Especial

por Rogério Coelho

A nobre missão do médium espírita-cristão

Parte 1

A mediunidade praticada à luz do Espiritismo é perene fonte de bênçãos e harmonia

 

“(...) Antes de ser médium dos fenômenos comuns, não olvide que todo aquele que dá de si mesmo a mais singela colaboração à obra do bem é instrumento de Jesus, no aperfeiçoamento do mundo”. - Agar[1]

 

A mediunidade permite a comprovação de dois pontos básicos do Espiritismo: A Comunicabilidade dos Espíritos e a Imortalidade da Alma. Nela está arraigado o aspecto “Consolador” da Doutrina dos Espíritos, já que não há alegria maior que possa receber um coração ulcerado pela dor da separação, do que a comprovação da sobrevivência, além-túmulo, de um ser querido que deixara atrás de si o vazio impreenchível da presença física.

Sem receio de equívoco, podemos afirmar que a mediunidade é a mãe da Doutrina Espírita; e também podemos concluir da mesma forma, que – hoje em dia – a filha (Doutrina Espírita), já emancipada, deve cuidar com muito zelo de sua mãe (a mediunidade).

Em uníssono com o Mestre de Lyon, aduz Alberto[2]“(...) a mediunidade é bênção sob qualquer aspecto considerada, porque faculta a constatação da sobrevivência do Espírito à disjunção molecular, o que é fundamental para um comportamento compatível com os fatores que geram felicidade. Logo após, enseja oportunidades valiosas para o exercício da autoiluminação, pelas instruções de que o médium se faz portador, adotando-as, de início, para si mesmo, antes que para os outros. Por fim, podendo exercer uma forma de caridade especial, que é a de auxiliar no esclarecimento daqueles que se demoram na ignorância da sua realidade após a desencarnação, granje­ando amigos e irmãos excepcionais, que se lhe incorporam à afetividade. A mediunidade, portanto, exercida com a lógica haurida na Codificação Kardequiana, constitui valioso patrimônio para a elevação e a paz. O médium, por isso mesmo, é donatário transitório de oportunidades ímpares para a plenitude, não se podendo permitir a leviandade de utilizar esse nobre recurso de maneira comprometedora, vulgar, insensata...

Joanna de Ângelis[3] vem nos lembrar do seguinte: “(...) com propriedade, asseverou o apóstolo Paulo que há diversidade de dons, mas o espírito é o mesmo (Cor. 15:4-10), graças aos quais se manifestam os fe­nômenos que procedem de Deus, através da palavra de sabedoria, da escrita, da profecia, das línguas, das curas, tudo como manifestação do Espírito. Posteriormente, por ocasião da Codificação do Es­piritismo, Allan Kardec, estudando as faculdades mediúnicas, demonstrou que elas se apresentam com variedade e polimorfia. Mesmo quando se trata de uma expressão que a tipifica em todos os indivíduos, ei-la que varia de qualidade conforme o instrumento pelo qual se manifesta.

(...) A mediunidade é faculdade neutra, apresentando-se tanto através de pessoas dignas como estúrdias. Os fenômenos que produz resultam sempre das qualidades morais dos seus portadores.

É compreensível, portanto, que o mandato mediúnico revista-se de elevação e de inteireza espiritual em todo aquele que deseja viver com sabedoria, especial­mente quando se encontra comprometido com a ativi­dade espírita.

Nunca deve o médium permitir-se a sistemática sintonia com as Entidades de conduta vulgar, objeti­vando distrair e agradar ao público, tão ocioso quanto irresponsável, sempre disposto ao campeonato da frivolidade.  Jamais esquecer-se de que a mediunidade deve ser considerada como um instrumento santo e que de maneira santa­ e religiosamente deve ser utilizada.

A mediunidade é ponte através da qual os imortais retornam à convivência com as criaturas reencarnadas, advertindo-as, confortando-as, preparando-as para a sobrevivência à morte.

Canalizar-lhe as energias de maneira sábia e ele­vada, constitui dever impostergável de todo aquele que, médium ostensivo ou natural, seja portador de uma ou de várias facetas mediúnicas.

Torna-te veraz, e os fenômenos por teu intermédio serão autênticos.  Faze-te responsável e sério, e as ocorrências me­diúnicas a que deres origem merecerão credibilidade e consideração. Vive conforme recomendam os Espíritos nobres, e aqueles que participam das tuas experiências mediúni­cas se esforçarão para viver condignamente. Exercita a caridade e a renúncia, ajudando-te e ao teu próximo, e os bons Espíritos te elegerão para instru­mento do seu ministério de iluminação humana... Jesus, na condição de Médium de Deus, viveu in­tegralmente tudo quanto nos ensinou a fim de buscarmos a glória celestial”.

Léon Denis leciona[4]: “nada verdadeiramente importante se adquire sem trabalho... Uma lenta e laboriosa iniciação se impõe aos que buscam os bens superiores. Como todas as coisas, a formação e o exercício da mediunidade encontram dificuldades, bastantes vezes já assinaladas; convém insistirmos nisso, a fim de prevenir os médiuns contra as falsas interpretações, contra as

Causas de Erro e de Desânimo

Desde que, por um trabalho preparatório, as faculdades do médium adquirem certa flexibilidade, os resultados que se começam a obter são quase sempre devidos às relações estabelecidas com os elementos inferiores do mundo invisível. Uma multidão de Espíritos nos cerca, sempre ávidos de se comunicarem com os homens. Essa multidão é - sobretudo - composta de almas pouco adiantadas, de Espíritos levianos, algumas vezes maus, que a densidade de seus próprios fluidos conserva presos à Terra. As inteligências elevadas, animadas de nobres aspirações, revestidas de fluidos sutis, não permanecem escravizadas à nossa atmosfera depois da separação carnal: remontam mais alto, a regiões que o seu grau de adiantamento lhes indica. Daí baixam muitas vezes - é certo - para velar pelos seres que lhes são caros; imiscuem-se conosco, mas unicamente para um fim útil e em casos importantes, donde resulta que os principiantes quase nunca obtêm senão comunicações sem valor, respostas chocarreiras, triviais, às vezes inconvenientes, que os impacientam e desanimam... Já noutros casos o médium inexperiente recebe ditados subscritos por nomes célebres, contendo revelações apócrifas que lhe captam a confiança e o enchem de entusiasmo. O inspirador invisível, conhecendo-lhe os lados vulneráveis, lisonjeia-lhe o amor-próprio e as opiniões, superexcita-lhe a vaidade, cumulando-o de elogios e prometendo-lhe maravilhas. Pouco a pouco o vai desviando de qualquer outra influência, de todo exame esclarecido e o leva a se insular em seus trabalhos. É o começo de uma obsessão, de um domínio exclusivista, que pode conduzir o médium a deploráveis resultados.

Esses perigos foram, desde os primórdios do Espiritismo, assinalados por Allan Kardec; todos os dias, estamos ainda vendo médiuns deixarem-se levar pelas sugestões de Espíritos embusteiros e serem vítimas de mistificações que os tornam ridículos.

Cuidados iniciais

Muitas decepções e dissabores seriam evitados se se compreendesse que a mediunidade percorre fases sucessivas, e que, no período inicial de desenvolvimento, o médium é, sobretudo assistido por Espíritos de ordem inferior, cujos fluidos, ainda impregnados de matéria, se adaptam melhor aos seus e são apropriados a esse trabalho de bosquejo, mais ou menos prolongado, a que toda faculdade está sujeita.

Só mais tarde, quando a faculdade mediúnica – suficientemente desenvolvida – adquiriu a necessária maleabilidade, e se tornou dúctil o instrumento, é que os Espíritos elevados podem intervir e utilizá-la para um fim moral e intelectual.

