No meio da noite de 4 de janeiro de 1959, Chico Xavier
bateu a porta de casa na cidade de Pedro Leopoldo e
sumiu. Sobre a cama, ainda estendido no cabide, ficou um
terno de linho branco. Na sala, restaram a vitrola,
discos de Beethoven, Bach, Noel Rosa e um retrato a óleo
de Emmanuel. No escritório, sua mesa tosca, quatro
cadeiras, um baú repleto de papéis e os quase
quatrocentos volumes de sua biblioteca. Entre dezenas de
títulos espíritas, A Divina Comédia, o Lelo Universal e
exemplares de Seleções e Almanaque Bertrand. Não se
despediu de ninguém. Com a roupa do corpo, tomou o rumo
de Uberaba. Levou apenas o velho caderno de endereços e
telefones.
Que ocorreu então?
Ele partiu para morar com Waldo Vieira, deixando para trás uma
cidade perplexa e minguante, em que Geraldo Leão, o garoto
curado por ele da paralisia facial, guardou os três lápis usados
pelo filho mais pródigo e famoso da cidade em sua última sessão
no Centro Espírita Luiz Gonzaga.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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