A sofisticação moral de Kardec
A ideia de Kardec sempre girou em torno da
sofisticação moral do ser humano.
Entenda-se sofisticação no sentido positivo e
construtivo, que impele o ser a superar-se, a
vencer suas limitações e a elevar-se em espírito
e verdade.
Quando lemos sua obra, percebemos esta
preocupação constante, tanto que em diversos
momentos o objetivo de Kardec é oferecer aos
seus leitores e estudiosos o que de mais nobre
poderia ser concebido em termos morais.
Assim, tem-se um permanente curso de
aperfeiçoamento espiritual, a ser acessado por
todos em quaisquer momentos da existência. E,
como as grandes lições da Humanidade, não há
custo a ser pago, os ensinamentos são gratuitos
e estão disponíveis, facilmente, ao alcance de
um clique. As obras de Kardec já são, há
bastante tempo, de domínio público, o que
significa que as traduções, em português, de
seus livros, podem ser facilmente acessadas em
equipamentos disponíveis na palma da mão, como
os celulares.
Para ilustrar trazemos a questão de número 886
de "O Livro dos Espíritos". Do mesmo modo como,
antes, no item 625, do mesmo livro, portanto,
anterior à própria questão 886, Kardec recebe
das Inteligências Superiores a informação de que
o homem Jesus é a referência moral para a
Humanidade e, ele, Kardec, então, quer saber
qual o verdadeiro sentido da caridade, como a
entendia aquele Pescador de Almas.
Percebe-se, neste ponto, a preocupação de Kardec
em nivelar por cima, com a intenção de oferecer
ao homem um norte moral dos mais sofisticados, e
este norte é encontrado em Jesus e sua doutrina.
A resposta dos Espíritos prova isso:
"Benevolência para com todos, indulgência para
com as imperfeições alheias, perdão de ofensas".
A caridade, então, tem tríplice viés e alcance:
inicia com a bondade, o ato de agir no bem,
independente de quem seja o interlocutor em
nosso caminho; adotar a indulgência que é a
atitude natural e espontânea diante das
imperfeições alheias, aquilo que os indivíduos
conseguem, no momento, oferecer, dada a sua
condição espiritual evolutiva; e, por fim, o
perdão em relação às ofensas alheias, que
decorre dos dois elementos anteriores porque,
sendo bons e indulgentes, compreendemos que
precisamos agir diferentemente, não destinando,
a quem quer que seja, nenhuma paga, ou uma
atitude na mesma moeda, no padrão de ofensa
recebido.
Cumpre mencionar que não há uma fórmula, uma
bula ou um manual para o proceder em relação aos
que nos rodeiam. A base empírica, racional,
lógica e virtuosa brota de cada situação em que
vamos aprendendo a entender melhor o semelhante,
sem exigir dele reciprocidade nem a mesma
reflexão que nós já temos, em função das nossas
experiências.
E o bom é que podemos tentar sempre,
experimentar todos os dias e ir progredindo
conforme nossas capacidades.
Não é sofisticado isso?