Caridade
Em meados de dezembro de 2019, uma pneumonia de causa
não identificada foi reportada ao escritório da
Organização Mundial de Saúde (OMS) na China.
Provavelmente surgiu ali nova cepa de coronavírus,
chamada de coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda
grave (covid-19).
No decurso do tempo, a situação se descontrolou e a OMS
decretou a pandemia. Os países, com suas
especificidades, enfrentaram (e continuam a enfrentar) o
imenso desafio para diminuir o número de infectados e,
consequentemente, de mortos.
Os modelos epidemiológicos evidenciam que as políticas
rígidas de isolamento social, de contenção comunitária
ajudaram expressivamente na redução de infectados, no
número de óbitos e, principalmente, não permitiram que o
sistema de saúde entrasse em colapso.
Nestes dias turbulentos, nunca foi tão premente a noção
e vivência da ética e, também, da responsabilidade
social. Aquela pode ser compreendida não como um bloco
de gesso sobre o que é "certo" ou "errado", mas,
sobretudo, como um plexo axiológico que nos permite
viver em sociedade e com responsabilidade. São valores
calcados na ciência, nos debates democráticos, na
cultura, enfim, que possibilitam um conjunto de valores
exequíveis para a vivência social. É daí que emerge a
outra noção de responsabilidade social, ou seja, aquilo
que se realiza enquanto o cidadão tem impacto direto ou
indireto sobre a vida de outras pessoas, também cidadãs.
Deste modo, é tênue a linha que separa o direito de uma
e outra pessoa. E, ao fim e ao cabo, estamos todos
interligados nesta aldeia global, para tomar de
empréstimo o conceito de McLuhan.
Não se pode olvidar também que há uma premência
econômica que demanda ações que possibilitem a
existência humana com dignidade. Sim, pessoas estão em
condições financeiras difíceis e o número de pessoas que
estão a passar fome se agiganta a passos largos.
Neste sentido, o governo brasileiro, ainda pífia e
timidamente, possibilita que milhões de pessoas recebam
um auxílio emergencial (ainda que muito aquém do
esperado e do que poderia ser ofertado) com o escopo de
diminuir as agruras das massas.
É neste estado de coisas que surgem as ações altruístas
das mais variadas pessoas, dos mais diferenciados
segmentos religiosos ou não.
Saltam aos olhos as ações de caridade das
pessoas, para diminuir as dores físicas e morais dos
menos aquinhoados.
Alimentos não perecíveis, roupas, materiais de higiene,
corte de cabelo, possibilidade de se tomar banho,
comezinhos do dia a dia que, para quem não possui nada,
é uma fortuna!
Há muitos a fazerem caridades para as pessoas mais
simples.
“Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham
em torno de si. Nada exprime com mais exatidão o
pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do
homem, como essa máxima de ordem divina.” (KARDEC, p.
213)
A pandemia evidenciou muitas desigualdades sociais: o
tédio das classes média/alta em ficar em casa, em
isolamento. E a luta diária das massas, pobres, que
precisam trabalhar para manterem o mínimo para a
dignidade.
Há, ainda, aqueles “anjos anônimos” que estão a fazer a caridade
silenciosa: a prece para aqueles que
desencarnaram por conta do vírus; a prece pelos
familiares que se desesperaram e não puderam se despedir
dos entes queridos, seguindo os ritos tradicionais do
velório e sepultamento.
Ou, ainda, a caridade material já exarada acima.
A caridade é a grande bandeira que diferencia os
Espíritos. Ela independe de religião. Há os que a
realizam, sem qualquer vínculo religioso. “Submetei
todas as vossas ações ao governo da caridade e a
consciência vos responderá. Não só ela evitará que
pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem,
porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária
uma virtude ativa.” (KARDEC, p. 213)
Neste cenário de caos, o conhecimento da Doutrina
Espírita é luz e fanal para a existência terrena.
Compreende-se que é um momento de turbulência que logo
irá passar. Há que se ter fé no porvir, esperança na
humanidade e na ciência, e praticar a caridade para
auxiliar os irmãos e irmãs mais desfavorecidos.
O Espírito Paulo diz: “Esforçai-vos, pois, para que os
vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a
reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão
são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos
praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo
da seita a que pertençam” (KARDEC, p. 213).
Referência:
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. 131. ed. Brasília: FEB, 2015.
|