Especial

por Rogério Coelho

A nobre missão do médium espírita-cristão

Parte 2 e final

A mediunidade praticada à luz do Espiritismo é perene fonte de bênçãos e harmonia

 
“(...) Antes de ser médium dos fenômenos comuns, não olvide que todo aquele que dá de si mesmo a mais singela colaboração à obra do bem é instrumento de Jesus, no aperfeiçoamento do mundo”. 
- Agar[1]

 

Centenas de Espíritos superiores pairam acima de nós e dirigem o movimento espiritualista, inspirando os médiuns, projetando sobre os homens de ação as vibrações de sua vontade, a fulguração do seu próprio gênio.

Conheço vários grupos que possuem uma assistência dessa ordem. Pela pena, pelos lábios dos médiuns, os Espíritos-guias ditam instruções, fazem ouvir exortações; e não obstante as imperfeições do meio e as obscuridades que lhes amortecem e velam as irradiações do pensa­mento, é sempre um penetrante enlevo, um gozo d`Alma, um gratíssimo conforto saborear a beleza de seus pensamentos escritos, escutar as inflexões de sua palavra, que nos vem como longínquo e mavioso eco das regiões celestes.

A descida ao nosso mundo terrestre é um ato de abnegação e um motivo de sofrimento para o Espírito elevado.  Nunca seriam demasiados a nossa admiração e reconhecimento à generosidade dessas Almas, que não recuam diante do contacto dos fluidos grosseiros, à semelhança dessas nobres damas, delicadas, sensitivas, que, ao impulso da caridade, penetram em lugares repugnantes, para levar socorros e consolações.

(...) Em todo ser humano existem rudimentos de mediunidade, faculdades em gérmen, que se pode desenvolver pelo exercício. Para o maior número, um longo trabalho perseverante é necessário. Em alguns essas faculdades se revelam desde a infância, e sem esforço vêm a atingir, com os anos, um alto grau de perfeição. Representam em tal caso o resultado das aquisições anteriores, o fruto os labores efetuados na Terra ou no Espaço, fruto que conosco, ao renascer, trazemos.

Entre os sensitivos, muitos têm a intuição de um mundo superior, extraterrestre, em que existem, como em reserva, poderes que lhes é possível adquirir mediante íntima comunhão e elevadas aspirações, para em seguida os manifestarem sob diversas formas, apropriadas à sua natureza: previsões, ensinamentos, ação curativa etc. Aplicada em tal sentido, a mediunidade torna-se uma faculdade preciosa, por meio da qual podem ser liberalizados imensos benefícios e realizadas grandes obras.

Mundo Espiritual: Inesgotável Manancial de Energia Alcançável pela Prece

À Humanidade seria facultado um poderoso elemento de renovação, se todos compreendessem que há, acima de nós, um inesgotável manancial de energia, de Vida espiritual, que se pode atingir por gradativo adestramento, por constante orientação do pensamento e da vontade no sentido de assimilar as suas ondas e radiações, e com o seu auxilio desenvolver as faculdades que em nós jazem latentes.  A aquisição dessas forças nos abroquela contra o mal, nos coloca acima dos conflitos materiais e nos torna mais firmes no cumprimento do dever.  Nenhum dentre os bens terrenos é comparável à posse desses dons. Sublimados a seu mais alto grau, fazem os grandes missionários, os renovadores, os grandes inspirados.

Como podemos adquirir esses poderes, essas faculdades superiores?  Descerrando nossa alma, pela vontade e pela prece, às influências do Alto. Do mesmo modo que abrimos as portas da nossa casa, para que nela penetrem os raios do Sol, assim também por nossos impulsos e aspirações podemos franquear aos eflúvios celestes o nosso “ego” interior.  É aí que se manifesta a ação benéfica e salutar da prece. Pela prece humilde, breve, fervorosa, a alma se dilata e dá acesso às irradiações do Divino Foco.   A prece, para ser eficaz, não deve ser uma recitação banal, uma fórmula decorada, senão antes uma solicitação do coração, um ato da vontade, que atrai o fluido universal, as vibrações do dinamismo divino. Ou deve ainda a alma projetar-se, exteriorizar-se por um vigoroso surto e, consoante o impulso adquirido, entrar em comunicação com os mundos etéreos.

Assim, a prece rasga uma vereda fluídica pela qual sobem as almas humanas e baixam as almas superiores, de tal modo que uma íntima comunhão se estabeleça entre umas e outras, e o espírito do homem seja iluminado e fortalecido pelas centelhas e energias despedidas das Celestiais Esferas. 

Em Espiritismo, a questão de educação e adestramento dos médiuns é capital; os bons médiuns são raros - diz-se - muitas vezes, e a ciência do invisível, privada de meios de ação, só com muita lentidão vem a progredir.

Quantas faculdades preciosas, todavia, não se perdem, à mingua de atenção e de cultura! Quantas mediunidades malbaratadas em frívolas experiências, ou que, utilizadas ao sabor do capricho, não atraem mais que perniciosas influencias e só maus frutos produzem! Quantos médiuns inconscientes de seu ministério e do valor do dom que lhes é outorgado, deixam inutilizadas forças capazes de contribuir para a obra de renovação!

A mediunidade é uma delicada flor que, para desabrochar, necessita de acuradas precauções e assíduos cuidados; exige o método, a paciência, as altas aspirações, os sentimentos nobres, e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a envolve em seu amor, em seus fluidos vivificantes. Quase sempre, porém, querem fazê-la produzir frutos prematuros, e desde logo se estiola e fana ao contacto dos Espíritos atrasados.

Na antiguidade, os jovens sensitivos que revelavam aptidões especiais eram retirados do mundo, segregados de toda influência degradante, em lugares consagrados ao culto, rodeados de tudo o que lhes pudesse elevar o sentido do belo. Tais eram as vestais, as druidesas, as sibilas, etc.  O mesmo acontecia nas escolas de profetas e videntes da Judéia, situadas longe do ruído das cidades. No silêncio do deserto, na paz dos alterosos cimos, melhor podiam os iniciados atrair as influências superiores e interrogar o Invisível. Graças a essa educação, obtinham-se resultados que a nós nos surpreendem.

Do Cultivo da Mediunidade nos Tempos Hodiernos

Os processos acima descritos, são hoje inaplicáveis... As exigências sociais nem sempre permitem ao médium dedicar-se, como conviria, ao cultivo de suas faculdades.  Sua atenção é distraída pelas mil necessidades da vida de família, suas aspirações estorvadas pelo contacto da sociedade mais ou menos corrompida ou frívola. Muitas vezes é ele chamado a exercer suas aptidões em círculos impregnados de fluidos impuros, de inarmônicas vibrações, que reagem sobre o seu organismo tão impressionável e lhe produzem desordens e perturbações.

É preciso que, ao menos, o médium, compenetrado da utilidade e grandeza de sua função, se aplique a aumentar seus conhecimentos e procure espiritualizar-se o mais possível, que se reserve horas de recolhimento e tente então, pela visão interior, alçar-se até às coisas divinas, à eterna e perfeita beleza. Quanto mais desenvolvidos forem nele o saber, a inteligência, a moralidade, mais apto se tornará para servir de intermediário às grandes almas do Espaço.

O importante para o médium, dissemos mais acima, é assegurar-se uma proteção eficaz. O auxílio do Alto é sempre proporcionado ao fim que nos propomos, aos esforços que empregamos para merecê-lo.

Somos auxiliados, amparados, conforme a importância das missões que nos incumbem, tendo-se em vista o interesse geral. Essas missões são acompanhadas de provas, de dificuldades inevitáveis, mas sempre reguladas conforme as nossas forças e aptidões.

Desempenhadas com dedicação, com abnegação, as nossas tarefas nos elevam na hierarquia das almas.  Negligenciadas, esquecidas, não realizadas, nos fazem estacionar na escada do progresso. Todas acarretam responsabilidades. Desde o pai de família que incute em seus filhinhos as noções elementares do bem, o preceptor da mocidade, o escritor moralista, até o orador que procura arrebatar as multidões às culminâncias do pensamento, cada um tem sua missão a preencher...

Não há mais nobre, mais elevado cargo que ser chamado a propagar, sob a inspiração das Potências Invisíveis, a verdade pelo mundo, a fazer ouvir aos homens o atenuado eco dos divinos convites, incitando-os à luz e à perfeição.  Tal é o papel da alta mediunidade.

A Prática Mediúnica Exige Responsabilidade, Disciplina e Estudo

Falamos de responsabilidade. É necessário insistir sobre esse ponto. Muitos médiuns procuram, no exercício de suas faculdades, satisfações de amor-próprio ou de interesse. Descuram de fazer intervir em sua obra esse sentimento grave, refletido, quase religioso, que é uma das condições de êxito. Esquecem muitas vezes que a mediunidade é um dos meios de ação porque se executa o plano divino, e que ele não tem o direito de utilizá-la ao sabor de sua fantasia.

Enquanto se não tiverem compenetrado os médiuns da importância de sua função e da extensão de seus deveres, haverá no exercício de suas faculdades uma fonte de abusos e de males...  Os dons psíquicos, desviados de seu eminente objetivo, utilizados para fins de interesses medíocres, pessoais e táteis, revertem contra os seus possuidores, atraindo-lhes, em lugar dos gênios tutelares, as potências malfazejas do Além.

Fora das condições de elevação de pensamento, de moralidade e desinteresse, pode a mediunidade constituir-se um perigo; ao passo que tendo por fim firme propósito no bem, por suas aspirações ao ideal divino, o médium se impregna de fluidos purificados; uma atmosfera protetora se forma em torno dele, o envolve, o preserva dos erros e das ciladas do invisível...

E se, por sua fé e comprovado zelo, pela pureza d’Alma em que nenhum cálculo interesseiro se insinue, obtém ele a assistência de um desses Espíritos de luz, depositários dos segredos do Espaço, que pairam acima de nós e projetam sobre a nossa fraqueza as suas irradiações; se esse Espírito se constitui seu protetor, seu guia, seu amigo, graças a ele sentirá o médium uma força desconhecida penetrar-lhe todo o ser, uma chama lhe iluminar a fronte. Todos quantos tomarem parte em seus trabalhos, e colherem os seus resultados, sentirão reanimar-se-lhes o coração e a inteligência às fulgurações dessa alma superior; um sopro de vida lhes transportará o pensamento às regiões sublimes do Infinito”.

Não é sem motivo que, de maneira poética e esclarecedora, compôs Casimiro Cunha:

“Faculdades numerosas

Não representam luz,

Bom médium é todo aquele

Que anda sempre com Jesus”.


 

[1] - XAVIER, Francisco Cândido. Nosso livro. Pelo Espírito Agar. Lake. p.17


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita