Amar-se
para se
superar
O Evangelho segundo o Espiritismo, no seu
capítulo XI, item 10, nos traz uma afirmação fantástica
a respeito do amor. Sansão diz: "Meus caros
condiscípulos, os Espíritos aqui presentes vos dizem por
meu intermédio: amai muito, a fim de que sejais também
amados". E essa afirmação da espiritualidade é um
compromisso para conosco, reafirmando que tudo que
dermos aos outros receberemos. Não necessariamente na
mesma hora e da mesma pessoa.
No livro Fundamento da Reforma Íntima, publicado pela
Casa Editora O Clarim, o bandeirante do Espiritismo,
Cairbar Schutel, nos informa que reforma íntima é um
processo de reeducação espiritual e não de repressão, já
que somos um Espírito imortal que já reencarnou inúmeras
vezes, e que traz em si uma bagagem espiritual que
moldou a nossa maneira de ser.
André Luiz, no livro No Mundo Maior, nos fornece mais
detalhes sobre como isso funciona. No capítulo A Casa
Mental, o médico, que agora é aprendiz, narra a conversa
que tem com seu mentor, Calderaro, onde esse compara
nosso cérebro, tanto o físico como o espiritual, a um
castelo de três andares. O primeiro andar do castelo, no
sistema nervoso, seria o Subconsciente, arquivo de todas
as nossas atividades de todas as nossas existências,
desde os menores fatos. No segundo andar, no córtex
motor, seria o Consciente, onde se localiza o hoje,
nossas conquistas atuais e a capacidade de mudar de
direção. Nos lobos frontais, o que o mentor de André
Luiz chamou de Superconsciente, terceiro andar do
castelo, de acordo com a metáfora utilizada, seria a
parte mais sublime do nosso ser, onde estariam as
sementes do ser divino que somos, a sentinela do certo e
do errado, nossa consciência. Nesse mecanismo
fantástico, temos em nós o ontem, o hoje e o amanhã.
Vale ainda lembrar que o pai da psicanálise, Sigmund
Freud, vislumbrou essas verdades, limitando-se ao útero
materno e chamando esses "andares do castelo de André
Luiz" de id, ego e superego. Repressão, portanto, seria
uma não aceitação do que somos. E como seria possível
mudar aquilo que não aceitamos que existe em nós?
Na questão 115 de O Livro dos Espíritos vamos
entender que Deus nos criou simples e ignorantes. Ele
nos deu o livre-arbítrio e nos ama incondicionalmente.
Mas em nossa jornada evolutiva não nos utilizamos da
máxima do Cristo: "Não julgueis, para que não sejais
julgados (pela própria consciência). Alguém poderá
dizer, se for literal, que reencarnamos muitas vezes
antes da vinda de Jesus ao plano físico pela última vez.
E o dirá com razão. Mas nenhum espírita poderá dizer que
reencarnamos sem o devido preparo, que nos é oferecido
na erraticidade, já que Deus fez da reencarnação uma lei
que nos permite evoluir. Mas jamais nos jogaria num
mundo de provas e expiações sem que tivéssemos condições
de vencer essas provações, como nos afirma também André
Luiz no livro Missionários da Luz.
E, assim como rotulamos as pessoas, somos, pela nossa
consciência, rotulados. Deus apenas ama. Colhemos,
assim, na forma de falta de amor e respeito próprio,
todo desamor e desrespeito que distribuímos pelas nossas
existências.
Mas como voltar para a rota de luz? Mais um rótulo,
aliás, pois para Deus somos Espíritos sem conhecimento
ou ignorantes, apenas, como podemos extrair do item "a"
da questão 361 de O Livro dos Espíritos: "Seguir-se-á
daí que o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito
e o homem vicioso a de um Espírito mau? Sim, mas, dize
antes que o homem vicioso é a encarnação de um Espírito
imperfeito, pois, do contrário, poderias fazer crer na
existência de Espíritos sempre maus, a que chamais
demônios”.
Para voltar para a rota de luz vamos ter que começar nos
amando e nos respeitando tanto que o nosso autoamor
transborde e se torne natural amar e respeitar nossos
semelhantes. Tudo aquilo que não aceito em mim, não
consigo aceitar no meu próximo. Tudo aquilo que julgo e
condeno em meus semelhantes volta para mim em forma de
autopunição e cria-se um círculo vicioso ou um loop
infernal de tortura a nós mesmos. Mas que não é um loop
infinito, pois somente o amor o é.
Quebramos esse círculo com autoaceitação, com autoamor,
que jamais poderá ser confundido com egoísmo, com
arrogância. Autoamor é a consciência do que somos e de
tudo que poderemos ser, do nosso potencial divino. É
enxergarmos nossas qualidades com alegria e ao mesmo
tempo sem afetação. Enxergar nossos defeitos sem nos
orgulharmos deles, mas com leveza e extraindo lições. É
permitir que a voz do mestre ecoe em nossa alma, apenas
nos lembrando: "sois deuses". Enquanto que egoísmo e
arrogância são uma identificação funesta com o que
estamos em detrimento do que somos, de nossa essência.
Toda vez que tivermos, então, que fazer uma escolha, que
medir alguma situação do nosso dia a dia, nossa ou
alheia, usemos o metro do amor. Diante das provas
diárias que nos convidam a crescer, respiremos e
lembremo-nos de que Jesus disse: "vós sois deuses.
Podeis fazer tudo que faço e muito mais". Mas como o
espírita não apenas lê, ele estuda, não nos esqueçamos
de que a afirmação é "sois", e não "és". Portanto, somos
todos nós, e não apenas eu. E somos potencialmente
deuses. Não fomos criados prontos, o toque final depende
de nosso comprometimento. E que o cinzel que esculpe a
obra de arte que somos está em nossas mãos.