Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

As emoções existem


Mas o que quer dizer este poema? – perguntou-me alarmada a boa senhora.

E o que quer dizer uma nuvem? – respondi triunfante.

Uma nuvem – disse ela – umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo... Mario Quintana


Na sexta, senti tristeza. Quintana está certo quando diz que “a saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.” Pois bem. A falta da minha mãe às vezes estaciona o tempo e me põe triste, lembrando que a tristeza é emoção que pertence à natureza humana e que se manifesta, explico, desde o começo da vida.

Criança triste? Sim, a perda de um animalzinho é certamente um motivo para o surgimento da tristeza. Ou a mudança de escola, a mudança de cidade, a perda de alguém querido, pois é a impermanência o que está a reger o que é vivo no planeta…

Para a maioria das crianças, infelizmente, a raiva é tratada com repressão. Mas ela existe mesmo assim. Existe na criança, no adolescente, porque a raiva é outra emoção intrínseca à tessitura humana. Na infância, por consequência, seria mais razoável ensinar a criança a lidar com a raiva e, através de exemplos, incentivar o desenvolvimento da resiliência, que é a habilidade de manter-se íntegro frente às adversidades…

Nesta época de pandemia, incerteza, instabilidade em relação à vida escolar, excesso de telas, déficit de natureza, é bastante normal a criança experimentar o tédio também. Os pais, no entanto, não podem reagir ao tédio com ironia ou com incompreensão.  Ao invés de julgar, desmerecer, mais humano perguntar ao filho sobre os seus sentimentos e se esforçar para entender o que ele sente, ajudando-o a resolver-se…

Medo? Quem não experimenta medo? Crianças relatam situações diversas: o medo do escuro, medo de doença, elevador, vacina, medo de que aconteça algo com a sua mãe, pois mesmo “a noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão”, alertou Mario Quintana.

Em casa, quando uma criança fala sobre o medo, é importante que o adulto converse com ela a respeito do que está sentindo, ajudando-a em seu processo emocional. Ou seja, quando a criança informa que tem medo de cachorro, por exemplo, dizer-lhe “não tenha medo!” faz com que ela sinta, na realidade, que não deve sentir medo. Em vez disso, é instrutivo dizer a ela: “entendo que tenha medo, mas eu estou aqui ao seu lado e não vou deixar que nada de mal lhe aconteça.” Além disso, é essa atitude por parte do adulto que incentiva a criança a aprender em situações futuras a identificar o que sente.

No dia a dia, no intuito de enriquecer o conhecimento sobre as emoções, os pais podem compartilhar com seu filhos acontecimentos de sua vida – alegres e tristes –, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, servindo sem receio de exemplo de respeito também pelo sentimento alheio…

Na infância, assim como é importante a criança experimentar frustração, é fundamental vivenciar o aprendizado sobre as próprias emoções, pois é a educação emocional desde o começo da vida que a tornará pouco a pouco consciente sobre o que sente e, por isso, mais capaz de compreender também o que os outros sentem. Crescerá mais empática, mais disponível para a aprendizagem colhida na escola e nos contextos variados e incertos da própria vida…


Notinha

A educação emocional durante a infância é o que vai moldar a criança para os enfrentamentos futuros na adolescência e na vida adulta. É por meio da educação emocional, e traduzida como apoio emocional no cotidiano da criança, que a ajudará a ser capaz de interagir melhor com seu entorno e também para enfrentar situações de frustração, tédio, medo etc. É a educação emocional, dirigida à criança por meio de atenção, acolhimento, escuta, partilha, que contribui com a formação de um ser humano mais empático, mais sociável, mais solidário, e com uma maior capacidade de se adaptar às mudanças inerentes à própria existência.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita