Entrevista

por Orson Peter Carrara

Experiências de uma vida dedicada à causa espírita

Natural de Santo Aleixo, distrito de Magé e atualmente residindo em Petrópolis, ambos municípios do estado do Rio de Janeiro, Izaura de Azevedo Hart (foto) é Pedagoga de formação, atuou como professora, diretora de colégios e aposentou-se como Diretora do Departamento de Educação do município de Petrópolis (RJ). Espírita de infância, vincula-se à União Municipal Espírita de Petrópolis, em que dirige o Departamento de Assuntos Doutrinários. Em suas respostas dadas a esta entrevista, ela nos oferece uma visão geral de seu olhar sobre a Doutrina e o movimento espírita.

Sendo espírita de infância, o que mais lhe conquista o coração em termos do conhecimento adquirido e das experiências vividas nesses anos todos com a prática espírita?

São muitos fatores que "aliviam" meu coração e que a prática espírita me oferece, mas a certeza na imortalidade da alma é, de forma inequívoca, algo muito forte que me faz tratar a chamada "morte" de uma forma bem mais natural e tranquila, e a fé raciocinada que a nossa Doutrina nos transmite de forma tão forte. Quanto às experiências vividas, são inúmeros os fatos, tendo em vista que sou de uma época em que a Doutrina Espírita e seus seguidores eram muito discriminados e cheguei a passar por situações bem difíceis, mas que só serviram para aumentar em mim o grande amor pela Doutrina Espírita que tenho até hoje!

Na instituição espírita a que se vincula, o que lhe chama mais atenção?

A preocupação com os estudos da Doutrina Espírita, a tal ponto que chegamos a ter cerca de 250 pessoas estudando efetivamente em diferentes horários durante pelo menos 5 dias da semana, além da organização dos diferentes departamentos que funcionam em harmonia e de forma muito disciplinada.

E quanto ao movimento espírita de sua cidade?

A união e o esforço daqueles que possuem cargos administrativos em nosso 3º CEU (Conselho Espírita de Unificação) do Ceerj (nossa federativa estadual) em manter reuniões mensais e atividades conjuntas durante o ano a fim de que todas as instituições adesas trabalhem em uníssono e de forma coesa, fortalecendo os laços de amizade e do ideal.

Habitando o estado onde atuaram Yvonne Pereira, Bezerra de Menezes, Dr. March, entre tantos outros destacados vultos, o que lhe vêm à mente dizer para os leitores?

Que nossa responsabilidade é imensa, porque além desses queridos irmãos tivemos o Leopoldo Machado, o Lins de Vasconcellos, o Deolindo Amorim, Ramiro Gama, Paiva Melo, Gerson Simões Monteiro. Muitos deles conheci em minha infância e estou deixando de citar inúmeros outros que eram muito conhecidos, mas há vários que foram exemplares trabalhadores de nosso movimento e que são de certa forma anônimos, mas que nem por isso deixam de ter grande valor. São criaturas (porque continuam sendo) que, sem tecnologia assessorando-as e sem dispor de condução própria, iam aos recantos mais longínquos na tarefa de divulgação do Espiritismo. Trabalhos importantíssimos eram realizados muitas vezes com o sacrifício da vida pessoal e familiar dessas criaturas em prol de nosso ideal.

Considera eficientes na atualidade os mecanismos que estamos utilizando para divulgação do pensamento espírita? 

Sim, considero, porque se está aproveitando para divulgar o bem e o belo com os recursos que o mundo moderno dispõe a nosso favor. Antes uma carta para se marcar uma "conferência" (como era chamada) com um orador podia levar até quinze dias para recebermos uma resposta. Quando se pôde gravar as palestras em fita foi algo maravilhoso e agora tudo é rápido, prático e facilitado, basta que se tenha interesse e boa vontade para fazer chegar nosso trabalho ao outro lado do mundo.

Sendo naturalmente entusiasta do livro espírita, que destaque gostaria de comentar acerca da literatura espírita disponível?

Destaco que nossa literatura realmente respeitável aborda fatos da atualidade à luz dos ensinamentos do Espiritismo, sem esquecer as maravilhosas passagens do Cristo e sem se preocupar com as "novidades" que nada acrescentam, pelo contrário, confundem e obscurecem a luz da Terceira Revelação.

Dos dramas humanos - incluindo a obsessão -, decorrentes de fatores variados, o que mais a sensibiliza?

Quando a criatura está sofrendo profundamente quer pela perda de um ente querido, quer por uma obsessão tenaz e persistente e não consegue ter fé na vida futura, em Deus e tampouco na justiça divina – considero esse um grande sofrimento.

De suas lembranças na vivência espírita, qual o caso mais comovente já vivido?

Não é um fato espírita em si, mas algo ligado a uma tarefa que um grupo de espíritas realizou muitos anos atrás em um orfanato agrícola que passou a ter uma diretoria toda de espíritas, do qual era eu a presidente. Certa feita uma senhora foi deixar dois filhinhos ali como internos, um de 5 e outro de 3 aninhos. Ver os dois correndo atrás daquela senhora chorando até que ela desaparecesse foi uma dor tão grande para mim que ela retorna cada vez que me lembro do fato. Acompanhar a "conformação" dos dois no decorrer dos dias que se sucederam também foi muito doído, porque ela se instalou porque não havia outro jeito. Simplesmente eles abafaram a dor que permanecia lá.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Muitos momentos de profunda alegria foram vividos por mim, juntamente com outros irmãos em finais de encontros, durante os quais trabalhávamos muito e sentíamos os abraços da espiritualidade amiga comemorando conosco. Em finais de estudos com grupos variados onde se sente a grande modificação das pessoas, o modo diferente de ver a vida, proporcionando grande alegria íntima em todos os participantes. Nesses momentos de profunda comunhão dos trabalhadores com o mundo invisível se pode perceber a atmosfera diferenciada que nos envolve! Quantas bênçãos essa Doutrina nos oferece!

Suas palavras finais.

Agradeço imensamente a Deus por ter contado com a bênção da Doutrina Espírita em minha vida desde a infância, e por ter nela o meu porto seguro, a minha esperança em um futuro melhor para toda a humanidade, a força para suportar os momentos difíceis que muitas vezes parecem intransponíveis e a fé na justiça Divina! Rogo a Deus bênçãos para todos os leitores desta revista e que tenhamos a certeza de que dias melhores virão!


 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita