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por Vladimir Alexei

 

O espírita e Leymarie


Existem provas inequívocas no movimento espírita de que o espírita anda apressado em suas críticas a terceiros. Aliás, tais críticas nem deveriam existir para um espírita, no entanto, a força de velhos hábitos parece ser superior à proposta de mudança desses hábitos.

Não é a primeira vez que o movimento espírita interpreta estudos sérios, bem fundamentados, científicos e a partir daí faz inferências quanto à moral das pessoas.

Pintaram a “caveira” de Pierre-Gaëtan Leymarie no movimento espírita como se fosse o próprio “judas”. Quem, em sã consciência, se encontra em condições de atirar um “grão de areia” sequer, em direção a Leymarie, apontando-lhe as possíveis fragilidades? Se essa atitude – que equivale ao “olho por olho; dente por dente” – fosse uma prática verdadeiramente cristã, estaríamos quase todos em maus lençóis.

Observamos pessoas que praticaram o “beijão-mão”1 na Federação Espírita Brasileira durante muito tempo, criticando duramente o (des)serviço de Leymarie. A própria federação sempre foi um poço de incoerências com o seu secular roustainguismo, mandos e desmandos.

No passado, grandes polemistas brasileiros, como Carlos Imbassahy, jamais escreveram uma linha para criticar o “opositor”. Tanto que Carlos Imbassahy discutiu profundamente sobre o Espiritismo e as críticas formuladas pelos detratores, sobretudo com o Padre Álvaro Negromonte, sem nenhuma acusação pessoal, nem muito menos alusões de que estivesse o Padre movido por “obsessores”.

O movimento espírita perdeu a inteligência e o charme das discussões em torno da doutrina e passou a adotar críticas pessoais agressivas, destemperadas e inconsequentes.

De fato, comentar e conversar com um amigo mais estreito sobre as incongruências do movimento espírita não só é válido, quanto é necessário, até para que um auxilie o outro a não cair nas esparrelas proporcionadas pelos problemas de relacionamento existentes no movimento espírita. Sim, os espíritas também têm problemas de relacionamento!

Evidentemente que, ao expor essas fragilidades, não nos colocamos na condição de quem não as praticou e de quem é isento. De forma alguma. Talvez hoje, um pouco amadurecido e decepcionado pelas relações no movimento espírita, consiga falar o que incomoda muitas pessoas. Com isso, não estamos dizendo que Leymarie não tenha feito nada errado. Existem indícios de que talvez pudesse ter conduzido um processo de atualização doutrinária. Mas não há indícios, e mesmo que houvesse, para se falar sobre a moral de Leymarie como se as pessoas que o criticam na moral, fossem diferentes dele ou de qualquer um de nós.

Dessa forma, instituições seculares aproveitam tais sandices do movimento espírita para colocar as “manguinhas de fora”, na tentativa de obnubilar erros do passado que comprometeram profundamente a divulgação doutrinária.

Mas então, qual a diferença entre não falar mal de um espírita e criticar uma instituição? A crítica a uma instituição não é a crítica à moral dos seus profitentes. Os erros de divulgação de uma instituição refletem o nível de conhecimento e concordância com a linha estratégica adotada para divulgar a doutrina espírita. O que cada um fez ou faz de esforço para mudar isso, ou para insuflar os problemas vivenciados pelo movimento espírita, é de foro íntimo, e nem deveria ser questionado.

Por isso, entendemos que há muita gente ocupada em explicar “fatos históricos” (entre aspas porque nem sempre são fatos), e pouca gente preocupada em esclarecer a respeito do Espiritismo, ainda mais em tempos tão bicudos como os atuais.

Fora a reedição da religião formal que fracassou moralmente com a humanidade em sua tentativa de hegemonia, o que o movimento espírita tem feito de diferente que justifique ser o Espiritismo o recurso que projetará Luz em nossa jornada rumo ao Cristo?

Enquanto isso, acho que seria de bom tom mudarem o discurso quanto aos erros cometidos por aqueles que de alguma forma tentaram fazer algo, além do policiamento doutrinário. Mas este texto não seria também um policiamento doutrinário? Doutrinário não porque não se discute doutrina. Policiamento no sentido de vigilância, de fazer patrulha absolutamente. O que fazemos é um protesto educado quanto a práticas que são desnecessárias, nos posicionando, mesmo que isso não agrade. “Morno” não somos.

 

1 Beija-mão: tradição de reverência a personalidades eminentes, praticada em várias culturas desde tempos remotos. Na cultura lusófona suas origens são medievais, sendo um costume da monarquia portuguesa em Portugal depois herdado pela corte imperial brasileira. (...) Fonte: Wikipedia


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita