Diferenças e diferentes
O objetivo deste texto é levantar, de maneira
despretensiosa, algumas questões de ordem moral
e espiritual que permitam melhorar os nossos
relacionamentos, a partir de um processo
reflexivo sobre elas.
Em O Livro dos Espíritos, na questão 804,
temos um ensinamento que assim nos diz:
”Necessária é a variedade das aptidões, a fim de
que cada um possa concorrer para a execução dos
desígnios da Providência, no limite do
desenvolvimento de suas forças físicas e
intelectuais”.
O que poderíamos extrair desse ensinamento?
Em primeiro lugar, que as diferenças sempre
existiram, existem e existirão pela simples
razão de termos sido criados em tempos
diferentes e com aproveitamento das experiências
de maneira desigual. Mais uma vez aqui, se faz
necessária a compreensão do princípio
reencarnatório para que possamos admitir essas
diferenças e, até mesmo, compreender a Justiça
Divina.
Filosoficamente falando, as diferenças têm
conotações de rara beleza e profundidade, como
nos ensina Ermance Dufaux, no seu livro “Mereça
Ser Feliz”. No entanto, na maioria das vezes,
acabam por gerar uma série de conflitos e
adversidades. Não só nas nossas relações
familiares ou profissionais, mas também nos
núcleos espiritualistas, sejam eles de que ordem
forem, observa-se o desafio de se estabelecer
uma relação harmoniosa e fraterna, quando nos
deparamos com aqueles que não pensam e agem como
nós. Assim, não escapam desse comportamento nem
aqueles que já estão no caminho da busca
espiritual.
E agora, reportando-nos a esses, incluindo-nos,
obviamente, é importante salientarmos que o
respeito por todos aqueles que são diferentes,
diríamos, distintos, únicos, é atitude da maior
relevância para o nosso crescimento espiritual,
pois a não aceitação dos outros pelas diferenças
que se estabelecem, leva-nos a tratá-los com a
indiferença. Por sua vez, a indiferença gera
algo mais grave que é a exclusão afetiva como
solução para as dificuldades nos
relacionamentos.
Inegavelmente, conviver é difícil, chega a ser
mesmo um desafio. Porém, como em todas as
coisas, necessitamos “aprender a conviver” para
que a indiferença gerada pelo descaso não acabe
gerando em nós, ausência de solidariedade.
O terceiro milênio, no qual já adentramos,
promete ser o milênio do homem interiorizado,
lembrando que as grandes transformações, tanto
no campo das ideias como também na própria
estrutura do planeta, já se iniciaram e elevarão
o nosso orbe à condição de mundo de regeneração,
no qual só habitarão Espíritos que já tiverem
desenvolvido os sentimentos de solidariedade e
fraternidade.
Desse modo, não mais se justifica olharmos de
maneira negativa as diferenças, mas, sim,
buscarmos nelas condições de aprendizado
construtivo, tanto para aprendermos como
disponibilizarmos os nossos próprios talentos e
aptidões.
Diferenças não são defeitos, tampouco os
diferentes são nossos oponentes. Quando
abdicamos do afeto, caímos invariavelmente nas
masmorras do desamor. Assim, tenhamos atitudes
positivas de combate ao nosso personalismo, que
ainda é o grande obstáculo para o nosso
crescimento espiritual.
Jesus, na Parábola do Semeador, ao se reportar
aos vários terrenos em que foram distribuídas as
sementes, deixa-nos um tratado sobre as
diferenças e suas etapas. Os solos da narrativa
correspondem aos níveis evolutivos em que cada
qual dará frutos conforme suas possibilidades.
Benditos sejam os diferentes com suas
diferenças!