Internacional
por Thiago Bernardes

Ano 14 - N° 702 - 3 de Janeiro de 2021

Os espíritas festejam neste mês os 175 anos de nascimento de Léon Denis


 

Com uma palestra proferida na última sexta-feira, dia 1º de janeiro, por Charles Kempf, estimado confrade radicado na
França, os espíritas europeus celebraram mais um aniversário de nascimento, o de número 175, de Léon Denis, o filósofo do Espiritismo, autor das obras espíritas mais importantes depois das que nos foram legadas por Allan Kardec.

A palestra foi programada por várias instituições espíritas do Velho Continente, a saber, Buss & Irish Spiritist Federation, Kardec Group e Kardec Radio, como sendo o primeiro passo para a Celebração do Ano Léon Denis, com divulgação de seus livros, ensinamentos e ações, por meio das várias plataformas e meios que o movimento espírita utiliza atualmente.

Quem é Léon Denis

Léon Denis nasceu em uma aldeia chamada Foug, situada nos arredores de Tours, na França, em 1º de janeiro de 1846. Bem cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais e os pesados encargos da família, mas sentiu, desde seus primeiros passos neste mundo, que os amigos invisíveis o auxiliavam. No lugar de participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível e tornou-se, graças a isso, um autodidata sério e competente.

Tinha como hábito olhar, com interesse, para os livros expostos nas livrarias. Foi assim que um dia, aos 18 anos de idade, o chamado acaso fez com que sua atenção fosse despertada para O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Ele o comprou e, recolhendo-se imediatamente ao lar, entregou-se com avidez à leitura. Sobre esse livro o próprio Denis disse: “Nele encontrei a solução clara, completa e lógica, acerca do problema universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria espírita dissipou a minha indiferença e as minhas dúvidas”.

No seu apostolado nas lides do Espiritismo, ele teve de enfrentar sucessivos obstáculos: o materialismo e o positivismo, que desdenham as ideias espíritas, e os crentes das demais correntes religiosas, que não hesitam em aliar-se aos ateus para tentarem ridicularizar e enfraquecer a doutrina espírita. Claro que, como bom paladino, ele os enfrentou a todos, com a ajuda dos companheiros invisíveis, que se colocavam ao seu lado para o encorajar e exortá-lo à luta. “Coragem, amigo − disse-lhe o Espírito de Jeanne − estaremos sempre contigo para te sustentar e inspirar. Jamais estarás só. Meios ser-te-ão dados, em tempo, para bem cumprires a tua obra.”

No dia 2 de novembro de 1882, dia de Finados, um evento de extrema importância produziu-se em sua vida: a manifestação, pela primeira vez, do Espírito de Jerônimo de Praga, que durante meio século haveria de ser seu guia, seu melhor amigo, seu pai espiritual. “Vai, meu filho, pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te sustentar”, disse-lhe Jerônimo de Praga.

O apostolado

Foi a serviço da escola laica que Denis ofereceu, em primeiro lugar, seus dotes excepcionais de homem de ação e de pensamento. Em 1880, aos 34 anos de idade, ele se tornou a alma do Círculo Turanês da Liga do Ensino e, com Jean Macé, fundou os primeiros círculos de bibliotecas populares do Departamento.

Nas lides espíritas, dentre suas inúmeras ocupações, foi presidente de honra da União Espírita Francesa, membro honorário da Federação Espírita Internacional, presidente do Congresso Espírita Internacional, realizado em Paris, no ano de 1925. Teve também a oportunidade de dirigir, durante longos anos, um grupo experimental de Espiritismo, na cidade francesa de Tours.

Sua atuação no seio do Espiritismo foi bastante diversa da desenvolvida por Allan Kardec. Enquanto o Codificador exerceu suas nobilitantes atividades na própria capital francesa, Léon Denis desempenhou suas tarefas na província. Sua imensa capacidade intelectual e o descortino que tinha das coisas transcendentais fizeram com que o movimento espírita francês, e mesmo mundial, gravitasse em torno da cidade de Tours.

