Entre dor e
bem-aventurança
"Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas
sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas
pecadores."1
Pululam na Terra os maus Espíritos, aprendemos na
codificação Kardequiana.2 Sabemos
que isso ocorre porque aqui neste Lar cedido por Jesus
Cristo há homens de igual condição. Chico Xavier nos
mostra uma ótica sobre a maldade; ele diz que o mal é
apenas ignorância, portanto, se faz mister identificar o
que se ignora; convenhamos, deveras complicado listar e
mais ainda querer, principalmente porque ela diz
respeito sobre si mesmo e sobre o amor.
Kardec, com seu talento filosófico, valendo-se da
bendita oportunidade de questionar os Instrutores da
Vida Maior sobre inúmeros conteúdos e sobre este mote,
recebe dos benfeitores a afirmação de que “o bem é tudo
o que está de acordo com a Lei de Deus, e o mal é tudo o
que dela se afasta”.3
Todo o tempo estamos sob alguma influência. Neste
momento estamos sendo influenciados a pensar sobre nós,
sobre a saúde moral, física e espiritual, em alguns
instantes, outros pensamentos invadirão nossa mente: a
internet direcionando para os mais variados assuntos, a
TV distraindo com a sua programação, as pessoas de nossa
relação ora nos brindando com conversações edificantes,
ora com problemas angustiantes, independentemente do
ambiente. Onde quer que estejamos, estamos influenciando
e sendo influenciados, imersos em uma imensa rede
invisível, transmutando ideias, impressões e nos
afinando com o que nos atrai, porém, podemos escolher,
tendo consciência de decidir se tal fato está em
consonância com as leis divinas.
Jesus questiona aos discípulos sobre quem seria Ele para
a multidão.5 Pedro
responde que seria um profeta, uns achavam ser ele o
João Batista, outros Elias, alguns Jeremias. Jesus
pergunta a Pedro: “E vós, quem dizeis que eu sou?”.
Pedro responde: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”.4 O
Cristo diz que o discípulo é bem-aventurado, pois quem
revelara isso fora o Pai celestial. Neste momento Pedro
estivera sob a influência de Deus, e Jesus narrou todas
as benesses que o apóstolo receberia por isso. Neste
mesmo capítulo, Pedro sofre outra influência. Jesus pede
para os discípulos não revelarem quem Ele era, e diz que
será martirizado, morto e ressuscitado, mas Pedro
repreende Jesus, afinal, ele é o bem-aventurado e tudo o
mais. E diz: “Senhor, tem compaixão de ti; de modo
nenhum te acontecerá isso”.
Daí ele escuta do Mestre: “Para trás de mim, Satanás,
que me serves de escândalo, porque não compreendes as
coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens”.
Num momento Pedro está sob a influência divina e, em
outro, perde a conexão. É uma situação recorrente, mais
uma vez a ignorância leva ao erro. Pedro tem boa
vontade, mas se envaidece e, então, o elo com os
pensamentos mais suaves de fé, esperança e confiança se
perdem.
Jesus deixa claro que Ele está para quem não é saudável
e ninguém é; todo ser humano carece de saúde, seja
física, psicológica, e da mais importante e abstraída –
a saúde moral – de que todos padecem. Jesus compreende
bem essa enfermidade que assola a humanidade e que
muitas vezes a ignora por vontade própria, por
negligência.
Quando ignoro o mal - aprende-se no Evangelho - há um
atenuante, mas quando sei como devo agir e desvirtuo, aí
é onde mora o perigo, pois não é possível deixar de ver
o que se viu. Por que persistir no erro, sabendo que
naquele caminho podemos cair no abismo?
Aprendemos, no contato com a literatura espírita, que os
Espíritos nos influenciam mais do que supomos5.
Além das influências terrenas, temos as sugestões
espirituais. Do mesmo modo que aconteceu com Pedro, o
tipo de influência vai sempre depender do que estamos
pensando, de como estamos agindo, e de como estamos
servindo. O servir é uma bênção muito mais para quem sai
de si e olha para o outro. Foi o que Jesus ensinou a
todo instante. Não sou só eu, pois me conecto com a dor,
com a necessidade do outro, eu me construo quando saio
de mim e priorizo amenizar a angústia do meu irmão,
utilizar este instrumento para me libertar do egoísmo.
Quanto mais primaveras cumpro no Planeta, mais o corpo
vai se debilitando, as enfermidades se apresentando e
ensinando muito sobre mim, sobre qual influência
abraçar, se sofrerei na ignorância ou na
bem-aventurança.
Referências bibliográficas:
1 BÍBLIA. Marcos 2:17.
2 KARDEC. Allan. A Gênese.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2ª. ed. 1 imp.
Brasília: FEB, 2013. Cap. XIV, item 45, p. 258.
3 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de
Salvador Gentile. 175° Edição. Araras. São Paulo.
Editora IDE. 2007. Questão 630.
4 BÍBLIA.
Mateus 16-13:23.
5 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução
de Salvador Gentile. 175° Edição. Araras. São Paulo.
Editora IDE. 2007. Questão 459.
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