Carta ao Saulo
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda
quando for velho não se desviará dele.”
(Provérbios, 22:6.)
Quando me diz: ‘Vovô, eu te amo!’, respondo-lhe terna,
carinhosamente, envolvendo-o num abraço: ‘O vovô o ama
muito mais!’
Hoje foi dia particularmente feliz para seus avós.
Fizemos-lhe companhia em seu segundo dia de ida à
escola, aos dois anos e vinte e dois dias de vida.
Ao confiá-lo às professoras, despedimo-nos de você, para
que se adapte às novas experiências que viverá nessa
fase de aprendizado.
Verá um mundo novo, pleno de coisas a aprender e de
outras a evitar.
Sua avó, muito atarefada, lá nos deixou – porque, sem
que você soubesse, ali permaneci de plantão, pronto a
oferecer-lhe a presença, o afeto, numa eventual
dificuldade, que não se apresentou. Você se houve muito
bem, ocupando-se de sucessivas atividades que as
professoras habilmente lhe ofereciam e a seus
coleguinhas.
Permaneci em sala à parte, juntamente com várias mamães
apreensivas, uma delas acompanhada do esposo.
Uma jovem professora recebeu-nos, oferecendo-nos folha
em branco, para que anotássemos nossas expectativas a
respeito da Escola, o que esperávamos dela sobre a
educação de nossas crianças.
Em seguida, exibiu-nos o belo filme ‘Uma Lição de Amor’,
com Michele Pfeiffer e Sean Penn. Demonstra, o filme,
que o amor é insubstituível na educação dos filhos.
Ali entre aquelas mães, era alguém plenamente calmo,
confiante, por saber que a evolução nos chega através de
pequenas e contínuas mudanças. A receptividade a elas, o
amor ao estudo, a disposição de fazer o melhor, tudo
isso pode acelerar nosso crescimento para Deus, objetivo
máximo de nossa passagem pela Terra.
Por experiência pessoal, bem sei que levamos a escola
das primeiras letras para a vida toda. Ela é, pois,
sumamente importante.
E nos tornaremos eternos alunos, interessados em
aprender sempre, ou não. Somos criaturas em evolução e o
campo do Saber é infinito.
Tornar a criança receptiva ao aprendizado é a mais nobre
e digna das missões, na Terra. Exige talento e arte,
além de muito amor, doação e desprendimento.
-.-
Breves considerações sobre educação e instrução podem
aclarar questões sobre o tema:
Educar (latim educare - ex ducare) = ex (para
fora); ducare (puxar, tirar). Educar: tirar para fora.
(Extrair, explodir). “Educar é tirar do interior.”
(1)
Platão dizia que “Aprender é recordar-se!”
Instruir é diferente de educar. Instruir (latim
instruere) = ajuntar; amontoar; ajuntar dentro.
Eis precioso exemplo, que bem esclarece essa diferença:
“O doutor fulano é um animal”. Ou seja, é instruído,
pois tem um diploma, mas é mal-educado.
“É preciso não confundir instrução com educação.
(...) A instrução relaciona-se com o intelecto: a
educação com o caráter. Instruir é ilustrar a mente com
certa soma de conhecimentos sobre um ou vários ramos
científicos. Educar é desenvolver os poderes do
Espírito, não só na aquisição do saber, como
especialmente na formação e consolidação do caráter.”
(2)
“O que se dá é que geralmente se imagina que o ser bom,
justo e verdadeiro; o ser probo, sincero e amorável, não
requer aprendizagem”, como assinalou belamente o Prof.
Pedro de Camargo, no livro O Mestre na Educação. 2 ed.:
FEB: 1977, p. 21.
“Educar é desenvolver progressivamente as faculdades
espirituais do homem”, disse Pestalozzi, considerado
Educador da Humanidade.
“A instrução é mais especialmente a aprendizagem da
ciência, a educação é a aprendizagem da vida; a
instrução desenvolve e enriquece a inteligência, a
educação dirige e fortifica o coração; a instrução forma
o talento; a educação, o caráter. A missão da educação é
mais elevada, mais difícil a sua arte.” (3)
-.-
Assim, como alguém interessado na sua felicidade e na de
todos os seres humanos, espero que, na escola e no lar,
você aprenda:
- A desenvolver a inteligência emocional;
- A cooperar, a trabalhar em grupo;
- A ser fraterno e a respeitar o outro;
- A amar as professoras (e a orar por elas);
- A ser cordial: a dizer ‘por favor’, ‘obrigado’, ‘bom
dia’;
- A amar a natureza;
- A amar a vida e a Deus;
- E, por fim, que também aprenda a ler e a escrever...
Claro que essa aprendizagem será compartilhada por seus
pais, e por todos aqueles que o amamos. Pois há coisas
que se aprende é no lar, essa oficina de amor. É a
chamada educação de berço. A escola pode desenvolver
certas virtudes, mas sua aquisição se faz é na família.
Que seja instruído, mas sobretudo educado; que aprenda a
pensar, a amar, a ser útil a si e aos semelhantes,
desenvolvendo todo seu potencial de crescimento.
Afinal, que aprenda a ser feliz, e que contribua para a
felicidade do maior número de pessoas!
Estes são, querido Saulo, os reais anseios do vovô que o
ama e quer que viva em plena Paz, construindo um mundo
mais humano, mais fraterno, efetivamente cristão!
Bibliografia:
1. CAMARGO, Pedro (Vinícius). Na Seara
do Mestre, 4ª ed., FEB, p. 170, 1979;
2. Palestra de José Raul Teixeira,
Professor de Física e expositor espírita;
3. A. Cochin, citado no vol. I, do livro
“Allan Kardec”, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, p.
140, 3ª ed. FEB.
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