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por Vladimir Alexei

 

O que temos feito do Espiritismo?


O ano de 2021 surgiu na alvorada com a esperança de quem acredita em dias melhores, após um 2020 assolado por pandemia.

Em meio a perdas de entes queridos, de empregos e de perspectivas para muitas pessoas, a saúde física e mental da população foi abalada. Alguns sobreviveram às intempéries graças ao poder de sua Fé. Outros se apegaram àquilo que melhor pudesse representar um mínimo de segurança diante da tempestade e assim foram conduzindo suas vidas.

A religião, em momentos de crise, acaba sendo uma excelente oportunidade para um reencontro consigo, um “olhar para dentro” diferente, talvez mais terno, talvez mais reflexivo, quem sabe até de ternura, já que a luta de cada um, só o próprio indivíduo é capaz de descrever.

Em meio a todos os acontecimentos, e paradoxalmente, em meio ao compasso de espera, em função da pandemia, as casas espíritas, em sua grande maioria, seguiram fechadas fisicamente. Abriram-se para o mundo virtual como a levar esperanças e a manter o vínculo daqueles que, fisicamente, não poderiam buscar o lenitivo para o espírito. Houve um crescimento importante no número de palestras e cursos virtuais.

Com o tempo, em função da qualidade das transmissões e dos conteúdos, a perseverança arrefeceu e o público se dispersou, e foi buscar lenitivo onde melhor encontrava acolhimento e, não necessariamente, conhecimento doutrinário.

O conhecimento é importante para o indivíduo mudar o seu painel mental, assim como para conseguir passar para o outro aquilo que tem aprendido e considera importante. Mas não é suficiente.

Entramos o ano de 2021 com casas espíritas realizando reuniões mediúnicas “on-line”. Isso mesmo: médiuns entrando em transe, pela internet, enquanto o dirigente conduz os médiuns por meio de ideoplastias e ao som metálico dos microfones.

Se uma reunião mediúnica presencial já guarda desafios, imagine uma reunião mediúnica “virtual”? Será que esse modelo seria o melhor para atender as necessidades de educação da faculdade do médium? Um acompanhamento individualizado, não seria melhor para auxiliar o médium a lidar com a influência do mundo espiritual diante dessa mudança que vivemos (pandemia)?

Evidentemente que não há orientação doutrinária nas obras de Kardec explicitamente a respeito desse assunto. Cabe o “bom senso”. Entretanto, o que é “bom senso” para um, pode não ser “bom senso” para outro, ignorando que o sentido de “bom senso” é aquilo que é “bom para todos”. Por isso, ao comentarmos esses acontecimentos, não temos a intenção de fechar questão, mas chamar a atenção para o que temos feito do Espiritismo, esse poderoso recurso que Jesus nos apresentou há dois mil anos e que foi melhor traduzido por Allan Kardec, mais de mil e oitocentos anos depois.

Cada um faz o que quer, no movimento espírita. Espera-se, apenas, que se faça com conhecimento de causa porque somos responsáveis pela divulgação do espiritismo diante do público que nos acolhe com interesse em busca de uma palavra de incentivo, esperança e até consolo. A expressão evangélica de “cego guiando cego” (Lucas 6:39), é apropriada para o momento.

Há diferença entre o que se descobre e se aplica na própria vida, em termos de Espiritismo, daquilo que se divulga. É o que o educador Paulo Freire dizia, sobre aproximarmos o que falamos daquilo que praticamos.

No exemplo trazido, um líder poderia dedicar-se em conversar com cada médium individualmente, ao longo da pandemia, para entender o momento que cada um vive, e não abrir uma reunião mediúnica “on-line”, deixando os médiuns em seus ambientes buscando sintonia com o mundo espiritual a ponto de entrar em transe, incorporar e haver esclarecimento de um espírito via internet.

Daria mais trabalho ao líder esse movimento de fazer contato com cada membro da reunião? Sem dúvida. Manter contato apenas por WhatsApp resolve? Claro que não. Esses são os “ossos do ofício” de um verdadeiro líder, principalmente quando o que se pretende é acolher, manter o vínculo, demonstrar afeto, fraternidade e esperança para os médiuns que se viram, em educação da sua faculdade, temporariamente interrompida.

Além das reuniões mediúnicas virtuais, obras ditas mediúnicas foram lançadas com conteúdos bastante questionáveis, o que levou a sérias e oportunas críticas no movimento espírita. Percebem que a maior parte das “polêmicas” ocorre em torno da mediunidade? Pois é... aí há elementos suficientes para estudarmos, revermos conceitos, entendimentos e práticas.

Entretanto, estudiosos do movimento espírita estão dedicados em buscar “pelo em ovo”, a partir de análises de manuscritos, cartas e documentos acessórios, periféricos, que, em sua grande e avassaladora maioria, servem apenas para satisfazer o ego, do que esclarecer, aprofundar estudos, obter respostas mais condizentes com as necessidades do Espírito no século XXI. Traduzindo: sabemos que cada um dá o que pode, daquilo que sabe e consegue fazer. Por isso, peço vênia aos amigos: não há, na prática, profundo conhecedor de Espiritismo no movimento espírita. Existem teóricos. Se houvesse, a preocupação estaria em estudar e encontrar respostas para problemas mais complexos, como a mediunidade, por exemplo. Criticar os trabalhos de Roustaing, Ramatis e agora do Pierre-Gaëtan Leymarie não torna o conteúdo espírita mais claro e nem é novidade. Quando romperemos esse ciclo vicioso? 

Que o orvalho da alvorada e os primeiros raios de luz toquem a nossa fronte, iluminando nossos caminhos para o que realmente importa fazer com o Espiritismo: ajudar a humanidade, ajudando-nos, a nós mesmos.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita