Lazer em pandemia
Todos buscam no lazer uma forma de esvaziar as tensões
do cotidiano. A mente e o corpo agradecem quando fazemos
boa escolha e descarregamos as energias tóxicas que
acumulamos.
Sempre haverá opções de lazer que nos satisfaçam, mas a
sensação agradável de nos sentirmos renovados
psiquicamente depende muito da escolha. Há lazeres que
irritam, perturbam (sem que se perceba), ao invés de
relaxar.
Atualmente, a pandemia tem dificultado a circulação das
pessoas, e muito do que se fazia antes tornou-se por
enquanto desaconselhável. Mas, ainda assim, é possível
cuidar da mente e do corpo, mesmo com limitação e até
precarização dos espaços. De certo modo estamos sendo
obrigados a dar nova chance para hábitos que estavam
esquecidos ou não mereciam de nós a mínima atenção.
Acreditando que as sugestões de isolamento social
continuarão ainda por um bom tempo, não custa nada nos
cuidarmos, enquanto a ciência trabalha a nosso favor.
Com a necessidade de ficarmos mais em casa, o ideal é
tentar escapar da sensação de inatividade, de perda de
tempo. Com menos envolvimento social, o lazer passa a
ser individual e familiar: um bom filme, uma boa música,
livros que aumentem as nossas reservas de conhecimento,
o bate-papo descontraído, as tarefas criativas e
desafiadoras, os exercícios físicos disciplinados, e até
brincadeiras e jogos em família.
E quem sabe ouvir, de um bom contador de “causos”, umas
instrutivas histórias, feito as que se ouvia do vasto
repertório do poeta popular Cornélio Pires que, nos anos
1930 e 40, viajava pelo Brasil com sua mala cheia de
“conversa”, inaugurando, à moda caipira, o que hoje se
conhece como stand-up. Um dos seus mais fiéis
intérpretes atualmente é o ator Rolando Boldrin,
encontrado facilmente na internet. Ouvi-lo é garantia
certa de riso, emoção e espiritualidade.
O contador de “causos” é geralmente uma pessoa
bem-humorada e seu principal objetivo é envolver os
ouvintes nas tramas da alegria ingênua. Costuma ser
autêntico, natural e brejeiro. Todos se encantam com o
seu aparente descompromisso. Os ingredientes
particulares do seu estilo prendem a atenção, ativam a
imaginação, aguçam a inteligência, e arrancam lágrimas
de emoção ou de riso contagiante. Coisas que a escolha
infeliz de lazer raramente proporciona.
Eu acredito muito no poder do humor como forma tangente
de escapar do cansaço e dar qualidade ao nosso lazer. E
em tempos de pandemia a internet tem sido a salvação de
muita gente.
E para quem não se sinta atendido com nenhuma das
sugestões citadas, e não se importe em arriscar-se além
do necessário, um belo e atento passeio ao ar livre, em
diálogo calmo com a natureza pode ser a opção. Desde que
com máscara e muita consciência do respeito que deve a
si e aos semelhantes.
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