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por Cláudio Bueno da Silva

 

Interesse particular x necessidades coletivas


A luta enfadonha e cansativa entre o interesse exclusivamente particular e as necessidades coletivas, estas sempre prioritárias, tem sido a tônica da vida humana no mundo moderno.

O direito individual é sagrado, mas se submeterá ao direito da maioria quando estiver em jogo a sobrevivência, a segurança, o bem-estar e a felicidade de todos os homens.

A solidariedade deve se sobrepor ao egoísmo. Não se pode negar evidentemente o direito de cada um em buscar sua realização pessoal, em todos os sentidos. Mas pode-se perguntar: Até que ponto essa realização pessoal interfere na realização do outro? Para chegar à “minha realização”, o quanto eu “terei tirado” do outro com a aprovação legal das convenções humanas?

Os códigos ético-morais de comportamento e convivência têm relação com os níveis de desenvolvimento das sociedades no tempo. Sua elaboração atende aos interesses humanos e nem sempre está livre da conveniência e da conivência. Por isso, é difícil para muitas pessoas entenderem o que é um e o que são todos.

O poder e a força em tempos passados, as religiões, os estudos teológicos, o direito, o pensamento filosófico, em evolução, criam os padrões morais das civilizações. A questão é que esses padrões morais são sempre formulados “de fora para dentro”, com artificialismos e sofismas, e em geral não levam em conta realidades fundamentais da vida humana como a pré-existência da alma, sua imortalidade e o seu retorno frequente ao cenário do mundo em novos corpos. Um código de conduta moral que considere esse conhecimento levará o homem à dignidade e à elevação. O roteiro do Cristo propõe isso, mas os homens raramente o seguem.

O Espírito reencarna e recebe a influência que o modelo egoísta do mundo oferece. A questão 917 de O Livro dos Espíritos informa: “Tudo concorre para entreter essa influência: suas leis, sua organização social, sua educação”. “É o contato que o homem experimenta do egoísmo dos outros que o torna geralmente egoísta”.

Mas quando chega à maturidade, esse Espírito reencarnado poderá perfeitamente (se receber estímulos e quiser) mudar e contrapor-se ao estabelecido como socialmente normal e com o que ele não concorda. Enxergando os equívocos morais da sociedade e querendo não repeti-los, criará sua própria forma de viver, segundo padrões que a sua consciência exigir.

Compreendendo bem a finalidade da vida será mais fácil aceitar que o mundo não gira em torno de nós, que dependemos visceralmente dos outros para todas as coisas, e que atingiremos a realização pessoal na medida em que assumirmos na prática a conduta moral que contemple a solidariedade, a fraternidade e a justiça.

“Desde todos os tempos e em todas as crenças o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo”, diz O Livro dos Espíritos, na questão 876.

Na questão 893 lê-se: “a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo”.

E quando Allan Kardec faz aos Espíritos a pergunta 895: – Qual é o indício mais característico da imperfeição?, ouve deles: – O interesse pessoal.   

Possivelmente, o único interesse particular legítimo que o homem possa ter será o de conhecer a si mesmo e empreender todos os esforços para se melhorar continuamente. Salvo esse, os demais interesses se diluem nas necessidades coletivas.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita