Fuga
Os cristãos antigos viram companheiros que desertavam da
luta, a pretexto de ouvir o Senhor no silêncio da
clausura e na quietude das terras de ninguém, supondo
erroneamente que as sombras da tentação enxameassem à
distância deles próprios.
Foram eles os anacoretas de todos os matizes que
lançaram as bases do retiro espiritual que, ainda hoje,
se ergue em numerosas instituições que atravessaram os
séculos.
Hoje, porém, conhecemos os cristãos que fogem apavorados
de si mesmos, não mais buscando o silêncio inútil do
espaço ermo, mas, sim, o ruído ensurdecedor do mundo
externo, em cujos entretenimentos pretendem esquecer as
obrigações que o Senhor lhes confia.
Muitos adotam o mergulho nos prazeres sensoriais
acordando com o tédio a envenenar-lhes o dia, enquanto
outros muitos avançam aos negócios da falaciosa riqueza
humana, despertando nos dolorosos pesadelos da penúria
espiritual em que se lhes aniquilam todos os sonhos.
Legiões deles buscam ouvir amigos desencarnados, com
receio do próprio julgamento, ao passo que longas filas
desses irmãos desavisados se atiram ao sorvedouro das
mais perigosas ilusões, temendo a verdade que lhes brada
advertências no próprio seio.
Antigamente, fugia o aprendiz do Evangelho das linhas
atormentadas da luta humana, procurando escutar o
Senhor. Hoje, retiram-se numerosos deles do templo da
responsabilidade, com medo da própria consciência.
Seja qual for o campo de serviço e provação a que foste
trazido, não abandones o arado do dever, alegando
incapacidade ou fraqueza na tarefa que nos cabe cumprir.
Lembremo-nos de que Deus não nos concede problemas de
que não estejamos necessitados e, por isso,
transformando as dificuldades da vida em preciosas
lições, saibamos extrair de todas elas a divina luz da
experiência que nos habilitará o Espírito ao afastamento
do abismo da sombra e do escuro vale da morte.
Do livro Refúgio, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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