As emoções existem
Mas o que quer dizer este poema? – perguntou-me alarmada
a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? – respondi triunfante.
Uma nuvem – disse ela – umas vezes quer dizer chuva,
outras vezes bom tempo...
Mario Quintana
Na sexta, senti tristeza. Quintana está certo quando diz
que “a saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.”
Pois bem. A falta da minha mãe às vezes estaciona o
tempo e me põe triste, lembrando que a tristeza é emoção
que pertence à natureza humana e que se manifesta,
explico, desde o começo da vida.
Criança triste? Sim, a perda de um animalzinho é
certamente um motivo para o surgimento da tristeza. Ou a
mudança de escola, a mudança de cidade, a perda de
alguém querido, pois é a impermanência o que está a
reger o que é vivo no planeta…
Para a maioria das crianças, infelizmente, a raiva é
tratada com repressão. Mas ela existe mesmo assim.
Existe na criança, no adolescente, porque a raiva é
outra emoção intrínseca à tessitura humana. Na infância,
por consequência, seria mais razoável ensinar a criança
a lidar com a raiva e, através de exemplos, incentivar o
desenvolvimento da resiliência, que é a habilidade de
manter-se íntegro frente às adversidades…
Nesta época de pandemia, incerteza, instabilidade em
relação à vida escolar, excesso de telas, déficit de
natureza, é bastante normal a criança experimentar o
tédio também. Os pais, no entanto, não podem reagir ao
tédio com ironia ou com incompreensão. Ao invés de
julgar, desmerecer, mais humano perguntar ao filho sobre
os seus sentimentos e se esforçar para entender o que
ele sente, ajudando-o a resolver-se…
Medo? Quem não experimenta medo? Crianças relatam
situações diversas: o medo do escuro, medo de doença,
elevador, vacina, medo de que aconteça algo com a sua
mãe, pois mesmo “a noite acendeu as estrelas porque
tinha medo da própria escuridão”, alertou Mario Quintana.
Em casa, quando uma criança fala sobre o medo, é
importante que o adulto converse com ela a respeito do
que está sentindo, ajudando-a em seu processo emocional.
Ou seja, quando a criança informa que tem medo de
cachorro, por exemplo, dizer-lhe “não tenha medo!” faz
com que ela sinta, na realidade, que não deve sentir
medo. Em vez disso, é instrutivo dizer a ela: “entendo
que tenha medo, mas eu estou aqui ao seu lado e não vou
deixar que nada de mal lhe aconteça.” Além disso, é essa
atitude por parte do adulto que incentiva a criança a
aprender em situações futuras a identificar o que sente.
No dia a dia, no intuito de enriquecer o conhecimento
sobre as emoções, os pais podem compartilhar com seu
filhos acontecimentos de sua vida – alegres e tristes –,
exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de
conflitos e a cooperação, servindo sem receio de exemplo
de respeito também pelo sentimento alheio…
Na infância, assim como é importante a criança
experimentar frustração, é fundamental vivenciar o
aprendizado sobre as próprias emoções, pois é a educação
emocional desde o começo da vida que a tornará pouco a
pouco consciente sobre o que sente e, por isso, mais
capaz de compreender também o que os outros sentem.
Crescerá mais empática, mais disponível para a
aprendizagem colhida na escola e nos contextos variados
e incertos da própria vida…
Notinha
A educação emocional durante a infância é o que vai
moldar a criança para os enfrentamentos futuros na
adolescência e na vida adulta. É por meio da educação
emocional, e traduzida como apoio emocional no cotidiano
da criança, que a ajudará a ser capaz de interagir
melhor com seu entorno e também para enfrentar situações
de frustração, tédio, medo etc. É a educação emocional,
dirigida à criança por meio de atenção, acolhimento,
escuta, partilha, que contribui com a formação de um ser
humano mais empático, mais sociável, mais solidário, e
com uma maior capacidade de se adaptar às mudanças
inerentes à própria existência.
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