Pensamento mágico e pensamento
lógico
Encontram-se, ainda, em nosso movimento
espírita, confrades excessivamente crédulos,
ingênuos, que aceitam qualquer informação, sem
ajuizar quanto à possibilidade lógica do fato ou
do argumento. Algo estranhável em uma doutrina
que teve seus alicerces fundados na razão e no
bom senso.
Como entender isso? O que falta a essas pessoas,
que não são pessoas más, mas que acabam
assumindo uma postura inadequada, pois
obviamente fantasiosa, mística, supersticiosa?
O tema nos leva a examinar o próprio
desenvolvimento da qualidade do discernimento,
do pensar racional e do senso lógico.
Steven Pinker, psicólogo de Harvard, em seu
último livro, O novo iluminismo, examina
o assunto a partir do seguinte questionamento:
por que uma espécie dita inteligente é
facilmente conduzida à insensatez?
Pinker relaciona ao pensamento mágico três
fatores:
Primeiro, nossos cérebros são limitados em sua
capacidade de processar informações e evoluíram
em um mundo sem ciência e outras formas de
checagem de fatos. Nossa preocupação era
simplesmente a sobrevivência e tudo aquilo que
não se relacionava a ela não tinha importância.
Não “treinamos” cognitivamente o discernimento.
Segundo, a ignorância ainda prevalece em grande
parte da população. Falta-nos informações
precisas que nos ajudem a desenvolver um
raciocínio lógico.
E, finalmente, um terceiro fator, nossa lealdade
a uma subcultura da qual fazemos parte. Todos
nós nos identificamos com tribos ou subculturas
particulares, e cada uma delas abraça um credo
sobre assuntos diversos. Essa crença pode se
tornar a pedra de toque, uma senha, um lema, uma
marca distintiva, um valor sagrado ou um
juramento de fidelidade a uma dessas tribos. O
pastor, o padre, o médium poderoso pensam assim
e garantem que é assim. Por fidelidade a eles,
abdico da faculdade do raciocínio, e penso
assim, também.
Fica claro, pelo exposto, que lideranças (talvez
fique melhor falar-se em “pseudolideranças”)
autoritárias de direita e esquerda não se
incomodam com isso. Quanto menos pensamento
crítico, mais submetidos estarão todos aos seus
comandos.
O caminho para a construção de um pensamento
lógico, segundo o psicólogo de Harvard, não pode
ser outro senão a educação progressista e o
esclarecimento libertador, trabalhando junto às
consciências, o mais precocemente possível, no
desenvolvimento da habilidade do pensar
racional.
Allan Kardec, também, pensava assim: só a
educação pode melhorar o homem. Curiosamente,
Kardec faz referência indireta ao tema, quando
examina a estatística dos espíritas, em artigo
na Revista Espírita de janeiro de 1869.
Procurando entender quanto ao fato de existir
significativa maioria masculina nas reuniões
espíritas, em sua época (70% eram homens),
Kardec relaciona a dificuldade de grande parte
das mulheres em assimilar o pensamento espírita
à menor escolaridade delas, o que limita o
desenvolvimento do pensamento racional.
Escreveu Kardec:
Não é menos constante que, em todas as reuniões
espíritas, os homens estejam em maioria. É,
pois, injustamente que a crítica pretendeu que a
Doutrina é recrutada principalmente entre as
mulheres, em virtude de sua inclinação para o
maravilhoso. É precisamente o contrário: essa
inclinação para o maravilhoso e para o
misticismo em geral as torna mais refratárias
que os homens; essa predisposição faz que
aceitem mais facilmente a fé cega, que dispensa
qualquer exame, ao passo que o Espiritismo, não
admitindo senão a fé raciocinada, exige reflexão
e dedução filosófica para ser bem compreendido,
para o que a educação estreita dada às mulheres
as torna menos aptas que os homens.
Parece bem definido no pensamento de Kardec a
relação estabelecida entre educação estreita e
pensamento mágico, advertindo que a aquisição de
funções cognitivas que levam a um pensar
racional passa por um processo educacional
apropriado.
Com a palavra os educadores!