“Como sabes, meu caro Wantuil, nem todas as publicações
poderiam ser corretas, no caso escandaloso, e nem todos
os jornalistas me procuraram com boas intenções. Mas
como sabes também, e conforme assevera o nosso Emmanuel,
‘na tarefa mediúnica, não podemos agradar a todos, mas
não devemos desagradar a ninguém’. Minha situação era
muito delicada e mesmo assim não faltaram inúmeros
confrades que me escreveram cartas impiedosas e
irônicas, quando liam reportagens em desacordo com a
verdade dos fatos, como se eu devesse controlar todos os
jornais que escreveram sobre o acontecimento. Alguns me
perguntaram acremente se eu não estava obsidiado e se já
não havia enlouquecido. [...]. Continuemos, meu amigo,
em nossos trabalhos, edificados na consciência tranquila.” (Trecho
de carta dirigida por Chico Xavier ao presidente da
FEB.)
No caso Humberto de Campos, além dos embaraços causados pela
natureza do processo, causou perplexidade o conhecimento dessa
carta e a constatação de que existem irmãos nossos, isto é,
pessoas que se dizem espíritas, capazes de escreverem uma carta
a alguém de maneira impiedosa e irônica. E mais: de se dirigirem
a Chico Xavier ofendendo-o, pedindo-lhe contas de seus atos,
transformando-se em juízes descaridosos e frios, como se lhes
coubesse esse direito em relação a outro ser humano. É triste
verificarmos quanto ainda somos pouco cristãos. Não assimilamos
quase nada dos ensinamentos do Cristo. É o caso de nos
perguntarmos: onde está o Evangelho em nós? E quanto à Doutrina
Espírita, o que apreendemos, assimilamos e incorporamos à nossa
vivência?
A lição do Mestre prossegue ecoando ao longo dos tempos para
aqueles que têm ouvidos de ouvir: “Atire a primeira pedra aquele
que estiver sem pecados”.
Chico Xavier, no entanto, nem sequer mencionou nomes. Poderia
tê-lo feito, pois escrevia a um amigo do seu coração. Não
acusou, todavia, a ninguém. Não fez referências desairosas.
Apenas explicou a Wantuil que muitas publicações não são
corretas e que alguns jornalistas não o procuravam com boas
intenções. Chico quis apenas que Wantuil estivesse a par da
verdade. Não se preocupou em divulgar a realidade ou esclarecer
os demais. Permanecia, como sempre, em sua extraordinária
vivência evangélica.
Neste trecho refere-se a Emmanuel: “na tarefa mediúnica, não
podemos agradar a todos, mas não devemos desagradar a ninguém”.
Com paciência apostolar Chico sempre seguiu este conselho,
doando constantemente o melhor de si mesmo. As pessoas,
entretanto, em sua maior parte, não se contentam com o que
recebem. Querem sempre mais. Estão sempre exigindo e cobrando,
especialmente dos médiuns.
Do livro Testemunhos de Chico Xavier, de Suely Caldas
Schubert.
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