Esquecimento
do
passado
Examinando o esquecimento temporário do pretérito no
campo físico, é importante considerar cada existência
por estágio de serviço, em que a alma readquire no mundo
o aprendizado que lhe compete. Surgindo o período entre
o berço que representa o início da caminhada na Terra e
o túmulo que determina a cessação desta jornada,
reconheceremos nossa ligação com a vida imortal.
Ao iniciarmos uma nova existência corpórea receberemos
implementos cerebrais completamente novos no domínio das
energias físicas e, para que a memória seja adormecida,
há hipnose natural como recurso básico, uma vez que, em
muitas ocasiões dormimos em pesada letargia, muito tempo
antes de sermos acolhidos ao abrigo materno.
Assim o Espírito reencarnado retoma a herança de si
mesmo, reavendo patrimônio das realizações e das dívidas
que acumulou a se agravarem no ser, em forma de
tendências inatas. Reencontrando, desse modo, pessoas e
circunstâncias, simpatias e aversões, vantagens e
dificuldades com as quais se ache comprometido.
Desta forma, mergulhado (Espírito) na vida corpórea,
perde momentaneamente, a lembrança de existências
anteriores, como se um véu as cobrisse. Todavia,
conserva algumas vezes vaga consciência dessas vidas
que, em certas circunstâncias, poderão ser reveladas.
Porém, esta revelação somente os Espíritos superiores
poderão fazer espontaneamente, com um fim útil, nunca
para satisfazer a vã curiosidade.
Durante a vida corpórea não temos lembrança exata do que
fomos, nem do bem e do mal que fizemos em existências
anteriores, mas de tudo isso temos a intuição, que é a
nossa consciência e o desejo de não mais reincidir nas
faltas cometidas anteriormente.
O livro O Consolador, questão 370, esclarece: “Será
lícito investigarmos com os Espíritos amigos as nossas
vidas passadas? Essas revelações quando ocorrem traduzem
responsabilidade para os que a recebem? Resposta: Se
estais submersos em esquecimento temporário, esse olvido
é indispensável à valorização de vossas iniciativas. Não
deveis provocar esse gênero de revelações, porquanto os
amigos espirituais conhecem melhor as vossas
necessidades e poderão provê-las em tempo oportuno, sem
quebrar o preceito da espontaneidade exigido para esse
fim. O conhecimento do pretérito, através das revelações
ou das lembranças, chega sempre que a criatura se faz
credora de um benefício como esse, o qual se faz
acompanhar, por sua vez, de responsabilidades muito
grandes no plano do conhecimento; tanto assim que, para
muitos, essas reminiscências costumam construir um
privilégio doloroso no ambiente das inquietações e
ilusões da Terra”.
Portanto, traria gravíssimos inconvenientes nos
lembrarmos das nossas individualidades anteriores. Em
certos casos, seria sobremaneira humilhante, e, em
outros, nos exaltaria o orgulho sufocando-nos em
consequência do livre-arbítrio. Todavia, para nos
melhorarmos, Deus nos dá exatamente o que é necessário e
bastam: a voz da consciência e os pendores instintivos,
privando-nos do que nos prejudicaria.
Se em cada existência é lançado o véu sobre o passado, o
Espírito nada perde do que granjeou no pretérito, só
esquece a maneira como o adquiriu. Assim, ao
reencarnarmos trazemos por intuição e com ideias natas o
que alcançamos em ciência e em moralidade, pois se
durante uma existência houve uma melhora, se as lições
da experiência foram aproveitadas, ao voltarmos seremos
instintivamente melhores. Assim, o Espírito, amadurecido
na escola do sofrimento e do trabalho, terá mais
solidez.
Por isso é importante lembrar que o esquecimento
temporário é um benefício da Providência. A experiência
é muitas vezes adquirida por rudes provas e terríveis
expiações, cuja lembrança seria muito penosa e viria
somar-se às angústias das tribulações da vida presente.
Entendemos, então, que a lembrança do passado traria
perturbações às relações sociais e seria um entrave ao
progresso. Portanto, agradeçamos o carinho dos Espíritos
generosos, encarnados e desencarnados, que nos amparam a
experiência, aplicando-nos as lições de que são
mensageiros, no entanto, apenas a presença deles não nos
basta para o nosso aprimoramento individual. Recordemos
que nem os companheiros da glória do Cristo escaparam ao
impositivo do serviço constante.
Os apóstolos que conviveram com Jesus não repousaram
ante as flamas do Pentecostes, mas seguiram luta
adiante, de renúncia em renúncia, adquirindo pouco a
pouco a grande libertação. Desta forma, lembremo-nos de
Saulo de Tarso que, visitado pelo Mestre, não parou sob
o jorro solar da senda de Damasco, mas avançou de
suplício em suplício assimilando, a preço de sofrimento,
o dom da divina luz.
Assim sendo, guardemos a convicção de que todos os
benfeitores desencarnados são agentes do bem para todos
e com todos. Disse Jesus: “Quem me segue não anda em
trevas”. João, 8:12.
Se acompanharmos os bons Espíritos que em tudo se
revelam companheiros fiéis do Cristo, deixaremos para
sempre as sombras da retaguarda e avançaremos para Deus
sob a glória da luz.
Bibliografia:
XAVIER, Francisco Cândido – Seara dos
Médiuns – ditado pelo Espírito Emmanuel – 20ª edição
– Editora FEB – Brasília/DF – lições 8 e 90 – 2015.
Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos –
16ª edição – Editora FEESP – São Paulo/SP – questões:
392, 393, 394 e 399 – 2015.
XAVIER, Francisco Cândido – Religião
dos Espíritos – ditado pelo Espírito Emmanuel – 22ª
edição – Editora FEB – Brasília/DF – lição 45 – 2013.