Amor em triunfo
São verdadeiramente difíceis os dias que vivemos.
Pessoas de vários credos religiosos têm dado seus
depoimentos, desde que começou a onda da Covid.
Nesse último mês, são inumeráveis as famílias que têm
narrado sua história de dor. Algumas mães dizem que
tiveram e se curaram e, seu filho, não. Outra senhora
narra que pegou e sarou, mas o cunhado e a cunhada não
suportaram. Outros falam de avós, de tios, de pai, de
mãe, de irmãos, que partiram e deixaram saudades.
A situação está acometendo milhares de pessoas,
interligadas por laços de afeto a alguém atingido que
partiu, até mesmo amigos ou vizinhos.
Todas as pessoas envolvidas falam algo semelhante: que a
dor mostra que nenhum bem material é maior que o amor.
Que agora o mundo está percebendo que mais importante
que o dinheiro é ter a pessoa querida ao seu lado, que
os bens materiais são apenas usufruto e que o maior bem
é a presença física do ser querido. Poder cuidar dele,
poder abraçá-lo e beijá-lo. Ter sua presença.
Foi preciso uma doença dessa para despertar o espírito,
imerso em desejos de bens transitórios. Há uma história,
infantil ou não, pois pode ser bem aproveitada pelos
adultos, que nos ilustra o atual momento. Encontramo-la
em “O Livro das Virtudes II”, de William Bennett,
intitulada “A Caverna Mágica”.
No conto, uma jovem mãe, que era pobre, tinha um filho
querido, que ela muito amava. No verão, num belo dia, em
que os morangos na mata estavam muito lindos, ela saiu
para colhê-los com seu filho pequeno, a quem levava pela
mão. Os morangos eram suculentos, doces e grandes.
Depararam-se com uma caverna, onde três lindas jovens se
postavam, guardando a entrada. Convidaram a mulher para
entrar, pegar o quanto de ouro pudesse pegar de uma só
vez. A mulher entrou, levando o filho pela mão. Pegou um
punhado de ouro e o pôs no avental. Mas o toque do ouro
despertou nela uma enorme cobiça e, esquecendo o filho,
pegou mais dois punhados de moedas e saiu correndo da
caverna.
No mesmo instante, ouviu um estrondo atrás dela e uma
voz trovejou:
- Mulher infeliz! Perdeu o seu filho até o próximo
solstício de verão!
A porta da caverna se fechou. Não adiantou a mulher
implorar. Não mais se abriu. Desesperada ela ia lá todos
os dias, até que não mais encontrou a caverna.
No ano seguinte, no solstício do verão, ela levantou-se
cedo e correu até onde ficava a caverna. Encontrou-a e
as três jovens lá estavam e repetiram que levasse o
quanto de ouro ela pudesse carregar. Ao lado delas,
estava o menino, com uma maçã vermelha na mão.
Ela nem olhou para o ouro. Correu direto para o menino e
o tomou nos braços.
“Boa mulher, disseram as jovens. Leve o menino para
casa. Nós o devolvemos a você, pois agora seu amor é
maior que a cobiça.”
Simbolicamente, vivemos dias parecidos. As pessoas
correram demais atrás de bens materiais e agora observam
que não há bem maior que o amor. Que nenhum dinheiro
vale mais que a presença do ser querido.
A humanidade se perdia no desejo material, no desejo dos
prazeres transitórios. As crianças estavam sem suas
mães, que as deixavam em creches ou escolinhas, ou com
babás.
Jovens adolescentes saindo de casa, por terem vivido na
solidão, agora em companhia de drogas e morando nas
ruas. Meninas, adolescentes de 14 a 16 anos, que viveram
os prazeres e engravidaram. Consumidas pelas drogas,
deixaram o filho para trás, com seus avós e foram morar
nas ruas.
São tantos os relatos dolorosos que ouvimos!
Crianças de 8 a 9 anos nos dizendo, em sua visão
infantil, sem compreenderem a necessidade tão grande de
dinheiro pelos pais, a falarem: “Minha mãe não gosta de
mim! Só trabalha para ter coisas! Sou a única da escola
que, quando tem uma comemoração ou teatro, minha mãe não
vai. As mães dos meus coleguinhas vão!”.
É isso o que fica gravado. O abandono. Não se
incomodariam de ter menos, mas de ter a presença. Depois
vão-se acostumando e o desejo de amor, em muitos, vai
esfriando. Recebem a mensagem de que ter é mais
importante.
É preciso amar, pois o máximo de amor que temos ainda é
aprendizado de amor. Estamos em exercício de amor ao
próximo e a nós mesmos, amando a Deus pelas nossas
atitudes no cotidiano.
Essa doença tem mudado muitas coisas. A visão da
importância da presença querida está se acentuando.
Agora é o momento de lembrar quando Jesus disse que
aquele que estivesse em Jerusalém não descesse para
Jericó. Jerusalém era na época a cidade santa, onde se
reuniam para orações no templo. Simbolicamente
demonstrava a espiritualidade. Jericó era a cidade rica,
do comércio ativo, representando a materialidade. Então,
Jesus nos pediu que na hora difícil, quem já tivesse
alcançado a espiritualidade, se mantivesse nela, não
descesse para a materialidade.
Observemos a lição da dor. A materialidade cede e há a
ascensão para a espiritualidade. Todos oram por todos. O
templo já não é mais em Jerusalém, muito menos no monte
Garizim. O templo é o coração dos homens. O santuário é
sua casa. Todos orando pelos aflitivos momentos do
mundo.
A presença querida é redescoberta. O amor se torna o bem
maior. A mãe já não corre tanto com o tesouro nas mãos
esquecendo seu filho. Seu filho agora é mais importante.
Aprendeu. Estamos todos aprendendo, e, no final, sabemos
que o amor vencerá.
Estamos mergulhados na abençoada energia do amor, no
corpo de Deus, que é seu universo. Chegaremos ao mais
puro amor um dia. Nossa esperança aumenta, na medida em
que vemos um número cada vez maior de pessoas
solidárias, entendendo que o momento é de amar, ter fé e
servir sempre ao bem.
Mantenhamos a esperança! Somos imortais, filhos de Deus,
e o bendito amor haverá de triunfar, quando as lições
estiverem bem aprendidas.
Lições de fraternidade, de amor, de paz.
Até lá, tenhamos paciência e continuemos a nos esforçar
por melhorar sempre e amar mais.
Caminhemos com Jesus. Seus ensinos nos sustentam.
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