Obra inacabada
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua
transformação moral e pelos esforços que faz
para domar suas más inclinações.” – Allan
Kardec.
Podemos contratar o melhor arquiteto do mundo
para programarmos a planta da casa do nosso
sonho. É muito natural que, ao passar do papel
para a prática, alterações sejam necessárias
para aperfeiçoar a obra sem nenhum demérito a
ninguém. A perfeição vem exatamente pelo
exercício da prática. Por isso mesmo, na medida
em que a obra sai do alicerce para o
levantamento das paredes, é perfeitamente
natural que ideias para aperfeiçoar o projeto
surjam e sejam colocadas em execução.
Quando a Providência Divina projetou a nossa planta como
seres imortais, o projeto era perfeito, mas os
executores da obra, os pedreiros, vamos
assim dizer, encarregados de tirar a obra do
papel e colocá-la em execução, somos,
exatamente, cada um de nós.
Portanto, na medida em que vamos dando andamento
ao projeto, é muito natural que tenhamos que ir
fazendo alterações para o aperfeiçoamento da
obra em execução. Não, evidentemente, por erros
na planta original de Deus, que é
absolutamente perfeita, mas por erros nossos nos
cálculos que empregamos no andamento do projeto.
Kardec foi tão perfeito nas suas colocações que,
ao definir o verdadeiro espírita, deixou bem
claro que não se tratava de um ser perfeito, mas
sim de uma pessoa disposta pelos esforços
empregados a domar suas más inclinações.
Seria assim o pedreiro que, ao dar
andamento ao projeto de Deus, vai reconhecendo
as falhas na execução do projeto que corre por
sua conta e modifica os erros que comete para
ser fiel à planta do Criador.
Essas colocações são importantíssimas porque a
Doutrina Espírita possui um apelo intenso a
caminharmos em busca da perfeição, objetivo
maior para o qual fomos criados por Deus. E é
nessa proposta que reside o perigo se não
entendermos que somos um projeto em
execução e não uma obra acabada.
Por isso mesmo, a meu ver, a genialidade de
Kardec em não considerar o verdadeiro espírita
como um ser infalível, mas, sim, capaz de se
modificar para melhor.
Encontrar-nos-emos muitas vezes com nossos erros
na caminhada evolutiva que não devem servir de
desestímulo para continuarmos a dar
prosseguimento à planta original de Deus.
Ainda somos capazes de ofender? Evidentemente
que sim, mas com a orientação para modificarmos
o projeto para melhor.
Ainda somos capazes de abrigar o ódio dentro de
nós? Sem nenhuma dúvida, mas dispomos das
orientações necessárias para domar nossas más
tendências.
Em muitas ocasiões nos flagraremos em momentos
de intolerância, mas com os meios suficientes
para que o desânimo não seja o vencedor.
Não será de espantar ao nos depararmos com os
momentos de agressividade em nossas reações, mas
com a planta de Deus impressa em nossa
consciência para retornarmos ao bom projeto.
Todas as lições de Jesus nos mostram o objetivo
a ser atingido e não significa que já deveríamos
tê-lo atingido.
O bom professor, quando entra em sua sala de
aulas, sabe muito bem o limite do conhecimento
dos seus alunos e vai direcioná-los para a
melhoria no aprendizado.
O bom médico sabe detectar os pontos frágeis do
organismo do seu paciente e fortalecê-los para
que a saúde retorne.
Jesus, quando esteve entre nós, foi esse
professor e médico perfeitos. Trouxe uma
proposta de vida que ainda não vivíamos e não
vivemos porque continuamos num planeta de provas
e expiações lutando contra nossas imperfeições.
Muitas vezes o orgulho e a vaidade falam tão
alto em nós mesmos que já gostaríamos de ser
perfeitos e dessa atitude para o desânimo em
prosseguir com o projeto de Deus para cada um de
nós, a distância é muito curta e perigosa.
A solução para não desanimarmos talvez esteja na
frase de Anselm Grün, monge beneditino alemão: A
aceitação de si mesmo tem alguma coisa a ver com
a humildade, com a coragem de aceitar sua
própria humanidade.
Com Jesus como engenheiro, os Espíritos
amigos como mestres de obra, sejamos o pedreiro humilde
para executarmos a planta de Deus.