Numa tarde, uma mulher desesperada chegou ao escritório
e foi barrada pelo patrão de Chico Xavier no meio do
caminho. Para despachar a visita, ele garantiu que seu
empregado estava em casa. A mulher foi até lá e recebeu
a informação verdadeira: Chico estava no emprego.
Irritada, ela voltou à Fazenda e ouviu outra mentira: o
datilógrafo tinha saído a serviço. Após resmungar um
palavrão, desapareceu batendo os saltos no chão. À
noite, foi a primeira a entrar no Centro Espírita Luiz
Gonzaga. Nem pensou duas vezes. Avançou contra Chico
Xavier e encheu seu rosto de bofetões. Com a voz e as
mãos trêmulas, berrou:
– Está pensando que tenho tempo para andar atrás de você para
cima e para baixo? Vá já para aquela sala. Você vai me dar um
passe agora, cachorro.
Chico ficou paralisado. Não conseguiria ajudar ninguém.
Precisava estar calmo para transmitir energia positiva. Emmanuel
apareceu com mais um conselho:
– Converse com ela, mostre compreensão.
Ainda com o rosto ardendo, ele tomou fôlego e começou a se
desculpar:
– A senhora me perdoe por ser uma pessoa tão ocupada. Não pude
atendê-la em meu emprego porque meu chefe não permite. A senhora
compreende. Estou ali para servir à empresa que me paga. Não
posso ser demitido porque tenho irmãos para ajudar. A mulher
começou a chorar, Chico voltou ao normal e obedeceu à ordem.
Quando ela virou as costas, ele perguntou ao seu companheiro
invisível se não teve razão de ficar irritado.
– Você está com a razão, mas ela está com a necessidade –
disse-lhe Emmanuel.
Então, para se acalmar, ele se lembrou de um dos mandamentos
ouvidos de Emmanuel:
– Sua missão é formar livros e leitores. Formar leitores é
suportar suas exigências, sem censuras. Formar livros é se
esquecer de você [...].
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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