Individualidades
coletivas
Todos aqueles que numa existência vêm a estar reunidos
por uma tarefa comum, já viveram juntos para trabalhar
com o mesmo objetivo
“Quem matou com a espada, perecerá pela espada.” -
Jesus. (Mt., 26:52.)
O Espiritismo explica a causa dos sofrimentos
individuais como consequências das faltas cometidas em
existências passadas... Mas, uma vez que cada um só é
responsável pelas próprias faltas, não se explicam,
satisfatoriamente, as desgraças coletivas que atingem as
aglomerações de indivíduos, às vezes, uma família
inteira, toda uma cidade, toda uma nação, toda uma raça,
todo o planeta como nos dias atuais com este terrível
vírus, e que se abatem tanto sobre os bons como sobre os
maus, assim sobre os inocentes, como sobre os culpados.
Como explicar?!
Eis a resposta de Clélia Duplantier:
“(...) todas as leis que regem o Universo, sejam físicas
ou morais, materiais ou intelectuais, foram descobertas,
estudadas, compreendidas, partindo-se do estudo da
individualidade e da família para o de todo o conjunto,
generalizando-as gradualmente e comprovando-se-lhes a
universalidade dos resultados... Outro tanto se verifica
hoje com relação às leis que o estudo do Espiritismo dá
a conhecer. Podem aplicar-se as leis que regem o
indivíduo à família, à nação, às raças, ao conjunto dos
habitantes dos mundos, os quais formam individualidades
coletivas. Há as faltas do indivíduo, as da família, as
da nação; e cada uma, qualquer que seja o seu caráter,
se expia em virtude da mesma lei. O algoz, relativamente
à sua vítima, pode encontrar-se em sua presença no
Espaço, quer vivendo em contato com ela numa ou em
muitas existências sucessivas, até à reparação do mal
praticado. O mesmo sucede quando se trata de crimes
cometidos solidariamente por certo número de pessoas. As
expiações são também solidárias, o que não suprime a
expiação simultânea das faltas individuais.
Três caracteres há em todo homem: 1 - Do indivíduo, do
ser em si mesmo; 2 - do de membro da família; 3 – do de
cidadão, e sob cada uma dessas três faces pode ele ser
criminoso e virtuoso, isto é, pode ser virtuoso como pai
de família ao mesmo tempo em que criminoso como cidadão
e reciprocamente. Daí as situações especiais que para si
cria nas suas sucessivas existências.
Salvo alguma exceção, pode-se admitir como regra geral
que todos aqueles que numa existência vêm a estar
reunidos por uma tarefa comum já viveram juntos para
trabalhar com o mesmo objetivo e ainda reunidos se
acharão no futuro, até que hajam atingido a meta, isto
é, expiado o passado, ou desempenhado a missão que
aceitaram.
Graças ao Espiritismo compreendeis agora a justiça das
provações que não decorrem dos atos da vida presente,
porque reconheceis que elas são o resgate das dívidas do
passado. Por que não haveria de ser assim com relação às
provas coletivas?! Dizeis que os infortúnios de ordem
geral alcançam assim o inocente, como o culpado, mas não
sabeis que o inocente de hoje pode ser o culpado de
ontem? Quer ele seja atingido individualmente, quer
coletivamente, é o que mereceu. As faltas coletivas são
expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas
concorreram, os quais se encontram de novo reunidos,
para sofrerem juntos a pena de talião, ou para
terem o ensejo de reparar o mal que praticaram,
demonstrando devotamento à causa pública, socorrendo e
assistindo aqueles a quem outrora maltrataram... Assim,
o que é incompreensível e inconciliável com a justiça de
Deus, se torna claro e lógico mediante o conhecimento
dessa Lei.
A solidariedade, portanto, que é o verdadeiro
laço social, não o é apenas para o presente; estende-se
ao passado e ao futuro, pois que as mesmas
individualidades se reuniram, reúnem e reunirão, para
subir juntas a via do progresso, auxiliando-se
mutuamente. Eis aí o que o Espiritismo faz
compreensível, por meio da equitativa lei da
reencarnação e da continuidade das relações entre os
mesmos seres”.
Com esses esclarecimentos, podemos compreender melhor
por que se lê no dólmen que emoldura o túmulo do Mestre
Lionês a seguinte frase: “naître,
mourir, renaître encore et progresser sans cesse, telle
est la loi”.
-
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 25. ed.
Rio [de Janeiro]: FEB, 1990, 1ª parte.