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por Ricardo Orestes Forni

 

Obra inacabada


“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.” – Allan Kardec.


Podemos contratar o melhor arquiteto do mundo para programarmos a planta da casa do nosso sonho. É muito natural que, ao passar do papel para a prática, alterações sejam necessárias para aperfeiçoar a obra sem nenhum demérito a ninguém. A perfeição vem exatamente pelo exercício da prática. Por isso mesmo, na medida em que a obra sai do alicerce para o levantamento das paredes, é perfeitamente natural que ideias para aperfeiçoar o projeto surjam e sejam colocadas em execução.

Quando a Providência Divina projetou a nossa planta como seres imortais, o projeto era perfeito, mas os executores da obra, os pedreiros, vamos assim dizer, encarregados de tirar a obra do papel e colocá-la em execução, somos, exatamente, cada um de nós.

Portanto, na medida em que vamos dando andamento ao projeto, é muito natural que tenhamos que ir fazendo alterações para o aperfeiçoamento da obra em execução. Não, evidentemente, por erros na planta original de Deus, que é absolutamente perfeita, mas por erros nossos nos cálculos que empregamos no andamento do projeto.

Kardec foi tão perfeito nas suas colocações que, ao definir o verdadeiro espírita, deixou bem claro que não se tratava de um ser perfeito, mas sim de uma pessoa disposta pelos esforços empregados a domar suas más inclinações.

Seria assim o pedreiro que, ao dar andamento ao projeto de Deus, vai reconhecendo as falhas na execução do projeto que corre por sua conta e modifica os erros que comete para ser fiel à planta do Criador.

Essas colocações são importantíssimas porque a Doutrina Espírita possui um apelo intenso a caminharmos em busca da perfeição, objetivo maior para o qual fomos criados por Deus. E é nessa proposta que reside o perigo se não entendermos que somos um projeto em execução e não uma obra acabada.

Por isso mesmo, a meu ver, a genialidade de Kardec em não considerar o verdadeiro espírita como um ser infalível, mas, sim, capaz de se modificar para melhor.

Encontrar-nos-emos muitas vezes com nossos erros na caminhada evolutiva que não devem servir de desestímulo para continuarmos a dar prosseguimento à planta original de Deus.

Ainda somos capazes de ofender? Evidentemente que sim, mas com a orientação para modificarmos o projeto para melhor.

Ainda somos capazes de abrigar o ódio dentro de nós? Sem nenhuma dúvida, mas dispomos das orientações necessárias para domar nossas más tendências.

Em muitas ocasiões nos flagraremos em momentos de intolerância, mas com os meios suficientes para que o desânimo não seja o vencedor.

Não será de espantar ao nos depararmos com os momentos de agressividade em nossas reações, mas com a planta de Deus impressa em nossa consciência para retornarmos ao bom projeto.

Todas as lições de Jesus nos mostram o objetivo a ser atingido e não significa que já deveríamos tê-lo atingido.

O bom professor, quando entra em sua sala de aulas, sabe muito bem o limite do conhecimento dos seus alunos e vai direcioná-los para a melhoria no aprendizado.

O bom médico sabe detectar os pontos frágeis do organismo do seu paciente e fortalecê-los para que a saúde retorne.

Jesus, quando esteve entre nós, foi esse professor e médico perfeitos. Trouxe uma proposta de vida que ainda não vivíamos e não vivemos porque continuamos num planeta de provas e expiações lutando contra nossas imperfeições.

Muitas vezes o orgulho e a vaidade falam tão alto em nós mesmos que já gostaríamos de ser perfeitos e dessa atitude para o desânimo em prosseguir com o projeto de Deus para cada um de nós, a distância é muito curta e perigosa.

A solução para não desanimarmos talvez esteja na frase de Anselm Grün, monge beneditino alemão: A aceitação de si mesmo tem alguma coisa a ver com a humildade, com a coragem de aceitar sua própria humanidade.

Com Jesus como engenheiro, os Espíritos amigos como mestres de obra, sejamos o pedreiro humilde para executarmos a planta de Deus.     
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita