Nahur Fonseca (foto), um dos
coordenadores do Encontro da Família, que é
realizado anualmente nos Estados Unidos, é o
nosso entrevistado.
Brasileiro e espírita desde os 10 anos de idade,
é natural da capital de São Paulo, mas reside em
Boston, Massachusetts (EUA), onde participa das
atividades realizadas pela Sociedade Espírita
Allan Kardec de Massachusetts (Allan Kardec
Spiritist Society of Massachusetts).
Como você conheceu o Espiritismo? E o que lhe
chama mais atenção?
Meus pais me levavam às aulas de evangelização
infantil do Centro Espírita Loreto Flores, em
Belo Horizonte. Desde cedo participava das
reuniões com os assistidos da casa, ajudando a
passar manteiga nos pães que eram servidos,
entre outras tarefas. Alguns anos depois, fui-me
envolvendo com o movimento juvenil, nos
encontros de carnaval de Contagem, COMECON e de
Belo Horizonte (COMEBH). Sempre me chamaram a
atenção os estudos profundos, a arte espírita e
as ações sociais; campanhas de cestas básicas,
cobertores, visitas a hospitais infantis e a
asilos, leprosários, casas para crianças com
deficiências cerebrais etc. O movimento de
assistência social espírita no Brasil é
riquíssimo.
Estando agora no exterior, como vê a expansão da
ideia espirita nos Estados Unidos?
Nos últimos 15 anos, o movimento expandiu-se com
eventos unificadores como o próprio Encontro
Espírita da Família, que coordenamos, e tantos
outros como o Simpósio Espírita dos Estados
Unidos (U.S.
Spiritist Symposium),
que acontece anualmente em estados diferentes
envolvendo todos os centros espíritas da
federação americana. A publicação da revista
espírita em inglês (The
Spiritist Magazine),
o surgimento de rádios web e canais de vídeos em
inglês, a tradução das obras de Kardec, Emmanuel
e André Luiz também foram aceleradas nos últimos
15 anos.
Os grupos são constituídos só por brasileiros?
Ocorre também a adesão de pessoas de outras
nacionalidades?
A maioria dos centros são dirigidos por
brasileiros, muitos deles cidadãos americanos.
Mas há também casas espíritas que foram fundadas
ou são atualmente dirigidas por americanos
natos. Algumas casas espíritas conduzem todos os
seus trabalhos em inglês como a SSB, SSVA,
enquanto outras são mistas. Na evangelização
infantil, contudo, todos precisam falar o
inglês, pois muitas crianças nascidas aqui usam
o inglês como primeira língua. A adesão de
americanos se dá por relacionamentos com
brasileiros, ou por divulgação em mídia social
ou impressa.
Fale-nos da experiência com o Encontro Espírita
da Família.
O Family Spiritist Retreat começou com o
desejo de educadores ou evangelizadores
espíritas de trocarem experiências e de promover
um encontro de jovens, nos moldes dos encontros
de carnaval no Brasil. Devido às imposições
logísticas e nossas limitações, idealizou-se um
encontro num parque público, com atividades para
toda a família, o qual é organizado por dezenas
de casas espíritas da região nordeste dos
Estados Unidos: Nova Iorque, Nova Jersey,
Connecticut, Massachusetts, Rhode Island, mas
que também conta às vezes com participantes de
outras regiões. O ambiente espiritual do parque
é algo de outro mundo. Sempre sentimos a
presença amiga e hospitaleira dos Espíritos e
todas as famílias parecem envolver-se, pois o
dia é sempre muito alegre. Durante todos esses
17 anos, pudemos testemunhar o crescimento do
movimento da juventude, da colaboração dos
centros da região e das atividades na língua
inglesa. Claro que somos apenas uma pequena
parte do conjunto, mas ficamos contentes de ver
de perto essas mudanças positivas.
Como é montada a programação?
Logo após o final do evento, as ideias de temas
para o próximo ano começam a surgir. Então,
durante os seis meses que se passam, continuamos
realizando reuniões remotas, trocando material
de estudo, organizando as equipes de trabalho, e
aí vamos desenhando o programa, de forma que
cada casa espírita tenha um papel a desempenhar:
pode ser uma aula de evangelização para bebês,
ou para jovens, ou a responsabilidade pela
alimentação ou limpeza, e assim por diante. No
dia do encontro, cerca de 300 pessoas se reúnem.
Cada faixa etária possui uma camiseta de uma cor
diferente, para fácil identificação e separação
de grupos, o que dá um colorido a mais na
natureza do parque.
Este ano foi diferente. Devido à pandemia, nós
resolvemos fazer o encontro sem presença de
público, ou seja, on-line.
Quais os resultados que considera tenham sido
mais expressivos?
Nós não temos a visão dos Espíritos para
aquilatar o impacto de nossos encontros no
contexto do movimento espírita americano.
Acredito, porém, que nossa perseverança em criar
um encontro para famílias espíritas na língua
inglesa, sem a exclusão do público que apenas
fala português ou espanhol, tenha colaborado com
a mentalidade de que precisamos criar mais
conteúdo, eventos e programas para atender o
público da língua inglesa.
Como se deu a interação com os outros países no
Encontro deste ano?
A resposta dos jovens ao nosso pedido de envio
de perguntas foi surpreendente. Recebemos cerca
de 80 perguntas de cerca de 20 países
diferentes. Não só isso, mas estudiosos de
vários países também enviaram suas respostas.
Após o encontro virtual do final de semana
passada, os jovens resolveram criar um grupo
para se manterem em contato. E já estão fazendo
planos para se reunirem mensalmente, com o
objetivo de discutir as demais perguntas que não
puderam ser discutidas no dia do encontro. Ao
que nos parece, o movimento de juventude
espírita, individualmente falando, de cada país,
é ainda muito pequeno. Portanto, a abertura de
um grupo de mocidade espírita mundial através do
uso da tecnologia, ao que nos parece, seria uma
via natural para saciar essa sede do jovem
espírita de se conectar com outras mentes jovens
que compartilham os mesmos ideais.
Algo marcante que gostaria de relatar?
Nós não tínhamos a menor ideia de que um evento
virtual seria capaz de tocar as famílias de
maneira tão profunda. Depoimentos após
depoimentos disseram sempre a mesma coisa, isto
é, que todos ficaram surpresos com o nível de
envolvimento. A empatia, o sentir com o coração
do outro, na minha opinião, foi a experiência
mais marcante desse encontro.
Suas palavras finais.
Há muito sofrimento no mundo. A mensagem
espírita tem um poder consolador em nossas
vidas. Isso estava evidente nos vídeos que os
jovens de todo mundo nos enviaram com mensagens
de consolo e esperança. Se você tem essa paixão
pelo Espiritismo, por um mundo melhor para
todos, então, procure unir-se aos esforços de
tantos trabalhadores valorosos no movimento
espírita, ou fora dele, buscando levar a
mensagem do Cristo e a construção do Reino de
Deus no coração do homem.
Que Jesus nos abençoe sempre.
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