Autolibertação
Uma coincidência de notar entre os quase náufragos da
aflição e do afogamento:
Os que se debatem nas águas temendo a morte rogam o
socorro de quem lhes estenda as mãos;
Os que se encarceram no desânimo, receando o
desequilíbrio, para se livrarem dele precisam estender
as mãos aos outros.
Geralmente quando nos confessamos abatidos, muitas vezes
queixando-nos contra tudo e contra todos, achamo-nos
simplesmente encerrados na masmorra do “eu”, que
transportamos conosco, à maneira de fardo muito difícil
de carregar.
Este é, contudo, o momento para sair de nós, alongando
os braços na direção dos outros, para que os outros nos
arrebatem ao poço da angústia.
Abrir o coração ao encontro de alguém a fim de que
alguém nos alivie.
Auxiliar para sermos auxiliados.
Se te encontras numa ocasião dessas, de espírito ilhado
na solidão, recorda que as portas da alma unicamente se
abrem de dentro para fora e busca a liberação de si
mesmo.
Desnecessário será dizer que a gentileza para com os
vizinhos, a visita ao doente, o socorro ao necessitado,
o serviço-extra, a carta que se dirige ao amigo
distante, o amparo à natureza e todos as formas outras
de atividade em que se nos expresse a doação de calor
humano são veículos ideais para sairmos de nós à procura
da própria renovação.
Se te encontras assim, no dia cinzento de mal-estar, não
é necessário adotes a transposição do desalento à custa
de tranquilizantes inadequados ou ao preço de aventuras
que talvez te marginalizassem nos espinheiros da culpa.
Todos possuímos conosco a clínica espiritual de
autotratamento com as faculdades da ação e da
criatividade ao nosso dispor.
Quanto estejas desse modo no recanto da angústia, se
experimentas a fadiga sem causa, trabalha mais e, se
trabalhando mais sentires a presença do cansaço
compreensível e justo, procura o repouso indispensável
ao preciso refazimento e recobrarás as próprias forças a
fim de trabalhar e servir mais ainda.
Do livro Doutrina e Aplicação, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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