Após a desencarnação de Allan Kardec, Tours tornou-se o ponto de convergência de todos os que desejavam tomar contato com o Espiritismo, recebendo as luzes do conhecimento, pois a plêiade de Espíritos que tinha por incumbência o êxito do processo de revelação do Espiritismo levou ao grande apóstolo toda a sustentação necessária a fim de que a nova doutrina se firmasse de forma ampla e irrestrita.

Enquanto Kardec se destacou como uma personalidade de formação universitária, que firmou seu nome nas letras e nas ciências, antes de se dedicar às pesquisas espíritas e codificar o Espiritismo, Léon Denis foi um autodidata que se preparou em silêncio, na obscuridade e na pobreza material, para surgir subitamente no cenário intelectual e impor-se como conferencista e escritor de renome, tornando-se figura exponencial no campo da divulgação doutrinária do Espiritismo, especialmente no setor do livro, em que se destacam obras de grande valor, a exemplo de “Depois da Morte”, “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, “Cristianismo e Espiritismo”, “No Invisível”, “O Grande Enigma”, “Joana d’Arc, Médium”, “O Porquê da Vida”, “O Além e a Sobrevivência do Ser”, “Socialismo e Espiritismo”, “O Mundo Invisível e a Guerra” e “Síntese Doutrinária e Prática do Espiritismo”.

Denis possuía uma inteligência robusta, era um Espírito ilustre, grande orador e escritor, desfrutando de apreciável grau de intuição. Referindo-se a ele, escreveu seu contemporâneo Gabriel Gobron: “Ele conheceu verdadeiros triunfos e aqueles que tiveram a rara felicidade de ouvi-lo falar a uma assistência de duas ou três mil pessoas sabem perfeitamente quão encantadora e convincente era a sua oratória”.

Denis jamais cursou uma academia oficial, entretanto formou-se na escola prática da vida, na qual a dor própria e alheia, o trabalho mal remunerado e as privações heroicas ensinam a verdadeira sabedoria. Em face disso, ele dizia sempre: “Os que não conhecem dessas lições ignoram sempre um dos mais comovedores lados da vida”. Com o concurso de sua inteligência invulgar furtar-se-ia à pobreza, mas preferiu viver nela, pois em sua opinião era difícil acumular egoisticamente para si aquilo que ele recebia para repartir com os seus semelhantes.

O problema da visão

A partir de 1910 a visão de Léon Denis foi dia a dia enfraquecendo. A operação a que se submetera, dois anos antes, não produzira nenhuma melhora, mas ele suportava, com calma e resignação, a marcha implacável desse mal que o acompanhava desde a juventude. Apesar disso, mantinha volumosa correspondência e jamais se aborrecia. O mal físico, para ele, era bem menor do que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena. Secretárias ocasionais substituíam-no nesse ofício. Mas lhe era muito difícil rever e corrigir as novas edições dos seus livros e dos seus escritos.

Após a 1ª Guerra Mundial, ele aprendeu braile, o que lhe permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham ao Espírito, pois nessa ocasião ele estava, por assim dizer, quase cego.

Em março de 1927, com 81 anos de idade, Denis concluiu o manuscrito que intitulou O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. E foi também nesse mês que a Revue Spirite publicou seu último artigo.

Terça-feira, 12 de março, de 1927, pelas 13 horas, respirava Denis com grande dificuldade. A pneumonia atacava-o novamente. A vida parecia abandoná-lo, mas seu estado de lucidez era perfeito. As suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar das dificuldades, foram dirigidas à sua empregada Georgette: “É preciso terminar, resumir e... concluir”. Fazia alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec. Nesse preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças, para que pudesse articular outras palavras. Às 21h ele expirou e seu Espírito alçou merecido voo rumo à verdadeira vida.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita