Essa mendiga…
Essa mendiga que passa
Vestida de trapo ao vento,
De rosto cansado e atento
Aos óbolos que lhe dão…
Quem sabe por que te busca,
Na dorida caminhada,
Para deter-se humilhada,
Pedindo socorro e pão?
Não digas: “mulher da rua”,
Nem penses “mulher sem jeito”.
Guarda silêncio e respeito
Se nada tens para dar,
Que essa pobre, onde aparece,
Tem a tristeza por guia,
Por refúgio, a noite fria,
E, às vezes, o chão por lar.
Ao recebê-la, medita
Em tua mãe viva ou morta,
Jamais lhe cerres a porta,
Nem lhe indagues de onde vem;
Dá-lhe um momento de apoio
A marcha triste e insegura,
Em meio da desventura,
Talvez seja mãe também.
Recorda a infância risonha
Em tua casa florida,
As horas plenas de vida,
A mesa farta ao dispor…
As doces lições da escola,
Entre o recreio e a merenda,
A bola, a peteca, a prenda
Nos brincos de puro amor!…
Lembra a ternura materna,
Como estrela, em toda parte,
Teu pai chegando a beijar-te
Aos meigos abraços teus…
Durante o dia, os folguedos
Que a segurança entretece,
De noite, a bênção da prece
E o sono pensando em Deus.
Reconsidera contigo
Que essa mulher, entretanto,
Nasceu num berço de pranto
E de pranto vive assim…
Cresceu, rogando na rua
O pranto da vida amarga,
Sem que lhe visses a carga
De mágoas quase sem fim.
Acolhe-a com caridade,
Restaura-lhe a força e dize
A frase que lhe amenize
O peso da própria cruz.
Deus te manda essa mendiga,
A fim de saber, ao certo,
Se estás mais longe ou mais perto
Da redenção com Jesus.
Do livro Poetas redivivos, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.