Joias da poesia
contemporânea

Autor: Irene S. Pinto

 

Essa mendiga…

 

  Essa mendiga que passa

  Vestida de trapo ao vento,

  De rosto cansado e atento

  Aos óbolos que lhe dão…

 

  Quem sabe por que te busca,

  Na dorida caminhada,

  Para deter-se humilhada,

  Pedindo socorro e pão?

 

  Não digas: “mulher da rua”,

  Nem penses “mulher sem jeito”.

  Guarda silêncio e respeito

  Se nada tens para dar,

 

  Que essa pobre, onde aparece,

  Tem a tristeza por guia,

  Por refúgio, a noite fria,

  E, às vezes, o chão por lar.

 

  Ao recebê-la, medita

  Em tua mãe viva ou morta,

  Jamais lhe cerres a porta,

  Nem lhe indagues de onde vem;

 

  Dá-lhe um momento de apoio

  A marcha triste e insegura,

  Em meio da desventura,

  Talvez seja mãe também.

 

  Recorda a infância risonha

  Em tua casa florida,

  As horas plenas de vida,

  A mesa farta ao dispor…

 

  As doces lições da escola,

  Entre o recreio e a merenda,

  A bola, a peteca, a prenda

  Nos brincos de puro amor!…

 

  Lembra a ternura materna,

  Como estrela, em toda parte,

  Teu pai chegando a beijar-te

  Aos meigos abraços teus…

 

  Durante o dia, os folguedos

  Que a segurança entretece,

  De noite, a bênção da prece

  E o sono pensando em Deus.

 

  Reconsidera contigo

  Que essa mulher, entretanto,

  Nasceu num berço de pranto

  E de pranto vive assim…

 

  Cresceu, rogando na rua

  O pranto da vida amarga,

  Sem que lhe visses a carga

  De mágoas quase sem fim.

 

  Acolhe-a com caridade,

  Restaura-lhe a força e dize

  A frase que lhe amenize

  O peso da própria cruz.

 

  Deus te manda essa mendiga,

  A fim de saber, ao certo,

  Se estás mais longe ou mais perto

  Da redenção com Jesus.

 

Do livro Poetas redivivos, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita