A culpa e a mágoa como fixações mentais se expressam
pela ausência do autoperdão e do perdão
O sentimento de culpa é o sofrimento obtido após
reavaliação de um comportamento passado tido como
reprovável pela própria pessoa. A origem
deste sentimento pode ser a frustração causada pela
idealização que fazemos e o que realmente aconteceu,
podendo ou não estarmos diretamente ligados ao fato. No
entanto, a contínua alimentação dessas emoções negativas
pode causar o aparecimento de doenças.
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Sobre o assunto, o dr. José Henrique Rubim de Carvalho,
médico e presidente da Associação Médico-Espírita de
Nova Friburgo (RJ), concedeu-nos a |
entrevista seguinte, em que apresenta a
relação entre a culpa e suas implicações
espirituais para a saúde integral. |
O sentimento de culpa não trabalhado psicologicamente
pode propiciar o aparecimento de enfermidades?
Entende-se que a fixação da culpa está atrelada à
rigidez comportamental. A criatura rígida, inflexível e
intransigente, devido ao padrão de poder que estrutura
seu psiquismo, apresenta muita dificuldade em lidar com
os erros e fracassos. Mergulha nas frustrações e na
baixa autoestima, desaguando nos quadros depressivos. O
rígido, obstinado em suas dominações e controles, termina no
translado desses comportamentos para a indumentária
física, acarretando as doenças da rigidez. Sendo a culpa
um complexo de fixação, como nos fala André Luiz,
funciona como num circuito fechado, ou seja, o culpado
encontra-se ensimesmado e gira ao derredor da culpa
fixada, por não se perdoar ante os fracassos
inadmissíveis e por não acreditar em si próprio,
acreditando-se impotente e incapaz. Acreditamos que
neste circuito fechado as energias aí mantidas e
reforçadas podem ser geradoras de tumores, pelo
adensamento energético.
Quais tipos de doenças podem aparecer no corpo físico ou
mental derivadas dos sentimentos de culpa?
Como a culpa está ligada à rigidez comportamental e ao
padrão de poder que encontraremos nos controladores,
esta característica da personalidade rígida desemboca na
organização física, gerando as doenças da rigidez. Não
podemos esquecer-nos dos perfeccionistas que tendem a
dar uma importância superlativa a tudo, que se
autoexigem, são detalhistas em geral e nunca estão
satisfeitos com os resultados obtidos. As doenças mais
comuns da rigidez estão ligadas às alterações
osteomusculares. Observamos nitidamente a rigidez, a
inflexibilidade e o egocentrismo das criaturas que
apresentam o olhar para si mesmas, supervalorizando o
“eu”, e que ante os fracassos inaceitáveis desmoronam-se
na culpa por lhes faltar a humildade do arrependimento
sincero. A fibromialgia ou síndrome de amplificação
dolorosa é uma doença músculo-esquelética difusa, que se
caracteriza por dores no corpo, fadiga e alterações no
sono. São criaturas perfeccionistas e de rigidez
comportamental. Da mesma forma, se exigem muito e
resvalam na culpa quando se sentem incapazes, impotentes
e frustrados. Como a rigidez e a culpa se correlacionam
e seguem um regime de feedback ou
retroalimentação negativa, poderemos compreender que o
câncer também pode ter ligação com a culpa e os
caracteres de inflexibilidade e intransigência
psicológica individual e coletiva, sob a forma de
intolerância.
Toda culpa é proveniente de obsessão?
A culpa é um processo de auto-obsessão, sendo
considerada uma fixação mental. A culpa quando assumida
leva a criatura ao arrependimento e à responsabilidade
de seus futuros equívocos, havendo sempre a
representação do autoperdão. Nem sempre a culpa é
acompanhada de quadros obsessivos, principalmente os que
assumem a culpa e se perdoam. Em muitas situações os
Espíritos se fundem formando uma soldadura perispirítica
atendendo à sintonia e à afinidade que os unem, pelos
padrões comportamentais rígidos e que deságuam no
complexo de culpa. Os que se situam em padrões de poder,
os dominadores, rígidos e controladores, que não admitem
os erros e fracassos e que acabam mergulhando nas
culpas, são os alvos preferidos dos obsessores, que nem
sempre são os credores do passado, mas estão afinizados
e se identificam com os obsidiados. Um bom exemplo vamos
encontrar no livro Ação e Reação, ditado pelo
Espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier, com
informações preciosas do Espírito Leonel: "(...) - Sim,
aprendemos nas escolas de vingadores que todos
possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em
qualquer fase da vida, um ‘desejo-central’ ou ‘tema
básico’ dos interesses mais íntimos. Por isso, além dos
pensamentos vulgares que nos aprisionam à experiência
rotineira, emitimos com mais frequência os pensamentos
que nascem do ‘desejo-central’ que nos caracteriza,
pensamentos esses que passam a constituir o reflexo
dominante de nossa personalidade”.
Como o perdão ou o autoperdão auxiliam no
restabelecimento destes quadros?
A culpa e a mágoa como fixações mentais se expressam
pela ausência do autoperdão e do perdão. Normalmente a
autopunição ou autoflagelo e a vingança acompanham estas
fixações e geram estados ansiosos e depressivos, assim
como desarranjos nos arquipélagos celulares causadores
de doenças orgânicas. Portanto torna-se emergencial o
trabalho constante e diuturno do perdão e do autoperdão,
para o restabelecimento homeostático do corpo e da alma.
Perdoar em verdade depende da avaliação consciente da
intenção e das emoções de quem nos ofendeu, ou seja,
colocar-nos no lugar do outro e tentar compreender o que
o levou a cometer determinada atitude, como também o que
nos levou a praticar o equívoco no trabalho de
autoperdão.
Qual a melhor terapêutica para as pessoas que se
culpabilizam facilmente, seja por pequenos erros
próprios ou alheios?
Como dito, a terapêutica consiste no trabalho do perdão
e do autoperdão. Para isso é necessário a compreensão de
si mesmo pelo autoconhecimento, para então tentarmos
compreender o próximo, que não é a extensão de nós
mesmos, decorrente do mecanismo de projeção psicológica.
Quando começamos a nos conhecer, qual o sentimento
presente em nosso psiquismo, partimos para a
ressignificação, que é a tentativa de compreender nossas
atitudes, assim como das demais criaturas. A
ressignificação é a abertura das janelas do perdão e do
autoperdão que diluem as mágoas e as culpas.
A meditação dirigida para a monoideia da culpa ou da
mágoa coloca a criatura diante de sua realidade
irrecusável e, desde que aceita, proporcionará a
inclusão dos opostos, que são o perdão e o autoperdão.
Haverá então a integração como primeiro passo para a
transformação do neurótico. É um exercício constante que
deve ser praticado utilizando o poder neuroplástico do
cérebro. A prática vai conferindo à criatura uma
abertura psíquica, acurando a atenção e a percepção dos
sentimentos, antes reprimidos e negados, que
arremessavam os incautos aos fossos dolorosos das
patologias.