Joias da poesia
contemporânea

Autor: Marcelo Gama

 

Retalhos

 
Paixão é cardo na areia

Que o rochedo traz na face,

Qualquer maré que se alteia

Arranca o broto que nasce.

 

Nas mágoas do amor cativo,

A desdita mais atroz

Vem sempre de um só motivo:

Gostamos demais de nós.

 

Amar – sofrer por amor.

Ser amado – ser feliz.

Qualquer um pode ser flor,

Difícil é ser raiz.

 

Ser mais livre na existência!...

Não tentes ser livre em vão...

Às vezes, independência

É o nome da ingratidão.

 

Caridade se percebe

No câmbio melhor que há:

Quem dá tudo o que recebe

Mais recebe do que dá.

 

Nada dói mais, onde ando,

Que esta cena rude e cega:

Menino pobre fitando

O pão que o mundo lhe nega.

 

A morte tem tanta arte

Nas lições a que se aplica,

Que, às vezes, vive quem parte,

Enquanto morre quem fica.

 

Ninguém se queixe da sorte –

Luz ou lama, guerra ou paz –

Na vida, quanto na morte,

Cada um tem o que faz.

 

A vida se classifica

Por esta base singela:

Quanto mais útil, mais rica,

Quanto mais simples, mais bela.

 

Não sei que glória mais vasta,

Se da estrela na amplidão,

Se da fonte que se arrasta

Servindo a todos no chão.

 

Do livro Trovas do Outro Mundo, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita