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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Caracterizando a humildade


De todas as virtudes, a humildade talvez seja a de mais difícil entendimento. Haja vista a expressão pobre de espírito que muitos, ainda hoje, não entendem e que se refere à própria humildade, segundo caracterizou Kardec.

Humildade não é:

Simploriedade: qualidade daquele que é muito crédulo, tolo, ingênuo.

Subserviência e submissão, que retratam muitas vezes a covardia, ou a bajulação interesseira.

Desleixo que é a falta de cuidado ou higiene.

Pobreza: muitos pobres são acentuadamente soberbos.

Mas do que se trata essa virtude?

Emmanuel vai defini-la como o reconhecimento de nossa pequenez diante do universo.[i] Trata-se, portanto, de uma atitude íntima onde o sujeito vê-se pequeno diante de toda a realidade existente.

Joanna de Ângelis, por sua vez, acrescenta que esse sentimento se acompanha de uma certificação do que se é, do que se já alcançou, e, de forma alguma, de uma tendência (quase sempre hipócrita) de negar o próprio valor.

Segundo a benfeitora, mente todo aquele que exibe dotes que não possui, quanto o indivíduo que os esconde e nega. [ii]

Mas estas duas constatações íntimas se acompanham de um desejo sincero de ir além do que se é, de ultrapassar fronteiras, se colocando na condição de aprendiz.

Assim, três traços comportamentais estão presentes na Humildade:

(1) identificação de nossas imperfeições,

(2) reconhecimento de nosso valor e

(3) atitude de quem crer aprender e evoluir.

Sem o reconhecimento de nossa pequenez, não nos colocamos na posição de aprendizes (nada há a ser aprendido). Sem a identificação do que já temos não temos como saber aonde ir.

Imaginemos um cidadão que vai, pela primeira vez, à cidade do Rio de Janeiro, assistir a uma conferência no Hotel Copacabana Palace. Em certo momento, verifica-se completamente perdido, sem saber o que fazer. Encosta, então, seu carro, toma o celular e liga para um amigo que lá reside e indaga:

Como faço para chegar ao Hotel Copacabana?

Obviamente, o amigo lhe fará a seguinte pergunta:

Onde você está?

Se ele não souber dizer onde está, será impossível saber aonde ir.

Isso é evidente na personalidade de Jesus. Recusou o adjetivo de bom, mesmo sendo o Governador espiritual da Terra, mas aceitou o qualificativo de mestre. Não se considerava bom, porque diante de Deus, reconhecia sua pequenez, mas admitiu ser mestre, ou seja, o que ensina.

Isso também é evidente em Pitágoras. Um de seus contemporâneos, encantado com suas virtudes, lhe disse:

Você é um sábio!

Ele retruca:

Não, não sou; conheci muitos sábios, mas eu não sou. O que eu sou é um filósofo (amante da sabedoria).

Identificamos nessa personalidade os três traços da humildade.

1 - Outros estão muito à sua frente. Estes são os verdadeiros sábios: reconhecimento da pequenez.

2 - Ele possui a virtude do amor ao saber, já é uma conquista sua: identificação do próprio valor.

3 - Como amante do saber, ele se coloca na condição de aprendiz.

Tão extraordinário é esse sentimento, que Kardec reproduz, em O Evangelho segundo o Espiritismo, o seguinte pensamento:

Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita virtude, com orgulho.[iii]


 

[i] Pensamento e vida.
[ii] Vida feliz.
[iii] E.S.E., cap. XVII.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita