo Montagnini,
bem como o médium Chico Xavier, que apenas iniciava sua
tarefa mediúnica.
Nessa reunião recebeu um livreto intitulado "Palavras do
Infinito", de autoria do Espírito de Humberto de Campos,
contendo mensagens avulsas de entidades desencarnadas,
distribuído pela recém-formada Federação Espírita do
Estado de São Paulo. A leitura desse opúsculo aumentou
fortemente seu interesse pela Doutrina.
O serviço na Federação Espírita do Estado de São Paulo
Nesse mesmo ano, passando pela Rua Maria Paula, para
onde a Federação se havia mudado dias antes, percebendo
à entrada uma placa com a inscrição "Casa dos Espíritas
do Brasil", entrou, sendo recebido por João dos Santos e
por este apresentado aos outros ali presentes, com os
quais conversou alguns momentos. Convidado a colaborar
com as atividades, de pronto aceitou. Dias depois,
recebeu um memorando assinado por Américo Montagnini,
presidente recém-eleito, comunicando-lhe haver sido
eleito para o cargo de secretário geral da Federação.
Como a Federação apenas se instalara naquele prédio,
adaptado para sede própria, nada encontrou organizado ou
em funcionamento regular, estando tudo por fazer, em
todos os setores. João Batista Pereira, na eleição então
realizada, deixara a presidência para Américo Montagnini
e, sob a denominação de Casa dos Espíritas do Brasil, se
fundiram a Sociedade Espírita São Pedro e São Paulo, até
então dirigida pelo Dr. Augusto Militão Pacheco, a
Sociedade de Metapsíquica de São Paulo, dirigida pelo
Dr. Shalders, e a própria Federação Espírita do Estado
de São Paulo.
O jornal “O Semeador”
Em 1944, atendendo a projeto da Secretaria Geral da Casa
dos Espíritas do Brasil, Armond fundou, com Pedro de
Camargo (Vinícius) e Marta Cajado de Oliveira, o
periódico "O Semeador", para difusão das ideias
doutrinárias e o movimento geral da Casa. Nele, sob
diversos pseudônimos, Armond colaborou ininterruptamente
até fevereiro de 1972, alcançando um total de
quatrocentos e vinte e cinco artigos. Além do periódico,
para incrementar a difusão da Doutrina e prestigiar a
Casa, propôs ainda a criação de um programa intitulado
"Hora Espírita", que passou a ser veiculado na Rádio
Tupi semanalmente, aos domingos, sob a direção de João
Rodrigues Montemor.
Obras espíritas
Em 1947, Armond fundou a União Social Espírita (USE),
posteriormente denominada União das Sociedades
Espíritas, com a finalidade de fortalecer o movimento
espírita do Estado de São Paulo e unificar suas práticas
religiosas.
Em 1950 Armond criou as Escolas de Aprendizes do
Evangelho, cursos de Espiritismo previstos por Allan
Kardec em "Obras Póstumas", tarefa já tentada
anteriormente pelo Dr. Bezerra de Menezes, no Rio de
Janeiro, no início do século. Complementarmente
instituiu também as Escolas de Médiuns, visando à
melhoria do intercâmbio com o plano espiritual.
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Escreveu, entre outras, as seguintes obras:
"Contribuições ao Estudo da Mediunidade"
(1942), "Mediunidade de Prova" (1943),
"Desenvolvimento Mediúnico" (1944), "Missão
Social dos Médiuns" (1944), "Os Exilados da
Capela" (1949), "Passes e Radiações" (1950),
"Na Cortina doTempo"
(1962), "O Redentor" e a série “Pontos da
Escola de Médiuns”.
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Em 1967, por motivos de doença, Armond solicitou o
próprio afastamento da administração da Federação,
embora tenha continuado a colaborar à distância no setor
da publicidade, da organização de centros e organizações
espíritas, inclusive em países estrangeiros.
Em 1973, em uma reunião em sua residência, Armond, com
alguns companheiros, fundou a Aliança Espírita
Evangélica. A partir de 1980 assessorou
a formação do Setor III da Fraternidade dos Discípulos
de Jesus, que reúne diversos Grupos Espíritas.
A desencarnação de Edgard Armond se deu no dia 29 de
novembro de 1982, aos 88 anos de idade, tendo sido seu
corpo sepultado no Cemitério de Vila Mariana, na capital
paulista.