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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

O mito do bom selvagem e O Livro dos Espíritos

 
O mito do bom selvagem tem sua origem na obra do filósofo franco-suíço Jean-Jacques Rousseau e consiste na tese de que o ser humano era puro e inocente em seu estado natural, sendo a sociedade responsável por incutir nele valores e hábitos que o conduziriam ao conflito e aos problemas que, na visão de Rousseau, marcavam a sociedade.

Dessa forma, adotando-se esse ponto de vista, a maioria dos problemas sociais que envolvem crimes, tais como furtos, assassinatos e abusos, não seria resultado da má índole individual de seus responsáveis. Eles seriam, na verdade, o produto nefasto de uma sociedade desigual e injusta, que, ao submeter o indivíduo a uma existência miserável, o encaminha para agir diferente daquilo que é socialmente desejável.

 Desse modo, a solução dos problemas sociais passava pela necessidade de se rever as instituições modernas da sociedade. “O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”, defende o filósofo iluminista.

O pensamento apresentado por Kardec na pergunta 780-b de O Livro dos Espíritos (“os povos mais esclarecidos, frequentemente, são os mais pervertidos”), possivelmente retrata poderosa influência dessa mentalidade, ainda forte em meados do século XIX.

Estudos recentes em diferentes áreas do conhecimento humano têm mostrado que as coisas não são assim como se pensava. Indiscutivelmente, as forças sociais exercem poderosa influência nas ações humanas, estando as desigualdades sociais e, em decorrência delas, a pobreza e a miséria humanas, relacionadas como causas geratrizes da criminalidade. Todavia, muitos outros fatores, tais como os biológicos e psíquicos são relacionados pela criminologia moderna.

Esses estudos têm mostrado que, ao contrário do que acreditavam os defensores do mito do bom selvagem, a civilização, a erudição e o esclarecimento, em resumo, o desenvolvimento intelectual, são fatores que contribuem na redução da violência e da criminalidade. Povos mais esclarecidos são menos violentos e, menos frequentemente, infringem as leis.

Steven Pinker, psicólogo de Harvard, mostra, baseado em pesquisas sociológicas muito bem delineadas, na obra O novo Iluminismo, que a educação de um povo está diretamente relacionada a melhor saúde, maior expectativa de vida, mais riqueza, mais democracia, menos violência e criminalidade. As pessoas que vivem nos países mais esclarecidos e desenvolvidos tecnologicamente, em média, são menos racistas, menos sexistas, menos xenofóbicas, menos homofóbicas e menos autoritárias. São também mais propensas a fazer trabalho voluntário e a participar de associações cívicas.

Por todas essas razões o crescimento da educação é emblemático do progresso humano. E Kardec afirmou isso, nos itens 780 e 780-a de O Livro dos Espíritos: o progresso moral é decorrente do progresso intelectual, pois faz o homem compreender o bem e o mal, capacitando-o a fazer melhores escolhas.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita