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por Jane Martins Vilela

 

Amor em triunfo


São verdadeiramente difíceis os dias que vivemos. Pessoas de vários credos religiosos têm dado seus depoimentos, desde que começou a onda da Covid.

Nesse último mês, são inumeráveis as famílias que têm narrado sua história de dor. Algumas mães dizem que tiveram e se curaram e, seu filho, não. Outra senhora narra que pegou e sarou, mas o cunhado e a cunhada não suportaram. Outros falam de avós, de tios, de pai, de mãe, de irmãos, que partiram e deixaram saudades.

A situação está acometendo milhares de pessoas, interligadas por laços de afeto a alguém atingido que partiu, até mesmo amigos ou vizinhos.

Todas as pessoas envolvidas falam algo semelhante: que a dor mostra que nenhum bem material é maior que o amor. Que agora o mundo está percebendo que mais importante que o dinheiro é ter a pessoa querida ao seu lado, que os bens materiais são apenas usufruto e que o maior bem é a presença física do ser querido. Poder cuidar dele, poder abraçá-lo e beijá-lo. Ter sua presença.

Foi preciso uma doença dessa para despertar o espírito, imerso em desejos de bens transitórios. Há uma história, infantil ou não, pois pode ser bem aproveitada pelos adultos, que nos ilustra o atual momento. Encontramo-la em “O Livro das Virtudes II”, de William Bennett, intitulada “A Caverna Mágica”.

No conto, uma jovem mãe, que era pobre, tinha um filho querido, que ela muito amava. No verão, num belo dia, em que os morangos na mata estavam muito lindos, ela saiu para colhê-los com seu filho pequeno, a quem levava pela mão. Os morangos eram suculentos, doces e grandes.

Depararam-se com uma caverna, onde três lindas jovens se postavam, guardando a entrada. Convidaram a mulher para entrar, pegar o quanto de ouro pudesse pegar de uma só vez. A mulher entrou, levando o filho pela mão. Pegou um punhado de ouro e o pôs no avental. Mas o toque do ouro despertou nela uma enorme cobiça e, esquecendo o filho, pegou mais dois punhados de moedas e saiu correndo da caverna.

No mesmo instante, ouviu um estrondo atrás dela e uma voz trovejou:

- Mulher infeliz! Perdeu o seu filho até o próximo solstício de verão!

A porta da caverna se fechou. Não adiantou a mulher implorar. Não mais se abriu. Desesperada ela ia lá todos os dias, até que não mais encontrou a caverna.

No ano seguinte, no solstício do verão, ela levantou-se cedo e correu até onde ficava a caverna. Encontrou-a e as três jovens lá estavam e repetiram que levasse o quanto de ouro ela pudesse carregar. Ao lado delas, estava o menino, com uma maçã vermelha na mão.

Ela nem olhou para o ouro. Correu direto para o menino e o tomou nos braços.

“Boa mulher, disseram as jovens. Leve o menino para casa. Nós o devolvemos a você, pois agora seu amor é maior que a cobiça.”

Simbolicamente, vivemos dias parecidos. As pessoas correram demais atrás de bens materiais e agora observam que não há bem maior que o amor. Que nenhum dinheiro vale mais que a presença do ser querido.

A humanidade se perdia no desejo material, no desejo dos prazeres transitórios. As crianças estavam sem suas mães, que as deixavam em creches ou escolinhas, ou com babás.

Jovens adolescentes saindo de casa, por terem vivido na solidão, agora em companhia de drogas e morando nas ruas. Meninas, adolescentes de 14 a 16 anos, que viveram os prazeres e engravidaram. Consumidas pelas drogas, deixaram o filho para trás, com seus avós e foram morar nas ruas.

São tantos os relatos dolorosos que ouvimos!

Crianças de 8 a 9 anos nos dizendo, em sua visão infantil, sem compreenderem a necessidade tão grande de dinheiro pelos pais, a falarem: “Minha mãe não gosta de mim! Só trabalha para ter coisas! Sou a única da escola que, quando tem uma comemoração ou teatro, minha mãe não vai. As mães dos meus coleguinhas vão!”.

É isso o que fica gravado. O abandono. Não se incomodariam de ter menos, mas de ter a presença. Depois vão-se acostumando e o desejo de amor, em muitos, vai esfriando. Recebem a mensagem de que ter é mais importante.

É preciso amar, pois o máximo de amor que temos ainda é aprendizado de amor. Estamos em exercício de amor ao próximo e a nós mesmos, amando a Deus pelas nossas atitudes no cotidiano.

Essa doença tem mudado muitas coisas. A visão da importância da presença querida está se acentuando. Agora é o momento de lembrar quando Jesus disse que aquele que estivesse em Jerusalém não descesse para Jericó. Jerusalém era na época a cidade santa, onde se reuniam para orações no templo. Simbolicamente demonstrava a espiritualidade. Jericó era a cidade rica, do comércio ativo, representando a materialidade. Então, Jesus nos pediu que na hora difícil, quem já tivesse alcançado a espiritualidade, se mantivesse nela, não descesse para a materialidade.

Observemos a lição da dor. A materialidade cede e há a ascensão para a espiritualidade. Todos oram por todos. O templo já não é mais em Jerusalém, muito menos no monte Garizim. O templo é o coração dos homens. O santuário é sua casa. Todos orando pelos aflitivos momentos do mundo.

A presença querida é redescoberta. O amor se torna o bem maior. A mãe já não corre tanto com o tesouro nas mãos esquecendo seu filho. Seu filho agora é mais importante. Aprendeu. Estamos todos aprendendo, e, no final, sabemos que o amor vencerá.

Estamos mergulhados na abençoada energia do amor, no corpo de Deus, que é seu universo. Chegaremos ao mais puro amor um dia. Nossa esperança aumenta, na medida em que vemos um número cada vez maior de pessoas solidárias, entendendo que o momento é de amar, ter fé e servir sempre ao bem.

Mantenhamos a esperança! Somos imortais, filhos de Deus, e o bendito amor haverá de triunfar, quando as lições estiverem bem aprendidas.

Lições de fraternidade, de amor, de paz.

Até lá, tenhamos paciência e continuemos a nos esforçar por melhorar sempre e amar mais.

Caminhemos com Jesus. Seus ensinos nos sustentam.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita