Procuram-se
Quase todos sabem, mas poucos fazem
Nas portas das fábricas, as tabuletas anunciam:
“Procuram-se trabalhadores para diversas atividades. Não
se apresentar sem as devidas qualificações”. E a fila de
candidatos às vagas torna-se imensa. São muitos os que,
acreditando possuírem os requisitos para a função, vêm
em busca de trabalho. Todavia, poucos são os que
verdadeiramente apresentam as condições exigidas.
Assim também acontece com os convites que Deus nos faz
para as tarefas de renovação em nós mesmos, convites
esses que se apresentam nas mais diversas formas. São
oportunidades diárias que aí estão como chamamento para
as tarefas.
Muitos de nós acreditam que possuam os requisitos
essenciais para elas, pelo simples fato de terem algumas
atitudes no campo do assistencialismo. Vamos entender
isso: muitos são os que conseguem desligar-se de algo
material, ou seja, despojar-se de bens materiais em
favor da beneficência, mas são incapazes de ceder um
milímetro que seja da sua opinião, num esforço sublime
de renúncia. Outros, ainda, se dispõem a ajudar em
atividades assistenciais, desde que sejam executadas
segundo seus caprichos e não segundo Jesus. Falamos
aqui, tão somente, dos crentes cristãos.
E para nos alertar sobre a necessidade da evolução pelo
desvio das tentações, pela apara das imperfeições, pelo
esforço diário em vencermos as más tendências, ainda tão
presentes em nós, é que todos nós somos chamados para a
tarefa de renovação em nossas vidas. Entretanto, poucos
a realizam porque nem todos estão dispostos a renúncias
e sacrifícios dos seus interesses e desejos.
Procurando clarear nosso entendimento é que O
Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo 18 –
“Muitos os chamados e poucos os escolhidos” – nos
apresenta quatro momentos nos quais esses convites do
Pai Criador, através dos ensinamentos de Jesus,
tornam-se pilares dos quais ainda necessitamos, a fim de
termos onde nos apoiar, para iniciarmos a nossa
preparação na execução da tarefa de transformarmos o
nosso campo íntimo.
O Mestre nos convida sempre a pensar a respeito da nossa
existência: de que forma a estamos conduzindo? Estamos
fazendo as melhores escolhas para nós? Infelizmente,
ainda, temos muitas dificuldades em saber se estamos
escolhendo certo ou errado, se devemos ou não fazer algo
e, diante de tantas dúvidas, agimos feito crianças
perdidas em loja de brinquedos, sem saber o que
escolher. E é por causa dessa imaturidade afetiva que
Jesus permanece nos amparando, enviando Seus mensageiros
encarnados (pais, irmão, filhos, amigos, mestres e
tantos outros) e desencarnados (benfeitores espirituais)
para nos orientarem nos momentos de indecisão.
Procuremos então lembrar, ainda que superficialmente,
esses momentos aos quais o Evangelho se refere,
captando, na medida do possível, o melhor ensinamento de
cada um deles. Nosso objetivo não é outro senão a
essência do ensino para que fique gravado em nossa
consciência, sem nos preocuparmos, por ora, com análise
mais profunda, visto que cada um deles apresenta
material abundante para novas reflexões. Vejamos, então:
O primeiro deles é através da narração da Parábola da
Festa de Núpcias, quando o Mestre fala sobre os
primeiros emissários de Deus, antigos profetas, que
foram enviados à Terra, anunciando que Ele estaria entre
nós em momento oportuno, convidando os homens daquela
época a compartilharem com Ele dos ensinamentos que
vinha trazer. Diz ainda que esses emissários não foram
compreendidos, pois a intolerância religiosa, fruto da
ignorância das leis divinas, não permitiu que fossem
escutados e muitos acabaram mortos. Poucos foram os que
entenderam e aceitaram o convite feito pelo Pai Celeste,
para que escutassem Jesus.
O segundo momento é um pedido de Jesus para que
entrássemos pela porta estreita e não pela porta larga
porque ela representava, como ainda representa, o
caminho da perdição. Todos nós sabemos o que é uma porta
e para que ela serve, não importando a época ou o lugar
em que esteja. Assim, através de símbolos universais, o
Mestre nos mostra que pela porta estreita só passaremos
carregando o que tivermos acumulado de bom e de Bem em
nossos corações, isto é, todos os valores morais que
possamos ter conquistado. Ensina, também, que todos os
outros bens materiais adquiridos – bagagem externa –
ficarão quando ingressarmos no mundo espiritual, porque
são bens transitórios (títulos, posses, nomes ilustres,
cargos de destaque e tantos outros) que não têm valor no
outro plano da Vida.
O outro momento a ser destacado é quando Jesus nos
pergunta: “Por que me chamais Senhor! Senhor! e não
fazeis o que vos digo? Talvez fosse interessante nós
mesmos nos perguntarmos por qual razão O chamamos tanto
se continuamos a fazer somente aquilo que queremos,
segundo nossos desejos e caprichos, independentemente
das orientações que recebemos de Seus enviados amorosos.
Sabemos da necessidade de vencer nosso orgulho, nosso
egoísmo, mas continuamos presunçosos, vaidosos,
deixando-nos envolver por pensamentos inferiores,
abandonando tarefas no meio da execução ou fazendo-as
malfeitas, quando conseguimos terminá-las. Melhor do que
chamar constantemente por Jesus é fazer o que Ele nos
pede que seja feito, em nosso benefício e em benefício
de todos aqueles que estão ao nosso redor. Por que não
podemos contribuir para a construção de um mundo melhor,
começando essa melhoria por nós mesmos? Modificar o
mundo é tarefa que se inicia em nós mesmos.
E, por fim, num quarto momento, o Evangelho nos chama a
observarmos as obras de quem se diz cristão. É preciso
perceber a diferença entre saber e fazer. Quase todos
sabem, mas poucos fazem. Todas as religiões, de uma
maneira geral, ensinam o Bem. O problema é que nem
sempre seus apóstolos ou seguidores praticam esses
ensinamentos e incluímos também, aí, os espíritas!
Com relação a isso, Emmanuel nos alerta, no livro O
Espírito da Verdade, lembrando que “sem a chamada
não há escolha. Mas, se estamos claramente informados de
que a chamada vem de Deus, atingindo todas as criaturas
na hora justa da evolução, só a escolha, que depende do
nosso exemplo, nos confere caminho para a Vida Maior”.
No dia em que conseguirmos entender que é o próprio
trabalho que nos torna pessoas melhores, sem que
precisemos de nenhuma outra condição para executá-lo,
nossa existência será mais alegre e o fardo das nossas
dificuldades mais leve.
Companheiros espíritas, reflitamos profundamente sobre a
mensagem que Eurípedes Barsanulfo nos deixou, através da
psicografia de Waldo Vieira, no livro O Espírito da
Verdade, retomando os princípios evangélicos que
Jesus nos legou: “O Espiritismo, a rasgar-nos nas
mentes acanhadas e entorpecidas largos horizontes de
ideal superior, nos impele para a frente, rumo aos Cimos
da Perfectibilidade.
A Humanidade ativa e necessitada, a construir seu porvir
de trunfos, nos conclama ao trabalho. O Espírito é um
monumento ativo de Deus – o Criador Amorável. Honremos a
nossa origem divina, criando o bem como chuva de bênçãos
ao longo de nossas próprias pegadas.
Irmãos, sede os vencedores da rotina escravizante.
Em cada dia renasce a luz de uma nova vida e com a morte
somente morrem as ilusões.
O Espírito deve ser reconhecido pelas suas obras.
É necessário viver e servir.
É necessário viver, meus irmãos, e ser mais do que pó!”
Bibliografia:
XAVIER, F. C. - Vinha de Luz –
ditado pelo Espírito Emmanuel – 14ª edição, Editora FEB
– Brasília/DF – lição 81.
XAVIER, F. C. e Waldo Vieira – O
Espírito da Verdade – Espíritos diversos – 10 ª ed.,
Editora FEB – Editora FEB – Rio de Janeiro/RJ – págs. 38
e 223.
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