Simplicidade e infância
Fechei os olhos e pedi um favor ao vento. Daqui para
frente levo apenas o que couber no bolso e no coração.
Cora Coralina
O espírito do nosso tempo tem-se voltado para a ideia de
que menos é mais. É ingênuo acreditar que o que
utilizamos e descartamos não interfere na vida de mais
ninguém…
O jornalista André Trigueiro, em uma palestra no TEDx
Sudeste em 2010, nos alertou e de modo bastante
elucidativo: “sem o consumo consciente não há salvação,
não há solução para a humanidade. Nós vamos replicar o
modo operante dos gafanhotos, da praga dos gafanhotos,
que dizima os recursos naturais não renováveis num
planeta que é um só…”.
Felizmente, vemos cada vez mais pessoas trocando,
doando, dividindo, comprando usado, criando novos tipos
de economia – sustentável, colaborativa, coletiva. Por
isso, em casa, para quem tem filhos, é uma decisão
ecológico-pedagógica fiar-se em um estilo de vida
sóbrio, que põe em prática o Lowsumerism – por
exemplo, uma casa com poucos brinquedos, mas realmente
aproveitados pela criança.
Insisto com os pais: vivemos em uma época na qual
precisamos ensinar aos nossos filhos que as melhores
coisas da vida realmente não são coisas. Logo, a lógica
do consumo necessita dia a dia ser repensada pelos
adultos que dirigem a casa – precisamos de tantas
roupas, sapatos, louças, as inúmeras tralhas que vamos
acumulando?
O excesso de bens materiais, o excesso de informação, o
excesso de cacarecos acumulados em casa, os
brinquedos/objetos inúteis no quarto das crianças, tudo
isso desvia o foco do que realmente interessa: somente
somos felizes quando compartilhamos alguns dos reais
valores de nossa existência: amor, amizade, paz,
serenidade, alegria de viver. A suposta felicidade
trazida pela aquisição de bens é transitória e acaba por
nos levar a um círculo vicioso sem fim de
compra-felicidade-frustração-compra-felicidade-frustração…
De outro lado, o viver simples precisa guiar também a
vida escolar dos nossos filhos. Crianças não precisam de
tantos esportes, aulas de idiomas, de alfabetização
precoce e nem de tantas expectativas de nós, adultos.
Ter tempo livre para brincar é o que gesta a
inteligência, a fortaleza e promove o bem-estar da
criança…
Famílias que decidiram por um estilo de vida simples,
sóbrio, estimulam com mais presença (tem mais tempo
disponível) e competência as habilidades de suas
crianças, ajudando-as a crescer mais resilientes e
felizes, mais capazes de enxergar esperança na
adversidade.
Notinhas
2021 reivindica mais do que nunca mudanças ou
reafirmação de certas convicções.
Para adultos: Ser é mais importante do que ter.
Para crianças: Brincar é melhor que comprar.
Para todos: Felicidade não se compra!
Não sei se você já ouviu falar, mas Lowsumerism é
um termo que vem do inglês Low Consumerism que,
traduzindo ao pé da letra, seria algo como “consumir
pouco” – mas o conceito é algo que vai muito além disso.
Em português, o termo que combinaria melhor com essa
ideia seria “consumo equilibrado”. O Lowconsumerism não
tem como alvo a proibição das compras, mas sim que
possamos ser mais conscientes e consumir menos,
integrando em nossas rotinas três atitudes simples:
pensar antes de comprar; buscar alternativas de menor
impacto para os recursos naturais, como trocar,
consertar ou fazer; viver somente com aquilo que é
necessário.
Cf. “The Rise of Lowsumerism” (vídeo), Box 1824
(legendado).
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