Para todo o sempre...
O Espiritismo desembarcou em solo brasileiro na
década de 60 do século 19, e algum tempo depois
já tomou um baque.
Logo após a virada de Império para República,
isto no Brasil no ano de 1889, o Espiritismo
teve sua prática criminalizada no Código Penal
de 1890.
Na época, assim como hoje, o Espiritismo contava
com suas subdivisões: espíritas mais ligados à
ciência, outros à religião, alguns curiosos, uma
turma mais ortodoxa, aqueles que trabalhavam com
mais ênfase nas sessões de cura, enfim, diversos
grupos compunham o segmento denominado espírita.
Porém, com a criminalização a partir de 1890,
espíritas foram perseguidos e tornava-se, de
certa forma, importante a união de todas as
subdivisões acima mencionadas para que pudessem
enfrentar, juntos, este abacaxi, caso contrário
a Doutrina Espírita corria sério risco de não
dar certo.
Afinal, havia, sim, um grande inimigo: a
criminalização da prática espírita, ora
combatida pela medicina dita oficial, ora pelos
advogados, ora pelo poder estatal.
Talvez, e alguns historiadores defendem esta
ideia, que se inicie bem aí o viés religioso
mais acentuado do Espiritismo, posto que no
Brasil República a prática religiosa era livre,
então, de certo modo, os espíritas daquela
época, e dentre eles Bezerra de Menezes,
esforçaram-se para que preponderasse o
Espiritismo como religião.
Pois bem, o Espiritismo saiu da França, caiu em
nossa terra e por mais que se quisesse copiar os
conterrâneos de Zidane, as diferenças culturais
enormes promoveriam, naturalmente, uma
abrasileirada na coisa, o que é algo
perfeitamente natural dada a migração de Europa
para Brasil.
Entender o processo histórico da época é
importante para o espírita situar-se na
atualidade e entender as razões pelas quais a
doutrina pendeu para um lado e não para o outro.
Por isso, penso ser complicado tecer comentários
mais ácidos acerca do chamado Espiritismo
religioso se não mergulharmos no nascimento da
Doutrina Espírita em solo nacional.
É bem verdade que Kardec não considerava o
Espiritismo religião no sentido vulgar que se
conhece a palavra, mas sem o conhecimento do que
houve realmente na chegada do Espiritismo ao
Brasil e todas as discussões do momento,
qualquer julgamento mais agudo torna-se
impossível.
As críticas, portanto, de que os espíritas se
afastaram de Kardec e promoveram uma deturpação
dos postulados doutrinários, prejudicando o bom
andamento das coisas, causando confusão, podem
sofrer uma releitura, de modo a possibilitar
fazermos uma crítica desta crítica.
O contexto dita, não raro, o rumo dos
acontecimentos e responde com relativo sucesso
as indagações do presente, fazendo com que
vejamos o passado com os olhos do passado, sem
anacronismo.
O Espiritismo foi uma coisa na França, foi e é
outra no Brasil e não há mais o que fazer, pois
os fatos já foram lavrados no tribunal do tempo.
Se isto é bom ou ruim, sinceramente, não sei...
Mas a literatura de Kardec está aí para ser
consultada, revista, estudada...
Ademais, com o foco na melhoria moral impresso
desde o início por Kardec, a essência do
Espiritismo, com ou sem mudança de pátria já
havia sido dada e, penso, é o que fica de mais
importante e que nos une para todo o sempre...