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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Valores e virtudes: o que importa mais desenvolver?

 
No presente texto adentramos o ferramental indispensável à construção da nossa própria luz – algo ainda extremamente negligenciado pela maioria dos humanos. Simplesmente posto, os pilares de tal realização são as nossas conquistas no campo dos valores morais e virtudes. Essas dimensões são vitais para o desenvolvimento da nossa espiritualidade. Consideremos inicialmente as inúmeras capacidades e competências demandadas dos indivíduos na atualidade. Em outras palavras, para que possamos enfrentar a experiência corporal com relativa chance de êxito precisamos – gostemos ou não – dominar muitas habilidades e instrumentos. A propósito, o advento da explosão tecnológica - calcada na inteligência artificial - só faz crescer a lista de obrigações de cunho profissional. Posto isto, o valor humano está fortemente atrelado ao domínio desses campos. Essa é a realidade nua e crua.

No entanto, a lista de deveres não se circunscreve apenas e tão somente às coisas da carreira e profissão. É preciso dilatar a visão da vida para outras fronteiras e perspectivas. Posto isto, também Deus – nosso Criador - espera algo de nós em aspectos e pontos mais transcendentes. Nesse sentido, cumpre lembrar que Jesus – o seu mais graduado missionário entre nós, com quem tinha conexões diretas - recomendou-nos a aquisição de luz interior: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5: 16).

Com efeito, todos nós tendemos a dispor de certo valor intrínseco – refiro-me a características e qualidades positivas –, produtos do nosso esforço e autoaperfeiçoamento. É também pertinente lembrar que buscar a Deus em nossas decisões e ações é antídoto eficaz contra o erro. Assim sendo, servir a Deus é acrescentar mais valor em nós mesmos (capital espiritual). E é com esse eventual patrimônio – aumentado ou estacionado - que nos reapresentaremos um dia perante a espiritualidade maior para o devido ajuste de contas, aliás, como temos feito reiteradamente ao longo dos milênios, embora não guardemos tal lembrança em nossa memória. Vale destacar que o conceito de valores morais, que basicamente engloba juízos, pensamentos e opiniões, está vinculado à noção de “certo” ou “errado” dentro de um contexto maior de sociedade.

Mais ainda, há sociedades que permanecem cristalizadas a princípios e condutas (valores, enfim) absolutamente imorais na Terra. Desse modo, para alguns povos do Oriente Médio, por exemplo, a figura de um mártir – elemento capaz de imolar-se em suposto benefício à pátria por meio de atos terroristas – é vista com veneração e reconhecimento. No entanto, à medida que os indivíduos se desenvolvem, também as sociedades passam a condenar certos hábitos e práticas que exaltam a violência e desajuste social. Assim sendo, no Ocidente, tamanho louvor a um assassino nos escandaliza profundamente.

Dito isto, só o fator espiritual – despertando-nos para realidades mais sublimadas – poderá nos ajudar no correto entendimento da real importância de adquirirmos inquebrantáveis valores universais. Dessa maneira, devidamente equipados pelo cultivo de uma fé estribada em argumentos, ideais e princípios lógicos, poderemos e deveremos ampliar o nosso valor. Nessa perspectiva, que nos aproxima inquestionavelmente mais do Criador, vale destacar as elevadas observações do Espírito Emmanuel, contidas no livro Dicionário da Alma (psicografia de Francisco Cândido Xavier): “A obtenção da fé reclama determinados valores de natureza espiritual. Buscar-lhe a luz positiva, exibindo um coração carregado de forças negativas das convenções terrestres, é o mesmo que reclamar água cristalina da fonte, trazendo um cântaro cheio de vinagre e detritos”.

O sábio mentor ainda pondera que a criatura humana “vale pela sua expressão de sentimento e de consciência, e é dentro desses valores profundos que precisamos viver, para a consecução das finalidades mais elevadas e mais puras”.

O outro pilar, como já antecipado, é o das virtudes. Preconizava Aristóteles (385-323 a.C.), o famoso filósofo grego, na sua memorável obra Nicomachean Ethics, que virtude diz respeito aos sentimentos e ações. Em outras palavras, as virtudes nos levam à obtenção das qualidades e predicados que nos alinham ao bem, da excelência moral e da conduta superior, enfim. O alinhamento da criatura inteligente a Deus (luz) pressupõe o desenvolvimento de salientes características e potencialidades no Espírito imortal. A começar pela renúncia aos males do egoísmo, orgulho e egolatria, que moldam a vida íntima da criatura humana hodierna em maior ou menor intensidade.

Num mundo tão complacente com os erros e imperfeições comportamentais como o nosso, conquistar virtudes destoa quase que completamente. Basta observar o número de personagens que destilam bizarrices e conduta aviltante. Apesar disso, eles ganham a idolatria de muitos com menor discernimento ainda. Políticos e celebridades, a seu turno, entoam discursos agressivos, assim como proferem comentários e pareceres divorciados do equilíbrio e sensatez.

Pode-se afirmar que a humanidade, infelizmente, não está comprometida com o erguimento de uma sociedade verdadeiramente virtuosa. Por isso, aceitamos com certa naturalidade a cultura dos excessos, dos vícios, da ausência de empatia e respeito. Não constitui uma diretriz geral de vida, como deveria ser, o hábito de fazer aos outros o que desejamos igualmente para nós mesmos. Portanto, os precários índices sociais e de desenvolvimento humano ora existentes refletem quão penoso é assimilar virtudes para nós. Seja como for, o fato é que a criatura que aspira a realizações espirituais necessita entesourar virtudes – único caminho para Deus.

Como claramente propôs Jesus: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5: 48). Posto isto, não podemos imaginar que vamos cooperar com os ideais celestes sem implementar amplas transformações em nossa maneira de ver e de ser.

Respondendo à pergunta que intitula esse texto, pode-se inferir que valores e virtudes são ambas as argamassas do cidadão de bem e do indivíduo espiritualizado. A criatura que sente Deus pulsar em seu interior já se comove com a dor do próximo, se inquieta com a profusão de coisas erradas existentes, se aborrece em tomar parte de empreendimentos comerciais ou esquemas empresariais inspirados pelos ideais maliciosos e soezes etc.

É chegada a hora de tomarmos uma posição perante todas as arbitrariedades que assolam o mundo. Tergiversarmos diante do mal ou aceitarmos a omissão como argumento à sobrevivência certamente não nos fará bem. Dizem os Mensageiros de Deus que temos claudicado vezes sem conta em nossa trajetória de Espíritos milenares. As desgraças que ora assolam o mundo requerem que pessoas fortes e destemidas deem a sua contribuição para o encaminhamento às soluções dos graves problemas humanos. O meu conselho, portanto, ao irmão(ã) que me lê, é o de seguir os ensinamentos de Jesus, que são puros e sábios. Invista na mudança do seu eu incorporando novos valores e virtudes. Coloque amor absolutamente em tudo que passar pela sua mão. Seja melhor, enfim, em todos os ângulos e aspectos.


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita