Dormir para não sentir fome
A arte possibilita uma estada mais amena em nossa viagem
neste Lar planetário, a sensibilidade e a criatividade
trabalham para suavizar a alma, e quando é aliada ao
progresso da comunidade tem um valor ainda mais
gratificante e, por falar em progresso, trataremos sobre
a arte da combinação de sons e silêncio, a manifestação
presente em nossas vidas desde os tempos primitivos,
essa capacidade de traduzir sentimentos e valores quer
seja de um grupo, de uma cidade, de um país, ou do
mundo, quer seja de um ideal, de um movimento, quer seja
de uma religião.
Allan Kardec, interessado em compreender a influência da
música, pergunta aos Instrutores da Vida Maior se os
Espíritos são sensíveis a ela1, e tem como
resposta:
“– Quereis falar de vossa música? O que é ela perante a
música celeste cuja harmonia nada na Terra vos pode dar
uma ideia? Uma está para a outra como o canto de um
selvagem está para uma suave melodia. Entretanto,
Espíritos vulgares podem sentir um certo prazer ao ouvir
vossa música, porque ainda não são capazes de
compreender uma mais sublime. A música tem para os
Espíritos encantos infinitos, em razão de suas
qualidades sensitivas bastante desenvolvidas. A música
celeste é tudo o que a imaginação espiritual pode
conceber de mais belo e mais suave”.
Refletindo sobre essa elucidação dos benfeitores posso
compreender que a elevação de pensamentos e de
equilíbrio emocional poderá revelar esta estética suave,
o encanto que ainda não amadurecemos o sentimento para
perceber a melodia que conquistaremos com as atitudes
rítmicas e os valores harmônicos que estamos por
desenvolver.
A intenção norteia os mais íntimos desejos e determina o
valor dos atos, o timbre dessa linguagem, a intensidade
da comunicação universal quando utilizada gravemente
para uma causa nobre e sua duração, bem como ajudar o
outro movimentando a altura do querer bem, a
fraternidade.
O Instituto Baccarelli, criado em 1996 após o incêndio
que queimou parte dos barracos da favela de Heliópolis
em São Paulo, tem como intuito ensinar músicas, ensejar
um futuro para as crianças e promover ações sociais para
a comunidade. 2
Devido à pandemia, as aulas presenciais estão suspensas
e um aluno não havia participado da aula on-line;
questionado sobre o motivo, o garoto justificou que
estava dormindo, pois “quando dorme não sente fome”,
então, o Instituto se movimentou doando alimentos para a
família e lançou a campanha de arrecadação de alimentos
para as famílias que estavam atravessando situação
semelhante. A Instituição não é autossustentável
materialmente, entretanto, ela conta com voluntários que
se sensibilizam com a comunidade e concentram suas
energias, força e esforços para que elas tenham contato
com a música, tocando um instrumento e, assim como
muitos alunos, conseguirem viver da arte, não precisando
dormir para enganar a fome.
Quando estou a par de tais movimentos caritativos, me
sinto mais reconfortada também quando participo, mas não
deveria. Os Benfeitores elucidam o que nos parece
magnifico; não é grande coisa para eles, que nos
observam como simples estudantes. O que faço é fraco e
curto; os trabalhadores do Cristo têm consideração
quando contribuímos para a elevação de nossos
semelhantes e, por seu progresso3, a
assistência material não é o bastante assim como a nossa
música, que requer a fonte sonora sublime. Mas posso
tocar através das ondas que propagam as frequências da
amizade, vibrando compreensão, alegria e gratidão.
Referências bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos
Espíritos. Tradução de Salvador Gentile. 175°
questão 251. Edição. Araras. São Paulo. Editora IDE.
2007.
2. Regiane Soares. Música vira
instrumento de solidariedade em Heliópolis, zona sul de
SP. Disponível em: link-1 Acesso
em: 6 de set, 2020.
3. KARDEC, Allan. O Livro dos
Espíritos. Tradução de Salvador Gentile. 175°
questão 316. Edição. Araras. São Paulo. Editora IDE.
2007.
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