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por Rogério Coelho

 

Individualidades coletivas

 

Todos aqueles que numa existência vêm a estar reunidos por uma tarefa comum, já viveram juntos para trabalhar com o mesmo objetivo

 

“Quem matou com a espada, perecerá pela espada.” - Jesus. (Mt., 26:52.)

 

O Espiritismo explica a causa dos sofrimentos individuais como consequências das faltas cometidas em existências passadas... Mas, uma vez que cada um só é responsável pelas próprias faltas, não se explicam, satisfatoriamente, as desgraças coletivas que atingem as aglomerações de indivíduos, às vezes, uma família inteira, toda uma cidade, toda uma nação, toda uma raça, todo o planeta como nos dias atuais com este terrível vírus, e que se abatem tanto sobre os bons como sobre os maus, assim sobre os inocentes, como sobre os culpados.  Como explicar?!

Eis a resposta de Clélia Duplantier[1]: “(...) todas as leis que regem o Universo, sejam físicas ou morais, materiais ou intelectuais, foram descobertas, estudadas, compreendidas, partindo-se do estudo da individualidade e da família para o de todo o conjunto, generalizando-as gradualmente e comprovando-se-lhes a universalidade dos resultados... Outro tanto se verifica hoje com relação às leis que o estudo do Espiritismo dá a conhecer. Podem aplicar-se as leis que regem o indivíduo à família, à nação, às raças, ao conjunto dos habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas. Há as faltas do indivíduo, as da família, as da nação; e cada uma, qualquer que seja o seu caráter, se expia em virtude da mesma lei. O algoz, relativamente à sua vítima, pode encontrar-se em sua presença no Espaço, quer vivendo em contato com ela numa ou em muitas existências sucessivas, até à reparação do mal praticado. O mesmo sucede quando se trata de crimes cometidos solidariamente por certo número de pessoas. As expiações são também solidárias, o que não suprime a expiação simultânea das faltas individuais.

Três caracteres há em todo homem: 1 - Do indivíduo, do ser em si mesmo; 2 - do de membro da família; 3 – do de cidadão, e sob cada uma dessas três faces pode ele ser criminoso e virtuoso, isto é, pode ser virtuoso como pai de família ao mesmo tempo em que criminoso como cidadão e reciprocamente. Daí as situações especiais que para si cria nas suas sucessivas existências.

Salvo alguma exceção, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que numa existência vêm a estar reunidos por uma tarefa comum já viveram juntos para trabalhar com o mesmo objetivo e ainda reunidos se acharão no futuro, até que hajam atingido a meta, isto é, expiado o passado, ou desempenhado a missão que aceitaram.

Graças ao Espiritismo compreendeis agora a justiça das provações que não decorrem dos atos da vida presente, porque reconheceis que elas são o resgate das dívidas do passado. Por que não haveria de ser assim com relação às provas coletivas?! Dizeis que os infortúnios de ordem geral alcançam assim o inocente, como o culpado, mas não sabeis que o inocente de hoje pode ser o culpado de ontem? Quer ele seja atingido individualmente, quer coletivamente, é o que mereceu. As faltas coletivas são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se encontram de novo reunidos, para sofrerem juntos a pena de talião, ou para terem o ensejo de reparar o mal que praticaram, demonstrando devotamento à causa pública, socorrendo e assistindo aqueles a quem outrora maltrataram... Assim, o que é incompreensível e inconciliável com a justiça de Deus, se torna claro e lógico mediante o conhecimento dessa Lei.

solidariedade, portanto, que é o verdadeiro laço social, não o é apenas para o presente; estende-se ao passado e ao futuro, pois que as mesmas individualidades se reuniram, reúnem e reunirão, para subir juntas a via do progresso, auxiliando-se mutuamente. Eis aí o que o Espiritismo faz compreensível, por meio da equitativa lei da reencarnação e da continuidade das relações entre os mesmos seres”.

Com esses esclarecimentos, podemos compreender melhor por que se lê no dólmen que emoldura o túmulo do Mestre Lionês a seguinte frase: “naître, mourir, renaître encore et progresser sans cesse, telle est la loi”. 


 

[1] - KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 25. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1990, 1ª parte.




 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita