O que é a posvenção do suicídio e qual a sua
importância?
Posvenção compreende as atividades realizadas com o
objetivo de reduzir os danos causados pelo suicídio de
uma pessoa em seus familiares, amigos, conhecidos etc.
Importante ressaltar que esse termo é relativamente
jovem na linguagem da suicidologia, pois foi criado na
década de 1970 pelo suicidologista Edwin Shneidman. As
ações de posvenção unem prevenção e intervenção cujo
objetivo é reduzir o sofrimento do enlutado. De acordo
com a psicóloga e professora Karina Fukumitso, “é a
prevenção do suicídio das próximas gerações”2,
uma vez que o enlutado pelo suicídio de alguém faz parte
do grupo de risco de suicídios.
Quanto tempo dura o luto do sobrevivente nesses casos?
É um luto mais duradouro do que os outros, e depende de
vários fatores, entre eles o tipo e a qualidade do
vínculo com a pessoa falecida, e pode durar vários meses
(em média, um ano) ou prolongar-se até o final da vida3.
Qual a postura mais correta ao encontrar uma pessoa
nessa situação: deixar falar sobre o fato, mudar o rumo
da conversa ou fazer mais perguntas?
Por favor, deixe-a falar sem interrupções ou
julgamentos. Schneidman no texto supracitado, diz que a
maioria dos enlutados está ansiosa por uma oportunidade
de conversar, e o apoiador é a voz tranquila da razão.
Devemos evitar chavões do tipo: tudo vai passar, não
chore, não fique triste etc.
A pessoa deve dar atenção plena ao enlutado; além de
ouvir seu relato, procurar com discrição verificar se a
pessoa está necessitando de suporte para cuidados
básicos como ir ao médico, compra de mantimentos, ajuda
com medicamentos, e não somente com a compra, pois no
estado de sofrimento em que se encontra pode esquecer-se
de tomar medicamentos de uso diário.
Não perguntar sobre a forma como o familiar se suicidou,
se deixou carta etc. Esse tipo de intervenção não ajuda,
atrapalha. Se a pessoa falar sobre isso espontaneamente,
ouça.
Respeite as crenças do seu interlocutor, não tente
convencê-la de nada, ofereça apoio no que for possível. Se
a pessoa desejar, você pode orar com ela,
providenciar aplicação de passes, água fluidificada e o
culto do evangelho no lar. Caso contrário, ore por ela
no recinto do seu lar ou na instituição religiosa que
você frequenta.
A pessoa enlutada por suicídio lida com a dor da perda e
o desafio para prosseguir na caminhada. De forma nenhuma
isso é simples.
Em Vitória (ES) há um grupo voltado a esses estudos e
suporte familiar. Como e onde funcionam as reuniões do
grupo Yvonne Pereira?
São reuniões que visam oferecer apoio emocional à luz da
Doutrina Espírita, em que as pessoas enlutadas têm
oportunidade de compartilhar sua dor livremente, sem se
preocuparem com julgamentos ou censuras. Inicialmente
realizamos a leitura de um texto espírita de cunho
confortador, prece e passes. Após o momento de
compartilhamento, fazemos um curto relaxamento e prece
de encerramento.
Nós temos cinco princípios que norteiam o
desenvolvimento das reuniões:
1 - Sigilo: respeito à confidencialidade (Pensamentos,
sentimentos e experiências compartilhadas deverão ser
mantidos em sigilo dentro do grupo).
2 - Não Julgamento: pensamentos e sentimentos não são
nem certos e nem errados.
3 - Aceitação: todos têm direito de compartilhar suas
dores ou não.
4 - Singularidade: a dor é única de cada pessoa.
5 - Respeito: todos têm direito a igual tempo para se
expressar se assim o desejar.
Antes das recomendações de afastamento social em virtude
da pandemia, as reuniões aconteciam uma vez por mês com
duração de 1h15. Atualmente estamos fazendo reuniões de
estudo on-line às segundas-feiras, das 19h às 20h. Esse
formato on-line ainda não é definitivo; estamos em
avaliação.
É comum nos dias de hoje, nas reuniões mediúnicas,
surgir relatos de suicidas? Como lidar com o conteúdo
recebido?
A presença desses espíritos depende do perfil de
reunião. A espiritualidade que coordena o trabalho
respeita os objetivos propostos, as condições dos
médiuns e a disponibilidade interna para o acolhimento.
Analisando o atendimento aos espíritos em sofrimento que
desencarnaram por suicídio, na obra O Céu e o Inferno,
observamos que em todos os casos é permitida a livre
expressão do sofrimento do espírito comunicante,
naturalmente sem admitir palavras grotescas, como é
preconizado para reuniões mediúnicas sérias.
Diante de um espírito nessas condições, nossa postura
deve ter em primeiríssimo lugar um genuíno desejo de
aliviar a dor de alguém que sofre muito e às vezes está
em grande desespero.
Nossos pensamentos, sentimentos e palavras devem ser
norteados pelos princípios espíritas. Em O Evangelho
Segundo o Espiritismo, capítulo 5, o espírito
Bernardino diz: “Não digais, pois, quando virdes
atingido um dos vossos irmãos: É a justiça de Deus,
importa que siga o seu curso. Dizei antes: Vejamos
que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para
suavizar o sofrimento do meu irmão.” E o benfeitor
Emmanuel, no livro Escrínio de Luz, complementa:
“Não condenes as vítimas da loucura e do sofrimento que
se retiram do mundo pelas portas do suicídio. Ninguém
lhes viu talvez a luta insana. E não sabes até que ponto
sorveram o veneno da angústia na taça de fel!”
A empatia, a compaixão e a prece, são ferramentas
importantes para reduzir o sofrimento.
Quais os grupos de suporte aos familiares enlutados que
você indica?
Podemos citar alguns:
Em Vitória (ES) temos o Grupo Yvonne Pereira, que
funciona na sede da Federação Espírita do Estado do
Espírito Santo (FEEES), às primeiras segundas-feiras do
mês. Informações pelo e-mail: faleconosco@ameees.org.br.
Em São Paulo existe o NAS – Núcleo de Assistência Social
do Instituto Sedes Sapientiae. Os interessados podem
entrar em contato pelo e-mail: nas@sedes.org.br.
A rede API (Apoio a Perdas Irreparáveis) existe em
vários estados do Brasil. Pode-se obter mais informações
no site: http://redeapi.org.br/.
Em Fortaleza (CE) temos o Instituto Bia Dote, que entre
outras atividades dispõe de grupo de apoio a enlutados.
Informações pelo site: https://institutobiadote.org.br/
Referências:
1 - World Health Organization and
International Association for Suicide Prevention
(IASP). Preventing suicide: how to start a survivor’s
group. Geneva: WHO/IASP, 2008 (p.6).
2 - Karina Fukumitso - Suicídio e
luto: histórias de filhos sobreviventes-2013.
3 - Edwin Schneidman. Postvention: The
care of the bereaved. Suicide and Life-Threatening
Behavior, 11(4), 349-359).
Nota da Redação:
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