Interesse particular x necessidades
coletivas
A luta enfadonha e cansativa entre o interesse
exclusivamente particular e as necessidades coletivas,
estas sempre prioritárias, tem sido a tônica da vida
humana no mundo moderno.
O direito individual é sagrado, mas se submeterá ao
direito da maioria quando estiver em jogo a
sobrevivência, a segurança, o bem-estar e a felicidade
de todos os homens.
A solidariedade deve se sobrepor ao egoísmo. Não se pode
negar evidentemente o direito de cada um em buscar sua
realização pessoal, em todos os sentidos. Mas pode-se
perguntar: Até que ponto essa realização pessoal
interfere na realização do outro? Para chegar à “minha
realização”, o quanto eu “terei tirado” do outro com a
aprovação legal das convenções humanas?
Os códigos ético-morais de comportamento e convivência
têm relação com os níveis de desenvolvimento das
sociedades no tempo. Sua elaboração atende aos
interesses humanos e nem sempre está livre da
conveniência e da conivência. Por isso, é difícil para
muitas pessoas entenderem o que é um e o que são todos.
O poder e a força em tempos passados, as religiões, os
estudos teológicos, o direito, o pensamento filosófico,
em evolução, criam os padrões morais das civilizações. A
questão é que esses padrões morais são sempre formulados
“de fora para dentro”, com artificialismos e sofismas, e
em geral não levam em conta realidades fundamentais da
vida humana como a pré-existência da alma, sua
imortalidade e o seu retorno frequente ao cenário do
mundo em novos corpos. Um código de conduta moral que
considere esse conhecimento levará o homem à dignidade e
à elevação. O roteiro do Cristo propõe isso, mas os
homens raramente o seguem.
O Espírito reencarna e recebe a influência que o modelo
egoísta do mundo oferece. A questão 917 de O Livro
dos Espíritos informa: “Tudo concorre para entreter
essa influência: suas leis, sua organização social, sua
educação”. “É o contato que o homem experimenta do
egoísmo dos outros que o torna geralmente egoísta”.
Mas quando chega à maturidade, esse Espírito reencarnado
poderá perfeitamente (se receber estímulos e quiser)
mudar e contrapor-se ao estabelecido como socialmente
normal e com o que ele não concorda. Enxergando os
equívocos morais da sociedade e querendo não repeti-los,
criará sua própria forma de viver, segundo padrões que a
sua consciência exigir.
Compreendendo bem a finalidade da vida será mais fácil
aceitar que o mundo não gira em torno de nós, que
dependemos visceralmente dos outros para todas as
coisas, e que atingiremos a realização pessoal na medida
em que assumirmos na prática a conduta moral que
contemple a solidariedade, a fraternidade e a justiça.
“Desde todos os tempos e em todas as crenças o homem
procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal.
O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal
por base do direito do próximo”, diz O Livro dos
Espíritos, na questão 876.
Na questão 893 lê-se: “a sublimidade da virtude consiste
no sacrifício do interesse pessoal para o bem do
próximo”.
E quando Allan Kardec faz aos Espíritos a pergunta 895:
– Qual é o indício mais característico da imperfeição?,
ouve deles: – O interesse pessoal.
Possivelmente, o único interesse particular legítimo que
o homem possa ter será o de conhecer a si mesmo e
empreender todos os esforços para se melhorar
continuamente. Salvo esse, os demais interesses se
diluem nas necessidades coletivas.
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