O período de exercício, de trabalho preparatório, tão fértil muitas vezes em manifestações grosseiras e mistificações, é, pois, uma fase normal de desenvolvimento da mediunidade: é uma escola em que a nossa paciência e discernimento se exercitam, em que aprendemos a nos familiarizar com o modo de agir dos habitantes do Além. Nessa fase de prova e de estudo elementar, deve sempre o médium estar de sobreaviso e nunca se afastar de uma prudente reserva. Cumpre-lhe evitar cuidadosamente as questões ociosas ou interesseiras, os gracejos, tudo em suma que reveste caráter frívolo e atrai os Espíritos levianos.

É preciso não se deixar esmorecer pela mediocridade dos primeiros resultados, pela abstenção e aparente indiferença dos nossos Amigos do Espaço.  Médiuns principiantes, ficai certos de que alguém vela por vós e de que a vossa perseverança é posta à prova. Quando houverdes chegado ao ponto requerido, influências mais altas chegarão a vós e hão de continuar a vossa educação psíquica.

Mediunidade: Um Sagrado Dom do Céu

Não procureis na mediunidade um objetivo de mera curiosidade ou de simples diversão; considerai-a de preferência um dom do Céu, uma coisa sagrada, que deveis utilizar com respeito, para o bem de vossos semelhantes. Elevai o pensamento às Almas generosas que trabalham no progresso da humanidade; elas virão a vós e vos hão de amparar e proteger. Graças a elas, as dificuldades do começo, as inevitáveis decepções que experimentareis não terão desagradáveis consequências; servirão para vos esclarecer a razão e vos desenvolver as forças fluídicas.

A boa mediunidade se forma lentamente, no estudo calmo, silencioso, recolhido, longe dos prazeres mundanos e do tumulto das paixões. Depois de um período de preparação e expectativa, o médium colhe o fruto de seus perseverantes esforços:  Recebe dos Espíritos elevados a consagração de suas faculdades, amadurecidas no santuário de sua alma, ao abrigo das sugestões do orgulho. Se guardas em seu coração a pureza de ato e de intenção, virá, com a assistência de seus guias, a se tornar cooperador utilíssimo na obra de regeneração que eles vêm realizando.

Terminada a primeira fase de desenvolvimento de suas faculdades, o importante para o médium é obter a proteção de um Espírito bom, adiantado, que o guie, inspire e preserve de qualquer perigo.

Na maior parte das vezes é um parente, um amigo desaparecido que desempenha ao pé dele essas funções. Um pai, uma mãe, uma esposa, um filho, se adquiriram a experiência e o adiantamento necessários, podem-nos dirigir no delicado exercício da mediunidade. Mas o seu poder é proporcionado ao grau de elevação a que chegaram, e nem sempre a sua ternura e solicitude bastam para nos defender das investidas dos Espíritos inferiores.

Dignos de louvor são os médiuns que, por seu desinteresse e fé profunda, têm sabido atrair, como uma espécie de aliados, os Espíritos de escol, e participar de sua missão. Para fazer baixar das excelsas regiões esses Espíritos; para os decidir a mergulhar em nossa espessa atmosfera, é preciso oferecer-lhes aptidões, notáveis qualidades. Seu ardente desejo de trabalhar na regeneração do gênero humano torna, entretanto, essa intervenção muito menos rara do que se poderia imaginar.

 

Fim da primeira parte – continua na próxima edição.


 


[1] - XAVIER, Francisco Cândido. Nosso livro. Pelo Espírito Agar. Lake. p.17

[2] - FRANCO, Divaldo. Tormentos da Obsessão. Salvador: LEAL, 2001, cap. ‘Informações Preciosas’, p. 89-100.

[3] - FRANCO, Divaldo. Jesus e vida. Salvador: LEAL, 2007, p. 45-49.

[4] - DENIS, Léon. No Invisível. 19.ed.Rio de Janeiro: FEB, 2000, cap. V, 1ª parte.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita