Dupla beneficência
A caridade, na forma externa, é suficientemente
conhecida.
Toda organização assistencial é uma bênção de Deus,
atenuando a penúria e o sofrimento onde surja.
Existe, porém, a beneficência mais íntima, que se
comunica, de alma para alma, nas bases do silêncio e da
compreensão.
A caridade mais íntima socorre a pessoa em necessidade
sem aparecer; fala-lhe aos recessos do espírito sem
palavras articuladas; apoia-lhe a vida sem mostrar-se; e
ilumina-lhe o coração, sem ofuscar-lhe o entendimento.
Experimenta semelhante trabalho e observarás quanta
alegria se te exteriorizará da existência.
Se conheces a necessidade de alguém, não esperes que
esse alguém se coloque de joelhos a suplicar-te favor e
estende-lhe o auxílio de que possas dispor; na hipótese
de te faltarem recursos para isso, encontrarás os meios
de sugerir a companheiros outros para que o façam, sem
que a tua influência se mostre.
Quando te convenças de que essa ou aquela criatura te
requisita atenção para determinado assunto, ainda mesmo
que disponhas de tempo escasso, podes dedicar-lhe alguns
momentos, nos quais a tua palavra lhe signifique o
apreço que te merece.
Nos problemas de natureza familiar, descobrirás, sem
dificuldade, a trilha mental, no instante justo, através
da qual consigas transitar, restaurando a harmonia
doméstica, sem esperar agradecimentos.
Ante o amigo que se suponha em erro, saberás
despertar-lhe as qualidades superiores que, porventura,
estejam adormecidas, afastando-lhe os pensamentos de
quaisquer sombras.
Perante uma criatura querida que te haja desfechado essa
ou aquela ofensa, reconhecerás que estará ela em momento
difícil e que te cabe esquecer o contratempo havido, já
que em lugar desse ou daquele ofensor poderíamos estar
nós com os desacertos e precipitações que ainda nos
caracterizam.
Não nos esqueçamos da beneficência externa que nos
irmana uns aos outros, através da assistência recíproca,
nas experiências do cotidiano, mas atendamos à
beneficência mais íntima, que ampara sem mostrar-se,
erguendo sentimentos e levantando almas para a elevação
de hoje, que perdurará nas alegrias do hoje e sempre.
Do livro Convivência, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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