Espíritas a caminho
"Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento;
instruí-vos, este o segundo." -
O Espírito de Verdade (O Evangelho segundo
Espiritismo, cap. VI.)
Vamos refletir. O que nos diz este conselho d' O
Espírito de Verdade sobre a maneira como nos vemos a nós
próprios, relativamente às nossas vivências enquanto
espíritas?
Se pretendermos sintetizar em poucas palavras o lugar em
que cada um se enquadra relativamente à sua posição no
que respeita à crença no Espiritismo, podemos talvez
definir, de um modo simples: "Não Espírita", "Espírita
da Fé", "Espírita do creio-me", "Espírita a caminho".
Não pretendo, de modo algum, rotular seja quem for,
pretendo, muito simplesmente, trazer pontos de reflexão,
encaixando-me também eu, principalmente eu, diria mesmo,
nesta necessidade premente de refletir para me
aperfeiçoar. Alerto também que estas definições são
pessoais, para meu uso próprio, que achei por bem
partilhar como recurso simples para atingir o objetivo
das considerações que pretendo apresentar.
Comecemos por colocar de parte o "Não Espírita", ou
seja, aquele que ainda não se identifica com a Doutrina,
esperando, como Deus espera também, e respeitando a
crença de cada um, ou, até mesmo, a falta dela. Cada um
de nós tem seu tempo, seu modo de caminhar e sua forma
de chegar à meta.
O que podemos então entender por "Espírita de Fé"? Penso
que será, em princípio, o primeiro passo deste caminho
que devemos percorrer para nos tornarmos Espíritas em
toda acepção da palavra. Espíritas que acreditam nos
conhecimentos e informações trazidos pelos Espíritos.
Bastará para nos considerarmos Espíritas o fato de
acreditarmos? O que fazemos com esse conhecimento? Como
vemos os conselhos dados pelas Entidades comunicantes? A
nossa primeira tendência, e penso que quase todos nós
passamos por essa fase, quando tivemos o primeiro
contato com a Doutrina, é aplicarmos, de imediato, o que
ouvimos ou lemos a alguém que conhecemos, geralmente os
nossos familiares ou amigos mais próximos. Esquecemos,
quase sempre, de que, se Deus nos concede a benesse de
tomar conhecimento do Espiritismo, não é exatamente um
prêmio por bom comportamento. É mais uma oportunidade de
aprendizagem, de que necessitamos para nos fortalecermos
e ensejarmos a dura batalha contra os defeitos e vícios
a que nos prendemos e entravam a caminhada no sentido do
Bem. Tudo o que a Doutrina nos traz aplica-se, antes de
mais nada, a nós mesmos, devemos sentir-nos muito gratos
ao Pai, não porque ser Espírita seja o bastante, ou
condição imprescindível e essencial, para sermos
perfeitos. Mas porque nos fornece recursos para olharmos
para dentro de nós, com maior conhecimento de causa, e
respondermos às grandes questões que a Humanidade faz há
bastante tempo: quem sou? de onde venho? para onde vou?
qual o objetivo da minha existência? o que fazer para
alcançar a felicidade? e tantas, tantas outras que nos
habituamos a fazer no nosso íntimo.
Então..., que fazer com esse conhecimento? Se nos
limitarmos à Fé, se não a transformarmos em obras de
aperfeiçoamento, pouco valerá. Seremos os "Espíritas de
Fé," mas ainda nos faltará o ser "Espíritas de ação". Já
dizia S. Paulo que "posso ter muita Fé, mas, se não
tiver caridade, nada sou". Estendamos esta noção de
caridade a nós próprios, porque, como já nos alertava
Moisés nos mandamentos, é necessário "Amar a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos".
Antes de mais, temos de nos amar a nós mesmos, para
podermos amar os outros. Este amar a nós mesmos, no
sentido desta nossa reflexão, significará o tudo
fazermos para ser pessoas de bem, cumprir a finalidade
para que Deus nos criou, trabalharmos pelo
aperfeiçoamento espiritual e intelectual, condição para
cultivarmos e atingirmos a felicidade.
Atingido esse patamar, podemos tentar o conselho d' O
Espírito de Verdade: Amar-nos (entre espíritas) e
estender esse amor a todos (o nosso próximo são todos os
que compartilham o caminho conosco). Em seguida, o
"Espíritas, instruí-vos". Alargar o conhecimento para
perceber como alargar também o nosso campo de ação neste
percurso que a atual existência nos permite.
Posto isto, o que podemos entender como "Espíritas do
creio-me"? Pessoalmente, dou comigo, vezes demais do que
gostaria que fosse a realidade, a inserir-me neste
grupo. "Creio-me Espírita". "Creio-me pessoa de bem".
"Creio-me, quem sabe até, melhor do que os outros porque
sou Espírita". "Creio que estou na posse de informações
que outros não têm, por não serem Espíritas". "Creio-me
detentor da verdade, porque no Espiritismo está a
verdade". "Creio-me merecedor de um futuro, no além,
fora dos percalços que estão destinados aos ignorantes
da Doutrina". "Creio-me entendido e com pleno direito de
discutir assuntos de Fé e Religião, porque acredito na
Doutrina dos Espíritos e aqui é que está a verdade".
"Creio-me na obrigação e direito de disseminar a minha
Fé, seja a que custo for, mesmo à custa do desrespeito
das verdades e Fé dos outros". E por aí adiante…
Serei apenas eu que me "distraio" e caio nestas
incongruências com a própria Doutrina Espírita, que é
amor, respeito, caminhada pessoal, sacrifício pessoal
dos defeitos íntimos, luta contra as próprias
imperfeições? Por que continuamos a cair "nestas
tentações", perdendo-nos em divagações que a lado nenhum
nos conduzem? Simplesmente porque é o mais fácil. Ser
"Espírita de Ação", de verdadeira ação, é o passo mais
difícil de ser dado, mas que urge.
Neste momento que atravessamos, em que a Humanidade
terrena está sendo posta à prova de modo tão intenso e
doloroso, não esperemos que haja contemplações especiais
para conosco, por nos dizermos Espíritas. Não esqueçamos
do aviso de Jesus de que serão muitos os chamados mas
poucos os escolhidos. E também não esqueçamos de que "A
quem muito foi dado, muito será exigido".
Sejamos, pelo menos, "Espíritas a caminho", ou seja
aqueles que, por acreditarem e se identificarem com a
Doutrina, e reconhecendo humildemente a sua pequenez e
as suas dificuldades e imperfeições, se servem do
conhecimento e da Fé para trabalharem o seu íntimo e
enfrentarem a vida com força, alento, reconfortados com
a ideia de que Deus a todos ama e a todos dá os recursos
para atingirem os objetivos a que se propuseram ao
programarem a atual existência.
O caminho é longo e passa pelo autoconhecimento e pelo
autoaperfeiçoamento. Se a luz do Espiritismo já nos
ilumina a caminhada, se somos os “Espíritas da Fé”,
lancemos a semente ao nosso redor, a começar pelo nosso
coração. Transformemo-nos nos “Espíritas da Ação”. A
sementeira é nossa; a colheita também o será. “A cada
um segundo as suas obras”, como avisou o Mestre
Jesus.
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