Os espíritas festejam
neste mês os 175 anos de nascimento de Léon Denis
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Com uma palestra proferida na última sexta-feira, dia 1º
de janeiro, por Charles Kempf, estimado confrade
radicado na
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França, os espíritas europeus celebraram mais um
aniversário de nascimento, o de número 175, de Léon
Denis, o filósofo do Espiritismo, autor das obras
espíritas mais importantes depois das que nos foram
legadas por Allan Kardec. |
A palestra foi programada por várias instituições
espíritas do Velho Continente, a saber, Buss & Irish
Spiritist Federation, Kardec Group e Kardec Radio, como
sendo o primeiro passo para a Celebração do Ano Léon
Denis, com divulgação de seus livros, ensinamentos e
ações, por meio das várias plataformas e meios que o
movimento espírita utiliza atualmente.
Quem é Léon Denis
Léon Denis nasceu em uma aldeia chamada Foug, situada
nos arredores de Tours, na França, em 1º de janeiro de
1846. Bem cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos
manuais e os pesados encargos da família, mas sentiu,
desde seus primeiros passos neste mundo, que os amigos
invisíveis o auxiliavam. No lugar de participar em
brincadeiras próprias da juventude, procurava
instruir-se o mais possível e tornou-se, graças a isso,
um autodidata sério e competente.
Tinha como hábito olhar, com interesse, para os livros
expostos nas livrarias. Foi assim que um dia, aos 18
anos de idade, o chamado acaso fez com que sua atenção
fosse despertada para O Livro dos Espíritos, de
Allan Kardec. Ele o comprou e, recolhendo-se
imediatamente ao lar, entregou-se com avidez à leitura.
Sobre esse livro o próprio Denis disse: “Nele encontrei
a solução clara, completa e lógica, acerca do problema
universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria
espírita dissipou a minha indiferença e as minhas
dúvidas”.
No seu apostolado nas lides do Espiritismo, ele teve de
enfrentar sucessivos obstáculos: o materialismo e o
positivismo, que desdenham as ideias espíritas, e os
crentes das demais correntes religiosas, que não hesitam
em aliar-se aos ateus para tentarem ridicularizar e
enfraquecer a doutrina espírita. Claro que, como bom
paladino, ele os enfrentou a todos, com a ajuda dos
companheiros invisíveis, que se colocavam ao seu lado
para o encorajar e exortá-lo à luta. “Coragem, amigo −
disse-lhe o Espírito de Jeanne − estaremos sempre
contigo para te sustentar e inspirar. Jamais estarás só.
Meios ser-te-ão dados, em tempo, para bem cumprires a
tua obra.”
No dia 2 de novembro de 1882, dia de Finados, um evento
de extrema importância produziu-se em sua vida: a
manifestação, pela primeira vez, do Espírito de Jerônimo
de Praga, que durante meio século haveria de ser seu
guia, seu melhor amigo, seu pai espiritual. “Vai, meu
filho, pela estrada aberta diante de ti. Caminharei
atrás de ti para te sustentar”, disse-lhe Jerônimo de
Praga.
O apostolado
Foi a serviço da escola laica que Denis ofereceu, em
primeiro lugar, seus dotes excepcionais de homem de ação
e de pensamento. Em 1880, aos 34 anos de idade, ele se
tornou a alma do Círculo Turanês da Liga do Ensino e,
com Jean Macé, fundou os primeiros círculos de
bibliotecas populares do Departamento.
Nas lides espíritas, dentre suas inúmeras ocupações, foi
presidente de honra da União Espírita Francesa, membro
honorário da Federação Espírita Internacional,
presidente do Congresso Espírita Internacional,
realizado em Paris, no ano de 1925. Teve também a
oportunidade de dirigir, durante longos anos, um grupo
experimental de Espiritismo, na cidade francesa de
Tours.
Sua atuação no seio do Espiritismo foi bastante diversa
da desenvolvida por Allan Kardec. Enquanto o Codificador
exerceu suas nobilitantes atividades na própria capital
francesa, Léon Denis desempenhou suas tarefas na
província. Sua imensa capacidade intelectual e o
descortino que tinha das coisas transcendentais fizeram
com que o movimento espírita francês, e mesmo mundial,
gravitasse em torno da cidade de Tours.
