A mentira
e as suas consequências
Dada a persistência de
inúmeras ocorrências
desagradáveis
relacionadas ao hábito
de mentir, volto ao
tema. [1] Por que
escrevo novamente sobre
esse tema? Porque me
causa espanto – e
certamente o mesmo
acontece para muitos –
saber que se trata de
comportamento
corriqueiro em nosso
país. Talvez também seja
em outras nações do
mundo, particularmente
naquelas onde a ética
ainda não constitua uma
preocupação geral. Em
todo caso, não é comum
encontrar notícias dessa
natureza no noticiário
internacional, exceção
aos Estados Unidos por
motivos óbvios.
A questão é que a
mentira apresenta muitas
facetas. Aliás, não é,
por exemplo, a chamada fake
news uma atividade
espúria que visa, nada
mais nada menos, do que
macular reputações
ilibadas através da
disseminação de
mentiras? Com efeito, há
atualmente um esforço
para no mínimo tolher
esta prática abjeta,
que, por incrível que
pareça, é abraçada por
muita gente que faz
disto uma profissão de
fé.
As fake news,
cumpre recordar,
distorcem, confundem e,
principalmente,
entesouram inverdades
cruéis, que tornam mais
complicada a vida das
vítimas dos comentários
levianos. Portanto, é
decepcionante perceber
que há indivíduos que
ainda se dedicam, de
maneira contumaz, ao
mister da mentira. Não
bastasse isto, a prática
de mentir propriamente
dita – é preciso
reconhecer – envolve
todos os segmentos da
sociedade.
Nesse sentido, já é de
amplo conhecimento que,
conforme revelam
recrutadores
profissionais, os
candidatos a emprego têm
a péssima mania de
“inflar” os seus
currículos, normalmente
listando uma língua que
não dominam ou
experiências que nem
chegaram perto de ter.
Em face disso, o
profissional de
recrutamento precisa ser
meticuloso em sua
análise, checando e
rechecando as
informações prestadas
pelo aspirante ao cargo,
para que a sua indicação
seja precisa.
É igualmente comum –
embora indesejável –
observar políticos
exagerarem os seus
supostos feitos ou
proezas em discursos ou
falas. Lembro-me, por
sinal, de uma famosa
novela exibida na minha
adolescência, O
Bem-Amado, cujo
protagonista, o prefeito
Odorico Paraguaçu,
extraordinariamente
interpretado pelo ator
Paulo Gracindo, fazia
estripulias no campo da
linguagem em seus
pronunciamentos para
justificar as suas
tramoias.
Histórias à parte, tal
hábito, infelizmente,
continua entranhado em
nosso meio. Aliás,
recordo-me igualmente de
certo político do
passado da minha querida
São Paulo, que costumava
usar este expediente
para ganhar a simpatia
do eleitorado. A sua
fala caricaturada era
tão distante da
realidade, tão eivada de
inverdades, que,
geralmente no dia
seguinte, os jornais
tratavam de publicar
artigos desmentindo-o
com veemência. Triste
figura!
No entanto, mais triste
ainda é o fato de se
tratar de atitude
generalizada, isto é,
muito longe de ser
apanágio exclusivo dos
políticos espertalhões.
Sabe-se agora que também
educadores mentem
descaradamente sobre os
seus cursos e diplomas.
A propósito, um
candidato a ministro
recentemente teve o seu
currículo acadêmico
devassado e, para a sua
infelicidade, inúmeras
inconsistências foram
encontradas.
O resultado foi a
simples retirada do
convite para assumir
posição altamente
relevante na
administração pública do
país. Por conta disso,
esse indivíduo – embora
não seja o único, vale
frisar – terá de
conviver com uma
dolorosa pecha para o
resto dos seus dias. O
seu caso despertou a
atenção para outros que
também mentiram sobre os
seus títulos, mas que
gozam de maior
complacência. Até mesmo
no Espiritismo –
valha-me Deus – há gente
que afirma ter conhecido
em tom de jactância este
ou aquele expoente,
esquecendo-se da sempre
elogiável discrição como
princípio.
Seja como for, a questão
central é que mentir não
é uma atitude sã. Tal
desvio de conduta revela
que o seu portador
possui alguma
anormalidade que o
impede de se apresentar
ao mundo tal como é. Por
isso, independentemente
das nossas
características
intrínsecas ou
extrínsecas, não devemos
temer a atitude de
empregar a verdade em
todas as ocasiões. O
cultivo da verdade é
diretriz seguida por
almas essencialmente
maduras, cientes da sua
real condição, e que não
sucumbem mais aos apelos
das falsas aparências.
Consagrar-se ao hábito
de mentir, por outro
lado, é conduta típica
daqueles que não
conseguem alcançar o
estado ou condição que
propalam, e que se valem
desse recurso obscuro
para alcançar vantagens
ou conquistas
imerecidas. Mas como não
há mal que fique
indefinidamente
encoberto, um dia a
verdade vem à tona e com
ela a vergonha de ser
desmascarado. Na
verdade, os recursos
tecnológicos ora
existentes contribuem
significativamente para
desvendar a verdadeira
identidade de cada um.
Diria, por isso, que
mentir é
fundamentalmente perda
de tempo, já que se
gasta o precioso recurso
em atividades que não se
sustentarão para sempre.
Posto isto, recorro uma
vez mais ao ensinamento
do Espírito Joanna de
Ângelis, no livro Luz
da Esperança (psicografia
de Divaldo Pereira
Franco): “Acostuma-te a
ser fiel à verdade e ela
estará à tua frente,
abrindo-te os caminhos
por onde palmilharás,
sem que receies ser por
ela seguido, corrigindo
as tuas informações e
dando a dimensão do teu
comportamento, como
sucede ao mentiroso”.
Sendo assim, sejamos
verdadeiros em todas as
circunstâncias de nossas
vidas. Não atribuamos a
nós características ou
feitos que ainda não
somos capazes de
realizar.
Nota:
[1]
Avaliei outros aspectos
no seguinte artigo:
Enfrentando os males da
mentira. O
Consolador [On-line],
ano 12, nº 578, 29 de
julho de 2018. Para
acessar, clique
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