O Reinado do Amor
Estamos a atravessar tempos difíceis. Isso não constitui
segredo para ninguém. Tempos atormentados, dolorosos, em
que, inegavelmente, a Humanidade está sendo posta à
prova na sua capacidade de superação, resiliência,
cooperação, esperança… Não só a Humanidade como um todo,
mas cada um de nós, individualmente, está perante a
oportunidade de provar a si mesmo e à sua consciência o
que vale realmente como Ser Espiritual que é, carregado
dos mais diversos valores adquiridos ao longo da já
longa jornada evolutiva.
Por todo o lado, vemos o reconhecimento, mais ou menos
generalizado, de que agora, como nunca, a Terra está a
passar por um momento crucial, em que será dado mais um
passo determinante para o cumprimento do seu destino.
Mesmo entre pessoas com poucos conhecimentos no que
respeita a espiritualidade, ou de crenças mais
tradicionais onde o progresso planetário não é objeto de
estudo, parecem ter, com a atual situação pandêmica,
começado a tomar consciência de que “algo de superior”
tem de estar a presidir aos acontecimentos,
proporcionando-nos oportunidades valiosas de reflexão e
mudança, assim como possibilitando ao próprio planeta e
à sua Natureza aproveitarem o ensejo para se regenerarem
de alguns dos estragos que temos vindo a infligir-lhes
com a nossa irresponsabilidade e interesses
economicistas desenfreados.
Nós, espíritas, sabedores do fato de que já por cá temos
andado vezes e vezes sem conta, acompanhando e
vivenciando numerosas épocas históricas com as
respectivas oportunidades de aprendizagem, dizemos mais:
agora, mais uma vez, uma nova oportunidade nos está
sendo facultada pelo Amor do Pai, que não se cansa de
nos incentivar e conduzir na senda do progresso. Mais
uma oportunidade, que não será, certamente a última,
como não é, isso sabemos, a primeira. O que aprendemos
com as oportunidades que nos foram dadas anteriormente?
Dizem alguns que nada temos aprendido. Continuamos a
incidir nos mesmos erros. E que, passado este tempo de
desespero e dor, tudo continuará na mesma. Temos uma
propensão para o erro, e egoisticamente, passado o
susto, continuaremos a agir da mesma forma e depressa
esqueceremos as reflexões que agora fazemos.
Nada de mais errado. Não podemos cair na tentação do
negativismo, que não nos deixará avançar e encarar com
coragem as mudanças de atitude que se fazem tão
necessárias. Se nos convencermos de que somos incapazes
de mudar, nada faremos para contrariar essa ideia.
Cairemos na posição de estacionamento (já que o
retrocesso é contra a Lei de Progresso a que não podemos
fugir). Deus não nos dá prova superior às nossas forças.
Não nos daria oportunidades que saberia, de antemão, que
seríamos incapazes de encarar. Se aqui estamos,
precisamente nesta época, a viver os acontecimentos
atuais, e não na posição de desencarnados, é porque
Deus, e os Espíritos que nos assistem e orientam, nisso
viram utilidade para a nossa caminhada evolutiva. E eles
esperam e contam ver-nos sair vitoriosos.
Tentemos refletir na questão colocada acima: se muitas
outras oportunidades já nos foram dadas, o que teremos
aprendido com elas? Tudo. Foram elas que fizeram de nós
o que hoje somos. A inteligência, o conhecimento, a
sensibilidade com que olhamos e analisamos a situação
atual, a piedade, a nossa visão pessoal das coisas e das
situações, o modo como vemos e aceitamos os outros, como
sentimos a sua dor e o sofrimento, a capacidade de
refletir nos próprios atos, o desejo de crescer a nível
pessoal e de com isso contribuir para um mundo melhor…
tudo isso é o resultado do somatório das aprendizagens
realizadas no caminho percorrido ao longo dos milênios.
Mas também o orgulho que ainda nos tolhe, a preguiça de
avançar mais rapidamente, de sair da nossa zona de
conforto e de trabalhar pelo bem comum, a tendência ao
desânimo e ao desespero perante as dificuldades, o
comodismo, o egoísmo… também eles são o resultado das
oportunidades desperdiçadas e das aprendizagens que
poderíamos ter feito e não fizemos.
Apesar disso, em resultado da tal sensibilidade
cultivada e apurada desde vidas anteriores, hoje, talvez
como nunca em épocas anteriores, sentimos cada vez mais
a dor do outro como nossa. E olhamos o mundo como a casa
comum, que é necessário amar e preservar como um
verdadeiro lar onde todos têm direito ao seu quinhão de
felicidade e bem-estar. Isso leva-nos a importantes
reflexões. A atual pandemia veio pôr a descoberto o
quanto temos andado a “brincar” com os recursos que Deus
nos concede, como bens comuns. Em vez de, colocando a
inteligência e os conhecimentos adquiridos ao serviço do
progresso geral, tornarmos este planeta um verdadeiro
lar em que todos possam encontrar um lugar de trabalho e
aperfeiçoamento, alçando o planeta a condições mais
elevadas na escala dos mundos, em nome dos interesses
mesquinhos de uns, agravamos a situação de pobreza e
miséria de outros. Em vez de os povos se unirem e
amarem, como membros de uma família universal,
dividimo-nos e guerreamo-nos, deixando certas zonas
planetárias completamente entregues ao sofrimento que
poderia ser combatido e minorado com a boa vontade dos
países mais favorecidos materialmente.
Por interesses políticos, econômicos, consumistas,
racistas, até religiosos, acentuamos as diferenças
sociais entre os povos, realidade que esta pandemia veio
pôr a descoberto, mostrando que alguns países não têm a
mínima condição para o combate ao vírus que a todos
atormenta. Mas o que é de notar, até os países que se
julgam ricos e cientificamente e tecnologicamente
avançados estão em dificuldades, perante uma situação
que é de todos, e para a qual não estavam (pasme-se!)
minimamente preparados. Talvez agora nos apercebamos
todos da importância da mudança de paradigma e da adoção
de outras atitudes, abandonando as ideias velhas e nos
preparando para um futuro mais digno e harmonioso.
Jesus ofereceu-nos a solução. Desde há mais de dois mil
anos nos tem alertado para a necessidade de construir o
Reino de Deus, o Reino do Amor. Construí-lo dentro de
nós e no mundo que habitamos. Mas, tristemente, o mundo
ocidental, de tradição maioritariamente judaico-cristã,
na ilusão orgulhosa de detentor da verdade, é o que tem
perpetuado os maiores erros, é o que mais tem falhado.
Que temos feito das lições e das advertências de Jesus?
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, insistia o
Mestre, fazendo da Lei do Amor a principal condição para
a construção do Reino de Deus. Mas, compreendendo a
dificuldade que teríamos no cumprimento dessa tão
“simples” condição, também avisou: “O meu reino não é
deste mundo”, ou seja, não seria neste mundo, pelo menos
tão cedo, que essa lei se cumpriria. Mas terá de ser
assim para sempre?
Em O Livro dos Espíritos, Capítulo XI, Amar o
próximo como a si mesmo, o Espírito Lázaro explica-nos:
“O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o
sentimento por excelência, e os sentimentos são os
instintos elevados à altura do progresso realizado”. No
mesmo capítulo, garante-nos o Espírito Fénelon: “O amor
é de essência divina. Desde o mais elevado até o mais
humilde, todos vós possuís, no fundo do coração, a
centelha desse fogo sagrado”. As advertências dos
Espíritos que se manifestam na Codificação Espírita
mostram-nos que o cultivo do sentimento do amor é algo
que está ao alcance de todos e é imprescindível o
apuramento desse sentimento, tal como Jesus nos ensinou.
Estaremos nós, atualmente, mais aptos à vivência do
amor? Estamos convictos que sim. Reparemos que é nos
momentos em que a dor aperta, nos momentos de calamidade
maior, em que a segurança geral se vê abalada, que a
nossa sensibilidade mais desperta, e, com ela, os
sentimentos de solidariedade, compaixão, partilha… Vemos
isso despertar por todo o lado, de uma forma bastante
evidente. Atitudes negativas que antes tolerávamos como
rotineiras, em relação a humanos e até mesmo animais,
hoje parecem-nos inconcebíveis e repugnantes. Por quê?
Porque evoluímos. Já não somos os mesmos. Ou antes,
somos os mesmos, mas diferentes, porque aprendemos e
apuramos o sentimento. Temos estado a crescer
intelectualmente e moralmente. A passinhos curtos,
talvez demasiado curtos, mas estamos em crescimento
constante. E por isso, de vez em quando, a
Espiritualidade Superior dá-nos um “empurrãozinho”
piedoso, para que acordemos e avancemos com passos mais
seguros. Por quê? Por Amor. Sempre por Amor.
O Amor é o motor que faz avançar o Universo. Foi por
Amor que Deus nos criou. Foi por Amor que Jesus desceu
dos Páramos Superiores até ao nosso mundo atrasado, para
nos fazer subir com Ele. É por Amor que temos numerosos
Amigos Superiores a trabalhar incansavelmente para que
agarremos todas as oportunidades de crescimento e
possamos fazer a nossa amada Terra avançar na escala dos
mundos.
É por Amor, com o Amor e pela prática do Amor que
haveremos de construir aqui mesmo na Terra o Reino de
Deus, solicitado no Pai Nosso, quando pedimos ao Pai
“venha a nós o Vosso Reino, assim na Terra como nos
Céus”. Faça-se aqui na Terra o que já se está fazendo
nos Céus: o Reino do Amor, da Harmonia, da Paz, da
Solidariedade entre os homens e entre os povos. Será
esse o reino de Deus, em qualquer lugar e em qualquer
tempo que nos encontremos. Se não estivesse ao nosso
alcance, Jesus não no-lo teria anunciado. E não nos
teria ensinado como alcançá-lo.
É hoje e aqui o tempo certo. É esta a hora de
enfrentarmos o desafio com Coragem e Fé. Não
desperdicemos mais uma oportunidade que Deus nos
concede… mais uma vez. Inauguremos, de uma vez por
todas, o Reinado do Amor.
|