Após a desencarnação de Allan Kardec, Tours tornou-se o
ponto de convergência de todos os que desejavam tomar
contato com o Espiritismo, recebendo as luzes do
conhecimento, pois a plêiade de Espíritos que tinha por
incumbência o êxito do processo de revelação do
Espiritismo levou ao grande apóstolo toda a sustentação
necessária a fim de que a nova doutrina se firmasse de
forma ampla e irrestrita.
Enquanto Kardec se destacou como uma personalidade de
formação universitária, que firmou seu nome nas letras e
nas ciências, antes de se dedicar às pesquisas espíritas
e codificar o Espiritismo, Léon Denis foi um autodidata
que se preparou em silêncio, na obscuridade e na pobreza
material, para surgir subitamente no cenário intelectual
e impor-se como conferencista e escritor de renome,
tornando-se figura exponencial no campo da divulgação
doutrinária do Espiritismo, especialmente no setor do
livro, em que se destacam obras de grande valor, a
exemplo de “Depois da Morte”, “O Problema do Ser, do
Destino e da Dor”, “Cristianismo e Espiritismo”, “No
Invisível”, “O Grande Enigma”, “Joana d’Arc, Médium”, “O
Porquê da Vida”, “O Além e a Sobrevivência do Ser”,
“Socialismo e Espiritismo”, “O Mundo Invisível e a
Guerra” e “Síntese Doutrinária e Prática do
Espiritismo”.
Denis possuía uma inteligência robusta, era um Espírito
ilustre, grande orador e escritor, desfrutando de
apreciável grau de intuição. Referindo-se a ele,
escreveu seu contemporâneo Gabriel Gobron: “Ele conheceu
verdadeiros triunfos e aqueles que tiveram a rara
felicidade de ouvi-lo falar a uma assistência de duas ou
três mil pessoas sabem perfeitamente quão encantadora e
convincente era a sua oratória”.
Denis jamais cursou uma academia oficial, entretanto
formou-se na escola prática da vida, na qual a dor
própria e alheia, o trabalho mal remunerado e as
privações heroicas ensinam a verdadeira sabedoria. Em
face disso, ele dizia sempre: “Os que não conhecem
dessas lições ignoram sempre um dos mais comovedores
lados da vida”. Com o concurso de sua inteligência
invulgar furtar-se-ia à pobreza, mas preferiu viver
nela, pois em sua opinião era difícil acumular
egoisticamente para si aquilo que ele recebia para
repartir com os seus semelhantes.
O problema da visão
A partir de 1910 a visão de Léon Denis foi dia a dia
enfraquecendo. A operação a que se submetera, dois anos
antes, não produzira nenhuma melhora, mas ele suportava,
com calma e resignação, a marcha implacável desse mal
que o acompanhava desde a juventude. Apesar disso,
mantinha volumosa correspondência e jamais se aborrecia.
O mal físico, para ele, era bem menor do que a angústia
que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a
pena. Secretárias ocasionais substituíam-no nesse
ofício. Mas lhe era muito difícil rever e corrigir as
novas edições dos seus livros e dos seus escritos.
Após a 1ª Guerra Mundial, ele aprendeu braile, o que lhe
permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou
artigos que lhe vinham ao Espírito, pois nessa ocasião
ele estava, por assim dizer, quase cego.
Em março de 1927, com 81 anos de idade, Denis concluiu o
manuscrito que intitulou O Gênio Céltico e o Mundo
Invisível. E foi também nesse mês que a Revue
Spirite publicou seu último artigo.
Terça-feira, 12 de março, de 1927, pelas 13 horas,
respirava Denis com grande dificuldade. A pneumonia
atacava-o novamente. A vida parecia abandoná-lo, mas seu
estado de lucidez era perfeito. As suas últimas
palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar
das dificuldades, foram dirigidas à sua empregada
Georgette: “É preciso terminar, resumir e... concluir”.
Fazia alusão ao prefácio da nova edição biográfica de
Kardec. Nesse preciso momento, faltaram-lhe
completamente as forças, para que pudesse articular
outras palavras. Às 21h ele expirou e seu Espírito alçou
merecido voo rumo à verdadeira vida.