Brasil
por Ana Moraes

Ano 14 - N° 684 - 23 de Agosto de 2020

Leopoldo Machado, um dos pioneiros das Semanas Espíritas

 

Para termos ideia de quem foi Leopoldo Machado, um dos pioneiros e talvez o
maior incentivador das Semanas Espíritas, que surgiram no Brasil na década de 1930, vejamos este relato que o saudoso confrade Antenor de Souza fez em uma entrevista que publicamos no dia 27 de junho de 2007 nesta revista:

 

“Em Juiz de Fora, Leopoldo Machado tinha preparado uma peça para o encerramento da Semana. Os atores eram os próprios participantes do encontro. Laís, que hoje mora em Brasília (DF), tinha ensaiado um papel importante na peça. Quando chegou o dia da apresentação, minutos antes do horário marcado, eu estava com o Leopoldo quando o telefone tocou: ‘Antenor, o professor está aí?’ Respondi: ‘Está’. ‘Então, por favor, chame-o, que eu quero falar com ele.’ Leopoldo pegou o telefone e ouviu: ‘Professor, a Lalá está batendo os pés aqui, espumando pela boca e dizendo que não vai de maneira alguma à reunião de hoje, porque ela não tem nada com esse programa de hoje, que ela não quer mais mexer com isso...’ Leopoldo lhe pediu: ‘Passe o telefone para ela’. Em seguida, ele disse: ‘Laís? Eu quero falar é com você, seu intruso, saia daí. Terça-feira nós conversaremos. Agora deixe a Laís em paz, que vamos continuar com nosso trabalho’. (N.R.: Leopoldo se dirigiu diretamente ao Espírito que atormentava Laís, como se percebe por suas palavras.) O Espírito era um ex-padre (soubemos na reunião de terça-feira, em que estivemos) que estava desesperado por causa do apogeu do Espiritismo, por causa daquela fraternidade passando pela Igreja de São Mateus, aquele monte de gente andando de braços dados, andando de um lado pro outro, ali perto...”

 

Não é preciso dizer que a jovem Laís, livre do obsessor, compareceu em seguida ao evento. Quanto à entrevista, o leitor poderá lê-la na íntegra clicando aqui

Leopoldo Machado nasceu no Arraial de Cepa Forte, hoje Jandaíra, Bahia, em 30 de setembro de 1891 e desencarnou no dia 22 de agosto de 1957, em Nova Iguaçu (RJ).

Seu ingresso nas lides espíritas deu-se em 1915; ele contava então 24 anos de idade. José Petitinga, um dos maiores vultos espíritas da Bahia, foi quem o recepcionou no meio espírita.

Algum tempo depois, casou-se com Marília Ferraz de Almeida, que é hoje mais conhecida no meio espírita como Marília Barbosa, radicando-se na cidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, onde deu início às tarefas que o tornariam conhecido em todo o País.

A ele e à esposa se deve a construção do Albergue Noturno Allan Kardec e do Lar de Jesus, destinado a acolher meninas órfãs.

Afeito à obra da educação, também se deve a ele a inauguração do Colégio Leopoldo, tradicional estabelecimento de ensino, considerado então uma das melhores organizações educacionais da Baixada Fluminense.

Jornalista, professor e escritor, Leopoldo destacou-se como grande pregador e polemista que divulgou a Doutrina Espírita por todos os meios e formas, conquistando dessa forma o respeito dos adversários do Espiritismo e a admiração dos confrades.

Leopoldo Machado incentivou as novas gerações a pegar no arado com a criação das Mocidades Espíritas e das Escolas Espíritas de Evangelização para Infância.

Impulsionou as Semanas Espíritas, as Tardes Fraternas, os Simpósios, as Mesas-Redondas e os Congressos Espíritas.

Realizou o "milagre" de estar presente em quase todos os movimentos espíritas confraternativos, percorrendo todo o Brasil, exaltando o Evangelho de Jesus e a Doutrina dos Espíritos, como sendo a volta do Cristianismo Redivivo, no seu sentido mais puro, como era pregado na Casa do Caminho.

Dentre vários eventos em que teve atuação destacada, podemos citar o I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, realizado de 17 a 23 de julho de 1948, que teve à frente duas personalidades marcantes do movimento espírita brasileiro: Leopoldo Machado e Lins de Vasconcellos.

Nesse mesmo ano, Leopoldo Machado tomou parte ativa no Congresso Brasileiro de Unificação, realizado de 31 de outubro a 5 de novembro.

Em 1949, participou do 11º Congresso Espírita Pan-americano, realizado no Rio de Janeiro.

Logo depois, participou juntamente com Lins de Vasconcellos, Carlos Jordão da Silva, Francisco Spinelli, Ary Casadio e Luiz Burgos da Caravana da Fraternidade, que teve como objetivo o fortalecimento do acordo, conhecido como Pacto Áureo, que deu origem à criação do Conselho Federativo Nacional.

Deve-se também a Leopoldo a realização da Primeira Festa Nacional do Livro Espírita, em homenagem ao dia 18 de abril.

Autor de vários livros espíritas, como
Pigmeus contra Gigantes
Caravana da FraternidadeIde e Pregai e muitos outros, além de crônicas, peças teatrais, biografias,
roteiros, teses, Leopoldo compôs inúmeras canções para a mocidade e a infância, bem como para o movimento espírita em geral. Uma delas é a Canção da Alegria Cristã, composta em parceria com Oly de Castro e que é bastante conhecida no meio espírita:


Canção da Alegria Cristã

 

Somos companheiros, amigos irmãos,

Que vivem alegres pensando no bem.

A nossa alegria é de bons cristãos,

Não ofende a Jesus nem fere a ninguém.

 

A nossa alegria é bem do Evangelho,

Vibra e contagia da criança ao velho.

Mesmo entre perigos daremos as mãos

Como bons amigos, como bons cristãos.

 

Sempre ombro a ombro, sempre lado a lado,

Vamos trabalhar com muita alegria

Pelo Espiritismo mais cristianizado,

Pela implantação da paz e harmonia.

 

A nossa alegria é bem do Evangelho,

Vibra e contagia da criança ao velho.

Mesmo entre perigos daremos as mãos

Como bons amigos, como bons cristãos...

 

O leitor pode ouvi-la, na voz de Margarete Áquila, clicando neste link

Leopoldo Machado sempre acreditou na força da juventude, como mola propulsora para renovação de valores do movimento espírita, da mesma forma que acreditou nos eventos confraternativos e, em especial, nas Semanas Espíritas, propondo o chamado Espiritismo de vivos, porque acreditava que

Espiritismo é alegria, é luz, é sol que, no futuro próximo, iluminará a humanidade.

Lutou, assim, pela renovação de valores e de conceitos, sem fugir aos ditames da Codificação Kardequiana.

Este é, em ligeiras palavras, um pálido registro de um dos gigantes do Espiritismo no Brasil, que nos deixou aos 65 anos, no dia 22 de agosto de 1957.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita