Suicídio, um penoso equívoco
De todas as almas sofredoras que povoam o mundo
espiritual inferior, arrastando consigo as sucessivas
tragédias em que transformaram a sua própria existência,
num acumular de enganos e frustrações, podemos, sem
estar muito longe da verdade, ter os suicidas entre
aqueles em quem as dores são mais acentuadas e difíceis
de suportar.
O maior crime, perante a nossa consciência, é o de
atentarmos contra a própria vida, destruindo o corpo que
nos foi dado como bênção sublime, planeado e estruturado
com todo o rigor, de modo a servir-nos na experiência
terrena e ser nosso grande aliado nas expiações, provas,
lições, aprendizagens, que nos deverão conduzir à
redenção de nós mesmos e ao crescimento espiritual.
Quando da preparação de cada reencarnação, visando
proporcionar-nos uma situação terrena que nos permita
superar as provas e dificuldades que tenhamos de
enfrentar, tudo é rigorosamente e cuidadosamente
planeado: os lugares que nos servirão de cenário, a
família que nos receberá, os companheiros que
encontraremos pelo caminho, para os mais diversos fins,
e com quem teremos algo a aprender… e, indubitavelmente,
o corpo que melhor servirá a esses fins. Diz Jesus que “o
corpo é o santuário do espírito”. O dom da vida é o
maior dom que Deus nos deu, dom esse do qual decorrem
todos os outros, porque são eles desenvolvidos ao longo
da vida, que tem de ser bem aproveitada para a reforma
íntima que objetivamos.
Ora, essa Vida que nos foi dada por Deus, jamais nos
será tirada. A partir do instante, do qual não mantemos
a mais pequena memória, mas que ficou nos confins dos
tempos, é eterna e ininterrupta. Vai-se desenrolando cá
e lá; cá, no plano físico, material, terrestre ou outro;
lá, no plano espiritual, seja em colônias, hospitais
espirituais, umbral, ou outra situação, sem o corpo
físico, mas sempre em companhia do corpo espiritual
(perispírito) e da consciência que nunca nos abandona e
serve de nível aos nossos atos e pensamentos. Não há
interrupções, nem intervalos entre duas vidas, porque,
simplesmente, Vida só temos uma, imortal e eterna. O que
temos são esses vários cenários em que ela se desenrola,
e a que chamamos existências. Há perfeita articulação
entre elas, porque somos um e apenas um, sempre, com
todo o peso do que acumulamos, quer de bem quer de mal.
É devido a esse fato inalienável que afirmamos que a dor
do suicida deve ser uma das maiores dores (se não mesmo
a maior) de quantos povoam as zonas de sofrimento, nos
planos extrafísicos. Imaginemos a frustração daqueles
que, pensando fugir dos problemas e aflições, através da
morte, chegam do outro lado e se veem tão vivos ou mais
do que estavam quando na Terra. Imaginem o medo e a
confusão, ao permanecer diante dos seus olhos a forma
como optaram terminar a vida, sem conseguir, com todo o
instrumental de que se serviram para o fazer, e com as
mesmas sensações dos instantes que pensavam ser os
últimos, mas que perduram, em geral, por muito tempo,
meses, anos, fazendo-os crer serem tais penas eternas.
Por que falam alguns Espíritos de dores eternas?
Simplesmente porque se veem em sofrimento há tanto
tempo, a juntar à falta de Fé e Conhecimento, ao ponto
de acreditarem mesmo serem dores irremissíveis.
Imaginemos ainda os que sentem, ouvem mesmo, o choro dos
que por cá deixaram, as lamentações, por vezes até as
acusações de abandono (já que na ânsia de fugir dos
problemas pessoais, muitas vezes deixam os familiares a
braços com a resolução do que não se sentiram aptos a
enfrentar). O sentimento de culpa, o arrependimento, a
certeza de que não valeu a pena porque, na realidade,
não há como pôr fim ao que é infindável, são, como
facilmente se deduz, um forte acréscimo de dor às que
procuraram, inutilmente, suprimir.
Será ainda importante acrescentar que, qualquer problema
que tenhamos numa dada existência, se não for prova
superada, terá de ser repetida noutra existência,
geralmente em circunstâncias agravadas. Por quê? Sendo o
corpo espiritual, ou perispírito, como o apelidou Allan
Kardec, o duplo do corpo físico, o revestimento natural
do Espírito, intermediário entre ele e o corpo
material/terreno, todos os danos que a este último
causarmos, são impressos no primeiro, e acompanham-nos
quando do regresso à vida física. Através dele,
perispírito, renascemos em condições que, muitas das
vezes, não entendemos, por não se situar a sua causa nos
erros que lembramos. Perdem-se, nesse caso, com as
impressões que transportamos de outras existências e que
ainda não logramos ultrapassar. Só através de uma nova
experiência física temos condições de empreender a
reforma de nós mesmos e expurgar os agravos que nos
impedem uma saúde física, mental, psicológica, em suma
espiritual, que podemos considerar ser a soma e
combinação de todas as outras, e que se traduz pelo
bem-estar, paz interior e equilíbrio que resultam da
consciência livre e consonante com as Leis Divinas.
É muito importante que saibamos reagir, face às inúmeras
dificuldades e entraves que vamos encontrando no
caminho. Ao reencarnar, sabíamos que não nos iríamos
deparar com facilidades. Ninguém reencarna como prêmio
de bom comportamento, antes pelo contrário, só
reencarnamos porque somos imperfeitos e porque
necessitamos dessa escola abençoada e desse hospital de
almas que é a Terra. Só pelo simples fato de estarmos
num mundo físico, e na Terra especialmente, como mundo
de provas e expiações que é, temos de esperar um justo
número de pedras e obstáculos naturais que devemos
superar. Mas temos de encarar a vida terrena como uma
bênção que a misericórdia do Pai nos concede e da qual
não nos podemos fazer desmerecedores, abandonando as
provas que nos reerguerão a mundos mais felizes.
Não estamos em condições de julgar ninguém. Devemos
abstermo-nos de o fazer. Não sabemos o que ia na alma de
cada um que, porventura, tenha tomado resolução tão
infeliz. Sabemos, isso sim, que a dor, o arrependimento,
a confusão, a necessidade de compreensão e amparo são,
com toda a certeza, enormes. São irmãos carenciados de
tudo. Careceram de fé, de esperança, de coragem.
Careceram, talvez, de uma palavra amiga, um
esclarecimento, que os fizesse sentir que não estavam
sós na sua dor. Careceram de apoio psicológico, médico,
religioso, que os tenha fortalecido e ajudado a seguir
em frente, até ao momento em que a dura prova fosse
superada e a hora da libertação deste mundo fosse
chegada. Careceram da certeza na vida futura,
espiritual, da crença absoluta na continuidade da vida,
que os teria impedido de tentar cortar-lhe o fio.
São muitos e variados os motivos que podem levar ao
suicídio: depressões, dificuldades financeiras, doenças
do foro psíquico, desânimo da vida, solidão, desgostos
diversos, muitas vezes até, obsessão espiritual de
entidades sofredoras ou vingativas com quem sintonizamos
e que, a certa altura, passam a dominar-nos. As razões
íntimas sabe-as quem sofre. E Deus que nos conhece
melhor do que nós mesmos. Só a Ele cabe julgar e adequar
os frutos à sementeira. Mas Deus jamais dá uma prova
maior do que a nossa capacidade de superação. Ao ter-nos
sido permitido planear um determinado padrão de vida,
com as consequentes dificuldades que daí adviriam, havia
grandes esperanças na nossa força e empenho, da parte
dos amigos espirituais que colaboraram nesse
empreendimento. Dispuseram-se a, ao longo da nossa
existência, estar ao nosso lado, amparar-nos, intuir-nos
ao bem, reforçarem em nós a vontade de nunca desistir.
No entanto, por mais firmes que tenham sido as nossas
resoluções, em contato com a matéria, recomeça a
tendência em buscar facilidades, não nos preparamos
suficientemente para uma vontade firme, não buscamos a
Fé esclarecida que nos poderia servir de couraça e, na
hora em que os maiores embates surgem, sentimo-nos
fracos e impreparados.
No momento atual da evolução terrena, temos vindo a
assistir a um acréscimo de dificuldades de todo o tipo.
É fácil de ver que o nosso mundo está a atravessar um
momento crucial e que nos estão sendo dadas
oportunidades cruciais, talvez as últimas neste estádio
evolutivo, de libertação dos erros e imperfeições mais
graves e que serão entrave à nossa permanência por aqui,
quando a Terra evoluir para mundo de regeneração. É hora
de mostrarmos a nós mesmos o que valemos e para onde
queremos conduzir os nossos próximos passos.
Evidentemente, isso é fator de acréscimo de dores,
dificuldades, obstáculos, revoluções naturais e não só,
que farão a Terra crescer e nos darão oportunidade de
crescer com ela. Infelizmente, temos assistido, mais do
que nunca, ao crescimento dos casos de suicídio. A
humanidade não se preparou convenientemente. Pensou
apenas no bem-estar material, no consumo, no prazer, no
prolongamento da vida física, sem a necessária
preparação espiritual. As facilidades trazidas pelas
conquistas da ciência e da tecnologia não foram
devidamente aproveitadas, não serviram, como deveriam,
para fazer-nos sentir a grandeza do Pai que a tudo
provê. Pelo contrário, criaram ateus e seres solitários
sem Deus nem crença espiritual. Tornamo-nos fracos e
desprotegidos.
Mas de nada serve ficarmos apenas pela lamentação dos
erros. É urgente uma mudança geral de atitude. Aos
espíritas, dada uma maior compreensão da vida e das
verdadeiras razões que trazemos ao ingressar na matéria,
deve caber o papel de, como trabalhadores da última
hora, não esconder a luz debaixo do alqueire, ou seja,
ser fonte de iluminação das almas que consigo cruzem os
caminhos da vida. Às vezes uma palavra de esclarecimento
ou um ouvido que sabe escutar os desabafos de dor do
outro, pode salvar uma vida. E a Prece. Nunca esqueçamos
o recurso valioso que é a Prece, quer pelos suicidas,
quer por aqueles que imersos em profundas dores, se
poderão sentir compelidos ao abandono de si mesmos, se
não tiverem quem os auxilie.
Deus não criou penas eternas, é infinito na Sua
misericórdia e permite, mais do que nos apercebemos, que
o intercâmbio entre nós e os que partiram se faça e lhes
sirva de alívio no meio do sofrimento. A prece é a
melhor maneira de os lembrarmos e lhes levarmos o
socorro que desejaríamos receber se estivéssemos em
circunstâncias semelhantes.
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